Quando o assunto é a saúde da pele, o simples aparecimento de uma pinta ou sinal escurecido já é motivo de alerta: este é um dos sintomas comuns do melanoma, o tipo mais agressivo de câncer de pele. O tumor, embora pareça inofensivo, pode se alastrar para os nódulos linfáticos, ossos e atingir órgãos como cérebro, pulmões e fígado. No Brasil, o Inca (Instituto Nacional de Câncer) estima que serão diagnosticados cerca de 6.000 casos da doença até o final de 2017.
O médico oncologista especialista em melanoma do Hospital Sírio Libanês e do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), Rodrigo Munhoz, explica que o melanoma é um tipo de câncer de pele caracterizado pelo crescimento anormal dos melanócitos — células responsáveis pela produção da melanina, que dá cor e pigmentação à tez.
Na maioria das vezes, as manifestações são pintas ou manchas escuras no corpo. “Quando o tumor se encontra em estágio mais avançado, essas pintas apresentam características como diâmetro superior a 6 mm, assimetria, bordas irregulares, mudança na aparência da lesão — que pode alterar de cor e tamanho — e complicações como sangramento e coceira”, pondera o médico.
O único jeito de detectar a doença precocemente é com visitas periódicas ao dermatologista para avaliações gerais — já que, em estágio inicial, o tumor parece uma mancha natural da pele. Ao identificar uma lesão suspeita, os especialistas solicitam a realização de uma biópsia e, se necessário, a remoção das pintas.
Tratamentos modernos
Hoje em dia, entre 15% e 20% da população com melanoma tem o câncer detectado em estágios mais críticos, afirma o especialista do Hospital Sírio Libanês. “Felizmente, essas pessoas vivem três vezes mais do que teriam chances de sobreviver algumas décadas atrás. Isso se dá graças ao melhor entendimento genético do câncer e aos progressos nas pesquisas científicas”. Boa parte dos avanços diz respeito aos tratamentos mais modernos, que envolvem ferramentas chamadas de imunoterapia e terapia-alvo.
— São novas drogas que revolucionaram o cenário dos pacientes com melanoma avançado. Na década de 90, de 25% a 35% dessas pessoas continuavam vivas em 12 meses. Hoje, esse número saltou para perto de 75%. Além disso, um quarto dos pacientes diagnosticados atualmente permanecem vivos após cinco anos.
O oncologista da Oncoclínica — Centro de Tratamento Oncológico do Rio de Janeiro, Cristiano Guedes, aponta que, na terapia-alvo, os medicamentos atacam apenas as células do tumor, preservando as sadias. Já no caso da imunoterapia, os remédios — no Brasil, as drogas já aprovadas pela Anvisa levam os nomes de nivolumab, pembrolizumab e ipilimumab — agem “despertando” o sistema imunológico do indivíduo para a presença do melanoma. Desta forma, o próprio organismo passa a reconhecer e combater as células cancerígenas.
Em ambos os tratamentos, os efeitos colaterais — que envolvem fadiga, dermatite, irritação da pele e diarreia — são brandos em relação à tradicional quimioterapia. A qualidade de vida do paciente também é beneficiada, completa Munhoz.
— O que se vê, com essas novas drogas, é a possibilidade de controle sustentável da doença em mais de cinco anos após o diagnóstico. Com a quimioterapia, nós conseguimos reduzir o melanoma de forma significativa em 10% dos pacientes. Mas essa quimioterapia, ainda que permita a redução do câncer, nunca se comprovou que ela consiga efetivamente fazer os pacientes com melanoma avançado viverem mais.
A opção entre imunoterapia ou terapia-alvo — as ferramentas ainda não são utilizadas de forma conjunta pela medicina oncológica —, geralmente, é feita com base em exames solicitados pelo especialista. “Como as terapias atuam em alvos específicos dentro de genes, é fundamental que o paciente, ao receber o diagnóstico, realize também um teste genético. Só assim o tratamento mais efetivo pode ser prescrito”, ressalta o médico do Sírio Libanês.
Cenário nacional
No Brasil, imunoterapia e terapia-alvo começaram a ser usados com mais frequência nos tratamentos contra o câncer desde 2011, pondera Munhoz. As ferramentas, entretanto, são restritas aos pacientes da rede privada de saúde.
— O fator limitante no Brasil, hoje, é que essas drogas não estão disponíveis pelo SUS [Sistema Único de Saúde], e isso é algo que preocupa os médicos. A única forma, por enquanto, de disponibilizar essas tecnologias para uma maior parte dos pacientes é por meio dos protocolos de pesquisa em universidades.
Prevenção
De acordo com os especialistas ouvidos pelo R7, tão importante quanto o diagnóstico precoce do câncer de pele é a prevenção contra a doença. Nesse sentido, não há medida mais efetiva do que a proteção contra os raios solares — que precisa ser feita com protetores de fator 30, ressalta Munhoz. A exposição direta ao sol em horários entre 10h e 16h deve ser especialmente evitada.
— A verdade é que não existe exposição solar que seja plenamente segura. É importante ainda reforçar que esses cuidados com a pele devem ser tomados desde os primeiros anos de vida. Um estudo americano já mostrou que, em uma população com mais de 100 mil mulheres brancas, aquelas que sofreram queimaduras solares graves entre 15 e 20 anos de idade apresentaram risco 80% maior de desenvolver melanoma.
Vale ainda prestar atenção a outros fatores de risco: segundo os médicos, pessoas com pele clara, olhos claros, com muitas sardas ou pintas e cabelos loiros ou ruivos têm maior predisposição ao desenvolvimento da doença. Aqueles que já tiveram tumores ou lesões pré-cancerosas na pele ou que têm antecedentes familiares de melanoma também devem estar sempre atentos.
R7