Alison Ettel nunca fumou maconha por diversão, mas ela quer dar cannabis para seu cachorro.
Por quê? Alison é diretora da TreatWell Health, uma empresa da Califórnia, Estados Unidos, que está produzindo remédios a base de maconha para seres humanos – e seus cachorros.
Seus concorrentes incluem Treatibles, que vende óleo de maconha para animais de todos os tipos, e Pet Releaf, cujos produtos a base de maconha parecem chiques petiscos veganos.
Pode parecer loucura, mas à medida que mais Estados americanos legalizam o uso recreativo de cannabis, sua aplicação em bichos de estimação é um nicho de mercado que está crescendo.
Grupos veterinários estão cautelosos, na melhor das hipóteses. Mas um número crescente de donos de cachorros dizem que a droga diminui a ansiedade dos bichos e alivia casos de dor crônica.
Em primeiro lugar, a resposta à dúvida principal: não, os bichos não estão fumando. Nem comendo maconha bruta.
As formas humanas de usar cannabis podem ser tóxicas para cachorros. Por isso, as empresas estão produzindo petiscos, óleos e cremes tópicos a base de extrato de cannabis.
Alguns usam maconha, mas a matéria-prima mais frequente é o cânhamo. Ambas são cannabis, mas enquanto a maconha é mais consumida para fins recreativos devido seus altos teores de THC (substância psicoativa encontrada na cannabis), o cânhamo tem mais aplicações industriais, já que tem baixo TCH e alto cannabidiol (substância que, de acordo com estudos, pode reduzir inflamação e combater ansiedade).
Melinda Hayes, que tem um serviço de entrega de cannabis em Los Angeles, dá o extrato de cannabis da TreatWell’s para Diva, sua cachorra adotada, que já tem 12 anos e sofre de artrite.
“Ela está com ótima saúde para um cachorro na sua idade”, diz ela, “e eu atribuo isso a bons genes, boa comida e cannabis”.
Os únicos efeitos colaterais conhecidos são sonolência e aumento da sede.
Mas Melinda está longe de ser a única adepta.
A cachorrinha Cinnamon, do Estado do Missouri, toma óleo de cânhamo da PetReleaf diariamente para seus problemas de quadris. “Depois da primeira dose, ela pulou da sua cadeira imediatamente quando eu a chamei para passear – geralmente, eu preciso chamá-la muitas vezes e puxá-la para fora”, relata sua dona, Joyce Lattimer.
Nos dias seguintes, diz Joyce, “ela veio para perto de mim dizer oi e lamber minha perna. Eu quase chorei. Fazia muito tempo que ela não fazia isso”.
Donos de bichos de estimação idosos podem ter que lidar com a dor de vê-los definhar, enquanto as contas com o veterinário se acumulam.
Ainda assim, você pode pensar, por que dar cannabis para o seu bichinho, quando você também poderia usar um remédio convencional?
Os fabricantes reconhecem que, para muitas pessoas, a cannabis é um último recurso. Seu cachorro pode estar quase morrendo, sofrendo de terríveis dores nas articulações.
“Nós tratamos muitos casos de ansiedade, artrite… mas provavelmente o que nós mais tratamos é câncer”, afirma Ettel.
Por outro lado, diz ela, não há nenhum cão cambaleando por aí. O cânhamo não vai deixar o seu cachorro alterado porque tem um nível de THC muito baixo, afirma. Ettel, que fabrica produtos de maconha em vez de cânhamo, também garante que não há riscos, porque as doses são muito baixas e controladas.
“Há um grupo de pessoas que estão na categoria: ‘amigo, eu vou deixar meu bicho doidão!'”, comenta Sarah Brandon, veterinária que faz produtos de cânhamo para a marca Canna Companion.
“Nós encorajamos as pessoas a não fazerem isso. Não deem maconha (usada por humanos) para seus cachorros ou gatos. Eles não vão ficar chapados, eles não entendem o que está acontecendo – é muito assustador para eles”.
Parece óbvio. Então, a cannabis para cachorros é legal? Em resumo, isso depende de onde você está e o que você quer.
A legislação sobre cannabis dos Estados Unidos é complicada, porque enquanto 29 Estados e o Distrito de Columbia legalizaram o uso de maconha medicinal e nove deles o uso recreativo, a prática ainda é ilegal a nível federal. Isso significa que é ilegal os veterinários americanos prescreverem produtos a base de cannabis para cachorros.
Ettel pode vender apenas na Califórnia, onde está baseada. Lá, os donos de animais precisam de uma autorização de maconha medicinal para comprar seus produtos.
E o cânhamo? É uma zona cinzenta. Os fabricantes insistem que é sim legal, devido às prerrogativas abertas pelo “Farm Bill” de 2014 (lei de agricultura americana da época de Obama).
Mas o Project CBD, grupo sem fins lucrativos a favor da maconha medicinal, afirma que o óleo a base de cânhamo que produzem é tecnicamente ilegal a nível federal, apesar de as autoridades americanas tolerarem sua venda dentro de limites estaduais.
Questionada sobre sua visão a respeito da cannabis canina, a Associação Americana de Medicina Veterinária afirmou que “não diria aos donos de cachorros que isso é seguro para animais nesse momento”. A Sociedade Americana para a Prevenção de Crueldade contra Animais concordou
“Nesse momento, há mais perguntas do que respostas nessa área”, disse Tina Wismer, diretora médica do Centro de Controle de Envenenamento Animal.
Se espalhando pelo mundo
O mercado de suplementos para animais dos Estados Unidos vale mais de meio bilhão de dólares, e espera-se que cresça consideravelmente nos próximos cinco anos.
“Nós temos centenas de milhares de animais usando nossos produtos ao redor dos Estados Unidos”, afirma Julianna Carella, da empresa Treatibles, que vende “petiscos de bem-estar”, óleo de cânhamo e cápsulas.
Como muitos fabricantes com que a BBC falou, Carella gostaria que pesquisas científicas embasassem os resultados que os clientes estão encontrando. Isso vai ocorrer? Talvez com o tempo.
Na Universidade de Colorado, a Faculdade de Medicina Veterinária e Ciências Biomédicas está conduzindo dois testes clínicos com cannabidiol – um envolvendo tratamento de artrite e o outro sobre epilepsia em cachorros.
Por enquanto, os adeptos de cannabidiol estão se espalhando pelo mundo.
“As pessoas veem com os próprios olhos o que acontece com os seus animais quando lhes dão o produto”, afirma Carella. “E se tudo em que podemos nos basear nesse momento são essas evidências anedóticas, eu acho que é um grande começo”.
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