Coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o meteorologista Humberto Barbosa, especialista em sensoriamento remoto, defendeu hoje (20) que as atividades marítimas desenvolvidas ao longo da costa brasileira sejam acompanhadas por um programa de monitoramento contínuo.
Segundo Barbosa, ao analisar imagens de satélites, pesquisadores do laboratório universitário identificaram prováveis áreas contaminadas por supostos vazamentos diferentes do que está sendo investigado. As imagens mostram ocorrências de impacto menor do que as registradas com o derramamento de óleo que já atingiu nove estados do Nordeste – Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe – e parte do Espírito Santo, na região Sudeste. Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), até ontem (20), já havia contaminado pelo menos 695 áreas de 117 municípios.
“Vazamentos identificados em outras áreas do litoral brasileiro chamam a atenção para o fato de que o problema pode ser mais complexo do que o atual desastre [ambiental que afeta o litoral nordestino e capixaba]”, alertou Barbosa. A declaração foi feita durante uma audiência pública da comissão parlamentar criada pela Câmara dos Deputados para apurar as causas do derramamento de óleo ainda de origem desconhecida. Os parlamentares também avaliam as ações que vêm sendo adotadas para recuperar os habitats atingidos.
“Está claro que precisamos de um sistema de monitoramento operacional, contínuo e sistemático na nossa costa. Percebemos isto ao ver alguns navios, principalmente no Espírito Santo, liberando poluentes”, acrescentou. O coordenador do Lapis/ Ufal destacou a insegurança ao longo da faixa de 12 milhas náuticas, equivalentes a cerca de 22 quilômetros, sobre a qual o Brasil tem soberania.
Navios gregos
Ao detalhar análises sobre o atual acidente, Barbosa explicou que pesquisadores do laboratório avaliaram imagens de satélite fornecidas por órgãos e empresas de monitoramento norte-americano e europeus responsáveis por controlar o tráfego marítimo e descartaram o envolvimento de cinco embarcações gregas no último grande vazamento. Ele reiterou que o derrame de óleo não teve origem no navio grego Bouboulina, alvo de uma investigação da Polícia Federal (PF). A embarcação da empresa Delta Tankers foi citada por autoridades brasileiras como responsável pelo crime ambiental. Posteriormente, as empresas responsáveis por outras quatro embarcações gregas foram notificadas a fornecer informações.
“Comparando as imagens do dia 24 de julho fornecidas pela [empresa de monitoramento] Marin Traffic com a imagem do satélite Sentinel-1A, que capturou a mancha nas proximidades do Rio Grande do Norte, bem como com outros dados de satélites, concluímos que o Boubolina passou [pelo local] dois dias após [o surgimento da] mancha”, afirmou Barbosa. “Assim, concluímos que não havia nenhuma relação entre as manchas e o Boubolina e outros quatro navios-tanque gregos investigados”, disse o coordenador, revelando que uma destas embarcações, o Maran Libra, da Maran Tankers, chegou a navegar por um longo período com seu sistema de localização desligado, “mas isto não o qualificava como um navio que pudesse ter causado o derramamento”, acrescentou.
Os pesquisadores concluíram que a embarcação responsável pelo derramamento teria que ter passado pelo local onde a mancha de óleo supostamente se espalhou com o sistema de localização desligado. Isto porque as imagens de satélite apontavam a presença, na região, de supostas embarcações não identificadas. “Selecionamos todos os navios que poderiam ter trafegado pela área entre os dias 24 [quando o Sentinel-1 capturou imagens da mancha nas proximidades do litoral do Rio Grande do Norte] e o dia 29, quando foram identificadas imagens de uma segunda mancha muito próxima à costa da Paraíba”, comentou Barbosa.
Voyager
De acordo com o especialista, inicialmente, foram identificadas 117 embarcações. Considerando a região geográfica atingida pelo óleo, a trajetória dos navios e o fato de que, necessariamente, teria que tratar-se de navio cargueiro transportando óleo cru, os pesquisadores apontaram o Voyager I, que navega com a bandeira das Ilhas Marshall, como suspeito pelo crime.
“O Lapis não tem capacidade e nem ferramentas para dizer que o Voyager é de fato o culpado [pelo derramamento de óleo], mas baseado em evidências de imagens de satélites e nos dados da Marin Traffic, chegamos a esta conclusão”, afirmou Barbosa. “Há evidências de que as manchas de óleo registradas pelo satélite se relacionam, tanto em termos de espaço quanto de tempo que o navio levaria [para percorrer a área analisada]. Durante este tempo, o navio estava com o sistema desligado, não sendo, portanto, identificado pela Marin Traffic”, acrescentou. O pesquisador afirmou que, ao comparar com a rota frequentemente percorrida, nesta ocasião particular, o Voyager I percorreu uma trajetória “muito irregular”, apresentando “evidências de que alguma incidência pode ter ocorrido durante seu trajeto”.