Ainda não há um medicamento específico que possa prevenir ou mesmo tratar todos os casos de covid-19, embora avanços científicos tenham sido conquistados nessa área. Por isso, o combate à doença depende exclusivamente do sistema imunológico. Pesquisadores, inclusive, têm discutido a possibilidade de “imunidade cruzada” contra o novo coronavírus.
O fênomeno acontece quando as ferramentas desenvolvidas pelo sistema de defesa para combater um invasor conhecido anteriormente pelo organismo também serve para agir contra um novo vírus, como é o caso do SARS-COV-2. Isso é possível graças à memória imunológica e à semelhança entre os agentes infecciosos.
“Eu tenho uma infecção. Isso gerou uma resposta no sistema imune que ficou guardada e aí, quando entro em contato com um vírus parecido, já tenho o mecanismo para combatê-lo”, explica a alergista Ana Karolina Barreto Marinho, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).
De acordo com ela, há dois estudos já publicados sobre o tema. “Esses artigos mostram que pessoas saudáveis que nunca tiveram contato com o SARS-COV-2 já têm células e anticorpos de memórias por causa da infecção por outros coronavírus. A hipótese é que eles sejam protetores”, detalha.
Isso ajudaria a explicar, segundo os pesquisadores, algumas questões: por que algumas pessoas não pegaram o novo coronavírus mesmo tendo contato com quem estava doente e por que outras são assintomáticas ou desenvolvem quadros leves da doença.
Ana Karolina explica que o sistema imune é “um conjunto de células e proteínas que vão nos proteger contra qualquer organismo invasor”. Ele tem dois mecanismos de combate: a imunidade inata e a adaptativa (também chamada de dquirida).
“A imunidade inata é um pouco mais fraca, mas é a nossa primeira, nasce com a gente. Não gera uma resposta duradoura e de memória, serve para qualquer agente infeccioso”, descreve.
É a imunidade adaptativa que produz uma resposta personalizada para cada corpo estranho que entra em contato com o organismo e é responsável pela memória imunológica.
Há dois tipos de células envolvidas nesse processo: os linfócitos T são capazes de identificar e matar células infectadas pelo novo coronavírus e os linfóitos B, que fabricam anticorpos.
Segundo Ana Karolina, quando há o primeiro contato com o novo coronavírus, as células da imunidade inata vão entrar em ação para tentar barrá-lo e, ao mesmo tempo, mandarão um sinal para que a imunidade adaptativa produza anticorpos e outras células mais eficientes e duradouras para combatê-lo.
“Assim, em um segundo contato, as células e anticorpos da imunidade adquirida já vão estar prontas e a resposta [do sistema imunológico] será mais eficaz”, completa.
Outro aspecto que possibilita a imunidade cruzada é o fato de o SARS-COV-2 fazer parte de uma família grande de coronavírus. Sete deles já são conhecidos e quatro circulam entre humanos.
Alguns causam infecções respiratórias que variam do resfriado comum a doenças mais graves, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS).
“Existem proteínas semelhantes nos vírus que compõem a família coronavírus e essa semelhança faz com que os anticorpos ‘encaixem’ em mais de um deles, isso talvez nos dê essa proteção cruzada”, pondera a especialista.
R7