Com uma verdadeira aula de história do Brasil, o painel “O sol da liberdade” teve como convidados o advogado e professor Silvio Almeida e a historiadora e cientista política Heloisa Starling, no Café Literário, um dos espaços da Bienal do Livro Bahia. A mediação ficou por conta da curadora do espaço, Josélia Aguiar.
Aplaudido de pé pelo público e recebido aos gritos de “Ministro”, Silvio Almeida contou que o seu ingresso no mundo da leitura se deu graças a grandes referências que ele encontrou dentro da própria casa. Silvio foi alfabetizado pela avó e assim que aprendeu a juntar as letras tornou-se um voraz leitor de quadrinhos.
Ao ver a mãe ler romances não demorou a se interessar também pelos livros. Mas foi com uma das tias, obrigada a abandonar a faculdade na época da ditadura militar, que Silvio Almeida não apenas aprofundou seu interesse pelas letras, como passou a se posicionar politicamente.
Com Heloisa Starling não foi diferente. Ele relembrou que ver a mãe lendo e visitar a biblioteca da casa da avó foram as suas maiores inspirações para se tornar uma amante dos livros. “A melhor armadilha para convencer uma criança a ler não é mandar ela ler, e sim ela ver você lendo”, disse.
Em um segundo momento do encontro, os convidados falaram a respeito do processo histórico do Brasil que levou a ameaças ao regime democrático do nosso país e às crises políticas vivenciadas nos últimos tempos.
De acordo com Silvio Almeida, há uma conjuntura de fatores nacionais e internacionais que favoreceram esse quadro. O professor destacou a estrutura econômica do Brasil, a aversão do brasileiro à participação política e o racismo fruto do longo processo de escravidão.
“O Estado brasileiro desorganiza o povo brasileiro e isso gera um contexto de crise, remorso e ressentimento responsável por proporcionar as condições para o surgimento dos regimes totalitários”, afirmou.
Citando Joaquim Nabuco, Heloísa fez questão de destacar também que o Brasil foi edificado sobre o pilar da escravidão e que isso gerou apenas uma “epiderme civilizatória” que se rompe facilmente. “É preciso olharmos para o nosso passado de frente e desmontarmos essa ficção engenhosa de civilização”, defendeu.
A historiadora destacou ainda que o brasileiro deve sempre lembrar que a democracia é um modo de vida que precisa ser internalizado. “Já sabemos como a democracia morre. Mas como é que ela renasce? Precisamos de fato fazer com que esse regime se torne um hábito do coração”, concluiu Heloísa Starling.