Por Chico Araújo*
Pensar em quando começa a crise no Esporte Clube Bahia e vamos voltar a 2020. Com a saída do volante Flávio, o verdadeiro pitbull – Gregore era muito bom volante, mas rendia mais com um cabeça de área mais pegador jogando ao seu lado -, o tricolor acabou sofrendo na campanha final daquele ano e enfrentou um ano de total sofrimento em 2021.
Inventaram um tal time de transição, formado com sobras de outros times que rendeu praticamente nada, a não ser raiva nos campeonatos baianos.
Ao tempo em que o time descia a ladeira, a diretoria subia no pedestal. Ainda na era Roger Machado, virou referência nacional nas campanhas sociais. O Bahia defendeu com maestria mulheres, nativos, afrodescendentes, GLBT’s. Fez o seu papel além do clube esportivo. Chamou a atenção da mídia nacional para temas importantes. Lacrou.
O presidente Bellintani ganhou projeção, menos pelo futebol que o time apresentava, e mais, pelas campanhas sociais. Lacrou!
Só que um clube de futebol não pode viver apenas de lacração. Seu objetivo principal é o esporte jogado entre as quatro linhas. É vencer. Ganhar títulos. Claro, o papel social não deve ser deixado de lado. Mas, deixar um time de futebol sem um especialista em futebol durante quase 100 dias…? Não se preocupar em substituir bem, atletas que vinham fazendo bem suas funções, ou mesmo ter na base ou no banco de reservas jogadores que possam entrar, no lugar de Nino Paraíba, por exemplo, e cumprir mediamente a função…?
Bem, o que está acontecendo com o Bahia é a falta de um Plano B. A falta de visão no futebol. A soberba de um presidente “lacrativo”, competente como gestor administrativo, mas extremamente incompetente no que é o objetivo principal de um clube de futebol… o futebol.
O Bahia tem uma torcida maravilhosa – a maior do Nordeste; tem um excelente centro de treinamento; tem a melhor arena do Estado para atuar; tem história; título nacional… Mas não tem competência para gerir o futebol.
Na partida diante do Sport, no sábado (05) ficou clara a falta que faz de um zagueiro mais experiente; de um volante no estilo frente de zaga para matar as jogadas adversárias ainda no berço; a falta de um Plano B do técnico – aliás, técnicos brasileiros não têm sequer Planos A’s bem elaborados.
Hoje não se treina tática, formação coletiva, cobrança de falta… de vez em quando todos se copiam, como nas irritantes saídas de bola com toquinhos na defesa (repetidas por todos os clubes e que matam torcedores de susto); nas antigas cobranças de escanteio com dois jogadores trocando passes… ou mesmo em estilos como o tiki-taka espanhol (acho que é assim que se escreve) que tentou se implantar, sem sucesso, no Brasil.
Bellintani, esqueça a lacração! Vá ao mercado buscar um diretor de futebol que entenda do traçado. Alguém que possa repensar a divisão de base… Tenta salvar pelo menos um dos objetivos do ano – era voltar para a Série A, mas está se transformando em não cair para a Série C – Por que não contratar um olheiro profissional que corra o Estado, o Nordeste, acompanhado campeonatos de várzea e fazendo seleções com garotos sem oportunidade? Bellintani, esqueça os amigos. Eles podem ser amigos, mas nem você, nem eles, entendem de futebol.
*Chico Araújo é Jornalista e Editor do Diga Bahia