Insatisfeitas com a imagem que viam no espelho, o sonho dessas mulheres era realizar uma cirurgia plástica. O objetivo era corrigir detalhes no corpo que as incomodavam, mas o procedimento não saiu como o esperado e elas tiveram de enfrentar problemas sérios de saúde por conta de erros médicos. Conheça essas histórias.
Luana*, 29, estudante
“Queria fazer uma lipoaspiração para o Carnaval e também reduzir o tamanho dos seios. Procurei um médico que me aconselhou a não fazer a redução, apenas a lipo. Ele me disse que eu era muito nova para tomar essa decisão e me aconselhou a esperar cinco anos. Segui o conselho e fiz só a lipo com esse profissional. Tudo correu bem. Um mês depois, estava no salão onde fazia as unhas e a dona do local me falou de um cirurgião que conhecia, que, muito bom, poderia fazer minha redução de mamas e colocar uma pequena prótese para sustentar o seio. Decidi aceitar o risco. Cinco dias após a cirurgia, percebi que tinha algo errado. O local estava muito vermelho. Após 15 dias, piorou. Os pontos começaram a soltar e abriu um buraco no meu seio direito. Voltei ao médico e ele apenas receitou outro antibiótico. Depois de 40 dias, meu peito estava todo aberto. Voltei ao consultório e, dessa vez, o médico disse que a culpa era minha, que não havia seguido o pós-cirúrgico corretamente. Tinha pago R$ 10 mil pela cirurgia e ele me cobrou mais R$ 1.800 para refazer o trabalho. Estava desesperada e paguei. Em menos de sete dias, começou a abrir novamente e fui internada. Fiquei mais de uma semana sob a supervisão do médico e nada de melhora. Minha mãe se desesperou e me tirou de lá. Fiquei outros sete dias internada, nas mãos de um médico da família. No outro hospital, fui tratada por uma equipe de infectologistas. Ainda estou em observação, mas não precisei tirar a prótese. Faz 15 dias que o meu seio fechou por completo. No entanto, fiquei com uma cicatriz horrível, perdi parte do meu mamilo direito porque necrosou. Para piorar, meus seios ficaram com formatos diferentes.”
Priscila*, 39, vendedora
“Tinha realizado uma plástica vaginal, mas também queria muito fazer redução de seios e abdominoplastia com lipoaspiração, mas os preços eram exorbitantes e eu não podia pagar. Tenho 1,69 metro e, na época, pesava 93 kg. Um ano e meio atrás, comecei a pesquisar cirurgias plásticas e descobri grupos no Facebook que reuniam mulheres que eram operadas por preços bem menores. As fotos dos resultados eram maravilhosas e os comentários, sempre positivos. Decidi que sairia de Cubatão (SP) e iria para Minas Gerais, em uma viagem de 13 horas de carro. Juntei dinheiro e fiz um empréstimo, porque os gastos eram altos. Não se tratava apenas da cirurgia, que custaria R$ 6.000, mas também dos remédios, da cinta pós-cirúrgica e da cuidadora que me trataria lá, porque estaria fora da minha cidade. No total, gastei R$ 13 mil. Ao chegar, passaria por uma consulta em um dia e operaria no outro. Fui com os meus exames prontos. No dia da operação, só vi o médico quando ele veio fazer as marcações no meu corpo. Quando o anestesista veio me aplicar a ráqui [anestesia raquidiana], senti um repuxão da virilha até a ponta do pé. Uma dor insuportável. Comecei a ficar muito nervosa, mas eles diziam que era normal. Quando me deram o sedativo, não pegou. Eu não dormi, fiquei acordada do início ao fim da cirurgia. Até que apaguei. Precisei ser entubada e reanimada para voltar. Depois, não recebi explicação nenhuma do que aconteceu comigo. Fiquei dez dias na casa da cuidadora contratada, porque tinha de voltar depois desse período ao consultório para tirar o dreno. Quando voltei, me dei conta de que minha cicatriz estava um palmo acima de onde deveria, que o meu umbigo estava torto e o abdômen, distendido. O médico disse que refaria a cirurgia e me receitou remédios tarja preta para conter a ansiedade. Pouco antes de voltar à cidade para refazer a cirurgia, apareceram comentários nos grupos do Facebook com histórias horrorosas do médico. Ali, eu me dei conta de que quase tinha morrido na mesa de cirurgia. Não quis mais voltar. Ainda tenho duas cicatrizes no seio que inflamam e me causam dores terríveis se eu ficar um minuto sem sutiã. Hoje, quase um ano após a cirurgia, passo em um psiquiatra para poder tomar os remédios que controlam a minha ansiedade e gasto muito dinheiro com medicamentos para dor.”
Nadir*, 27, designer de bijuterias
“Fiz uma rinoplastia aos 21 anos, por estética. Meu nariz não era feio, mas eu não gostava da giba [uma espécie de calo que algumas pessoas têm no dorso do nariz] que tinha. Era apenas isso que queria mudar, mas o médico também sugeriu fazer a correção do desvio de septo. Aceitei, afinal, ele era otorrinolaringologista. A operação aconteceu na clínica dele e não em hospital. Quando acordei e me vi no espelho, já percebi que o nariz estava pequeno demais. Mas o médico disse que ainda era cedo para ver o resultado final, que demoraria quase um ano para desinchar por completo. Com o tempo, percebi que não mudaria muito, e meu nariz estava horroroso. Passava a mão em cima dele e só tinha pele. O cirurgião tirou quase todo o osso e a cartilagem do local. O nariz ficou tão desestruturado que as narinas colaram na pele e não entrava mais ar. Eu não conseguia respirar direito. Fiz uma segunda cirurgia com o mesmo médico, para corrigir as narinas, mas nada mudou. Ali, eu já não queria mais tirar fotos e estava sofrendo de sinusite. Entrei em depressão por causa da aparência. Só seis anos depois do ocorrido, criei coragem para ir a um novo otorrino e lidar com a minha dificuldade de respirar. Ele me aconselhou a procurar outro cirurgião plástico. Felizmente, encontrei um profissional que aceitou reparar o erro do outro. Com uma ressonância magnética, descobrimos que eu não tinha mais septo, que o outro médico havia retirado praticamente tudo. Por isso, eu não conseguia respirar. O novo médico fez um milagre: com enxertos, ele corrigiu meu nariz funcionalmente e esteticamente.”
* Os nomes foram trocados para preservar a identidade das entrevistadas.
uol