Pode até parecer que os humanos deram uma “freada” na evolução e não mudaram muito desde o homem moderno. Mas as pesquisas nos lembram que não é bem assim: as pressões ambientais e sociais nos trouxeram importantes e constantes modificações.
Um trabalho publicado pelo antropólogo John Hawks, da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), aponta que os últimos 40 mil anos de intensa evolução. Especificamente nos últimos 5.000, a seleção positiva ocorreu a uma taxa cerca de cem vezes mais alta que qualquer outro período, diz ele:
Geneticamente, nossa diferença em relação às pessoas que viveram há 5.000 anos é maior do que a diferença entre elas e os neandertais
De acordo com o estudo, 7% dos genes estão em meio a um processo de evolução recente e acelerado.
Ao longo dos últimos 150 mil anos, tivemos muitas mudanças no corpo: as pernas ficaram mais compridas, os braços mais curtos, ficamos mais altos, fisicamente mais fracos e com o cérebro maior.
Mas essas modificações genéticas podem fazer com que o homem evolua para outra espécie?
Os pesquisadores acreditam que isso é bastante difícil de acontecer nos próximos milhares de anos.
Nos animais com reprodução sexuada (que dependem de macho e fêmea), como o homem, existem diferentes mecanismos que podem levar à formação de novas espécies.
Um deles é especiação geográfica, ou seja, quando surge uma nova espécie por que dois grupos da mesma espécie ficaram muito tempo isolados e sofreram mutações genéticas separadamente. Quando as barreiras geográficas somem, passaram-se tantas gerações que esses grupos já não podem cruzar entre si ou gerar descendentes férteis.
Tem uma curiosidade científica? Mande sua pergunta para o UOL com a #CliqueCiência
Para muitos cientistas, esse processo dificilmente vai acontecer com os humanos – a menos que as tentativas de povoar outros planetas prosperem.
“A dispersão geográfica é uma característica intrínseca da nossa espécie. Desde que surgiu na África, há não mais que 200 mil anos, a espécie começou a se dispersar por todos os continentes”, avalia Cláudia Carareto, professora titular em evolução do Instituto de Biociência, Letras e Ciências Exatas da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Humanos são muito parecidos
Outro motivo para o surgimento de novas espécies é a existência de ambientes bastante diferentes dentro de uma mesma região, mesmo sem isolamento geográfico de uma parte da espécie. Foi o que aconteceu nos Grandes Lagos Africanos, onde cerca de 400 novas espécies de peixes surgiram num período inferior a 100 mil anos, por conta das mudanças climáticas.
Como o lago teve ambientes bastante heterogêneos (profundidade diferentes, bancos de areia, tipo de alimento disponível, etc.) neste período, o contato sexual entre os peixes da mesma espécie diminuiu. Houve, por exemplo, mudança na coloração de alguns peixes, que interferiu no “interesse” das fêmeas nos machos e no comportamento reprodutivo.
Na espécie humana, a seleção sexual (ou seja, a preferência por determinado grupo para reprodução) provocada por uma restrição no cruzamento de determinados grupos étnicos ou culturais dificilmente teria este resultado.
“A seleção sexual na espécie humana não é forte o suficiente, e há troca de genes mesmo entre diferentes grupos culturais. Por serem muito jovens, as populações humanas são pouco diferenciadas geneticamente”, explica Carareto.
Biologicamente pode até ser difícil evoluirmos para outras espécies, mas a tecnologia poderia dar “uma mão”.
Alguns cientistas, como o paleontólogo Peter Ward e o matemático Ian Pearson, especulam que o próprio homem poderá criar uma nova espécie a partir de avanços na engenharia genética e na robótica.
Ward prevê a criação de descendentes da espécie humana com redução nos cruzamentos, seleção de características desejáveis (como inteligência, saúde, capacidade atlética e longevidade) e separação entre as populações naturais e artificiais.
Já Pearson prevê para os próximos 200 anos a junção do organismo humano com microchips, nanotecnologia incorporada a mutações genéticas e máquinas fazendo parte da composição do nosso corpo.
uol