Desde o início deste ano, o Brasil já confirmou 1.053 casos de sarampo, segundo o Ministério da Saúde. Mais de 4 mil casos continuam em investigação. É o maior número de casos em 20 anos.
O último grande surto no Brasil foi registrado em 1997, quando 53.664 pessoas adoeceram por causa do sarampo. Em 1998 foram confirmados 2.781 casos. Nos anos seguintes, o número de manteve abaixo de mil, com destaque para 1999 que teve 908 casos, e 2014, quando foram registrados 876 casos.
Nesses 20 anos, o Brasil teve períodos sem o vírus. Em 2004 nenhum caso foi registrado. O mesmo aconteceu entre 2007 e 2009. Depois de registrar 214 casos em 2015, em 2016 não houve notificações e o país recebeu o certificado de área livre de sarampo. Mas a boa notícia durou pouco. Depois de passar 2017 sem registros, 2018 começou com os primeiros casos confirmados em Roraima.
De acordo com a infectologista Rosana Richtmann, membro do Comitê de Imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia, os primeiros casos da doença no Brasil são considerados importados, mas, em pouco tempo, a transmissão já passou a ser doméstica, ou autóctone, como é chamado o contágio de pessoa para pessoa dentro da mesma região.
“O vírus voltou ao Brasil com os refugiados que vieram da Venezuela, mas, a partir do momento em que as pessoas passaram a transmitir o vírus de uma para a outra dentro do país, os casos de sarampo deixaram de ser importados e passaram a ser autóctones”.
Entre os casos confirmados este ano, a maioria foi registrado na região Norte: 742 no Amazonas, 280 em Roraima, 2 no Pará e 1 em Rondônia. Mas o vírus já começou a se espalhar pelo país. Outros Estados que confirmaram casos foram o Rio de Janeiro (14), o Rio Grande do Sul (13) e São Paulo (1).
O Estado do Amazonas, líder do ranking, não registrava casos desde o ano 2000. Roraima registrou apenas um caso em 2015, antes disso, tinha registrado 22 casos em 1998.
A infectologista faz um alerta: depois de tanto tempo sem circular, existe o risco de o vírus continuar migrando para outros Estados se a população não responder ao chamado para se vacinar.
“A vacina é a única forma de evitar a doença. O sarampo é uma doença altamente contagiosa, se o vírus chega em uma cidade onde as pessoas não estão vacinadas, a chance de ele se espalhar e contaminar muita gente é grande, por isso as pessoas precisam se vacinar, para evitar que isso aconteça”.
Rosana também destaca a importância de as equipes de saúde conseguirem identificar os casos de sarampo precocemente e fazer a notificação. A partir disso, o Ministério da Saúde pode fazer as ações de bloqueio, ou seja, refazer o caminho da pessoa infectada e verificar se quem teve contato com ela está doente ou se já foi vacinado.
“Se a pessoa viajou de avião, as equipes de saúde precisam ir atrás de todos que estavam no voo para ver se essas pessoas se vacinaram ou se tiveram a doença. Quem não foi vacinado vai receber uma dose, é a vacinação de bloqueio”, diz.
A infectologista também explica que se vacinar agora também significa evitar que o vírus volte a agir nos próximos anos. “Imigração sempre vai existir, turismo também, a circulação do sarampo na Europa, por exemplo, ainda é grande. Se a população do Brasil estiver vacinada, mesmo que as pessoas viagem ou imigrem, o país vai estar protegido”.
Crianças são foco da campanha de vacinação
A campanha nacional de vacinação contra o sarampo e a poliomielite que começa na próxima segunda-feira (6) tem como público-alvo crianças entre 1 e 4 anos.
De acordo com a infectologista, vacinar adultos é importante, mas vacinar crianças é fundamental por três motivos. O primeiro é que elas são o que a médica chama de “terroristas biológicos”, capazes de transmitir o vírus com maior facilidade e por mais tempo. Além disso, quando são infectadas, as crianças podem evoluir mais rápido para quadros graves da doença e possuem menor chance de já ter tido algum contato com o vírus, o que ajuda a criar anticorpos.
“Os adultos, ou já tiveram a doença, ou já foram vacinados em algum momento da vida. Já tiveram contato com o vírus porque algum amigo ou parente pegou sarampo, por isso a chance de um adulto ser imune à doença é maior”, explica.
Mas isso não significa que adultos não precisem se vacinar. Para estarem completamente protegidas, segundo o Programa Nacional de Imunizações, crianças com mais de um ano e adultos até 29 anos devem ter tomado duas doses da vacina. Adultos com 30 anos ou mais são considerados protegidos com uma dose.
Campanha começa neste sábado em São Paulo
O Estado de São Paulo antecipou a campanha, que será iniciada neste sábado (4). Como o público-alvo são as crianças, os adultos só poderão tomar a vacina durante a semana. O sábado será exclusivo dos pequenos – 1 a 4 anos.
Até o momento, São Paulo registrou 1 caso de sarampo, segundo o Ministério da Saúde. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, o contágio aconteceu fora do Estado e, portanto, é um caso importado.
Segundo a pediatra Helena Sato, diretora técnica de imunizações da secretaria, existe a possibilidade de o vírus se espalhar pelo Estado. “No entanto, considerando as campanhas de vacinação feitas desde ano 2000, temos elevada população de paulistas já vacinados, o que pode deixar a região fora do surto”, afirma.
Em 1997, quando o Brasil enfrentou o grande surto de sarampo, São Paulo registrou 42.058 casos. No ano seguinte foram 268; e em 1999, 169 casos. Depois disso, o ano com o maior número de pessoas infectadas foi 2011 que registrou 27 casos. Antes de 2018, o último caso registrado em São Paulo foi em 2015.
“A gente não pode baixar guarda, precisamos atingir a meta da campanha, que é vacinar 95% das crianças e vacinar os adultos que ainda não estão protegidos”, afirma.
R7