A República Democrática do Congo enfrenta um novo surto de ebola, informou a OMS (Organização Mundial da Saúde) nesta segunda-feira (1). Foram detectados seis casos de infecção pelo vírus, em Mbandaka, na província de Équateur, no oeste do país. Dos infectados, três tiveram diagnóstico confirmado, outros três são casos suspeitos. Quatro pessoas morreram.
O país ainda passa por outro surto da doença en três províncias, mas este já está em fase final. Além disso, o continente africano também tem casos de covid-19. A República Democrática do Congo tem oficialmente 3.195 casos e 72 pessoas mortas.
O novo surto de ebola no país não tem nenhuma relação com a pandemia de covid-19, de acordo com o infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.
Entretanto, a doença causada pelo vírus ebola tem uma letalidade que varia entre 25% e 90%, proporção muito maior que a da covid-19, que fica em torno de 4%.
“As pessoas com ebola ficam muito debilitadas e permancem em casa, o período de incubação [tempo decorrido entre o exposição ao vírus e o aparecimento de sintomas] é muito rápido. O vírus está lá, mas você consegue identificar, não existe caso assintomático”, descreve o infectologista.
O ebola não é transmitido antes da manifestação dos sintomas, que incluem febre alta, dores pelo corpo, fraqueza, diarreia e sangramentos, com quadro de hemorragia pelo nariz e insuficiência de órgãos.
O vírus ebola atinge todos os órgãos, principalmente figado e rim. Já o coronavírus, por ser respiratório, tem como alvo os pulmões. Ele pode se espalhar para outros órgãos e causar falência múltipla, mas isso é raro. Como se sabe, 80% dos casos são leves e muitos não têm sintomas.
“No caso da covid-19, existem pessoas que foram infectadas pelo coronavírus, mas não tiveram sintomas da doença e podem contagiar outras pessoas mesmo assim”, compara Gorinchteyn.
Além disso, o novo coronavírus pode ser transmitido por meio de aerossóis, pequenas partículas líquidas contaminadas que ficam suspensas no ar, algo que não acontece com o ebola. Esses fatores tornam a disseminação do coronavírus “muito mais intensa”, pondera.
“Quem corre mais risco [de contágio por ebola] são as pessoas que vão entrar em contato com doentes, como os cuidadores”, afirma o especialista.
Isso acorre porque a transmissão se dá pelo contato com sangue e secreções corporais (saliva, lágrima, urina, fezes, sêmen) de animais e pessoas infectadas ou pelo toque em superfícies contaminadas.
A forma de contágio é justamente o que faz com que a doença fique restrita a determinados territórios e se manifeste principalmente na África. “Isso acontece em aldeias dentro da selva, porque os vetores estão lá, então acaba dificultando a disseminação rápida, como aconteceu com o coronavírus”, compara Gorinchteyn.
Na África, é provável que os surtos comecem quando pessoas têm contato ou manuseiam a carne crua de chimpanzés, gorilas infectados, morcegos, macacos e porcos-espinhos encontrados doentes ou mortos ou na floresta, segundo o Ministério da Saúde.
O morcego também é considerado um dos possíveis hospedeiros naturais do novo coronavírus. Nesse caso, o hospedeiro intermediário – responsável por passar o vírus para humanos – seria o pangolim, mamífero que está em extinção.
As duas doenças não têm tratamento e podem ser diagnosticadas por meio de testes sorológicos.
R7