Um estudo do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), divulgado nesta segunda-feira (14), alerta para a o excesso de peso de crianças e adolescentes no Brasil.
“Apesar da Política Nacional de Alimentação Escolar [que garante alimentação nas escolas da rede pública em todo o país], a escola ainda é considerada um ambiente obesogênico, com lanches de baixo teor de nutrientes e alto teor de açúcar, gordura e sódio”, observa a Unicef em seu relatório.
O órgão ressalta iniciativas positivas do governo brasileiro para combater a obesidade infantil.
“Para reverter esse cenário, o Brasil foca em políticas públicas para a prevenção do sobrepeso e da obesidade: incentivo ao aleitamento materno; regulação do marketing para crianças; melhoria na rotulagem nutricional; promoção da alimentação saudável nas escolas; entre outras.”
Passados 20 anos desde que o último relatório global semelhante foi divulgado, o Unicef aponta uma mudança na alimentação nessas duas décadas.
“Estamos deixando para trás dietas tradicionais e adotando dietas modernas, que frequentemente são ricas em açúcares e gorduras, e pobres em nutrientes essenciais. Esse é o pano de fundo para a desnutrição das crianças hoje”.
A imagem da desnutrição em boa parte do mundo, inclusive no Brasil, mudou, de acordo com o Unicef. Hoje, esse cenário engloba também crianças com déficit de crescimento (baixa estatura para a idade) e baixo peso para a idade.
Parte desse grupo sofre do que a entidade classifica como “fome oculta”, caracterizada pela deficiência de vitaminas e minerais essenciais e também pelo crescente número de crianças e adolescentes afetados por sobrepeso ou obesidade.
O estudo reforça a ideia de que sobrepeso e obesidade não são mais condições que podem ser atribuídas aos ricos. Os pobres cada vez mais são afetados devido à ingestão de “calorias baratas” que são “provenientes de alimentos gordurosos e açucarados em todo o mundo”.
“Eles [alimentos ultraprocessados] trazem consigo um risco aumentado de doenças não transmissíveis, como o diabetes tipo 2. A análise realizada como parte do estudo Global Burden of Disease sugere que dietas sem nutrição adequada são agora a principal causa de morte no mundo”, afirma o fundo das Nações Unidas.
Embora o Brasil tenha reduzido a desnutrição crônica “significativamente”, segundo o relatório, entre 1990 e 2006 — de 19,6% para 7%), observa-se que o problema persiste em comunidades mais vulneráveis.
O Unicef cita dados do Ministério da Saúde que mostram que, em 2018, “a prevalência de desnutrição crônica entre crianças indígenas menores de 5 anos era de 28,6%”.
Ainda de acordo com o documento, “os números variam entre etnias, alcançando 79,3% das crianças ianomâmis”. Populações ribeirinhas também estão mais sujeitas à desnutrição.