Alguns pensam no conforto. Afinal, usar fralda pode ser prático para os pais, mas andar com essa grossa capa de plástico não deve ser cômodo para os bebês, sobretudo quando estão úmidas.
Outros dizem que o meio ambiente é o principal motivo. Uma criança costuma ser ensinada a usar a privada entre os 2 e 3 anos. Se usar uma média de quatro fraldas por dia, ao fim de dois anos e meio, serão descartadas 3.650 fraldas não biodegradáveis.
Em maior e menor medida, essas são as razões mais comuns apontadas por pais que decidiram adotar um método incomum para evitar o uso de fraldas.
Em inglês, chama-se Elimination Communication (comunicação da eliminação), termo que faz referência à comunicação necessária com o bebê para saber quando ele precisa “eliminar”, ou seja, fazer xixi ou cocô.
De acordo com a técnica, observar a criança permite entender seu ritmo natural de evacuação e as pistas que ela dá quando fica com vontade, como sons e movimentos do corpo.
Os pais devem levar o bebê para o banheiro diante destes sinais, já nos primeiros dias de vida.
Pode parecer complicado a princípio, mas os defensores da prática garantem que as evacuações das crianças não são tão aleatórias quanto se pensa.
“Existe a noção de que os bebês evacuam de forma inesperada e constantemente durante o dia, mas é o contrário, eles fazem isso de forma natural, em momentos previsíveis, como ao acordar e depois de comer”, publicaram recentemente dois médicos americanos que testaram o método com seu terceiro filho, em um editorial da revista especializada Pediatrics .
O pediatra Jeffrey Bender e sua mulher Rosemary explicam no texto que é possível usar sinais sonoros, como um zumbido ou um assobio suave. “Com a prática, muitas crianças aprendem a fazer suas necessidades quando estão na posição correta e escutam o sinal.”
Mas o método não é baseado em treinar a criança. O bebê não precisa “segurar” ou aprender a se controlar, porque só será capaz de fazer isso com seu desenvolvimento fisiológico.
O que a técnica propõe é treinar os pais para que eles adquiram uma sintonia neste aspecto com seus filhos. Como consequência, algumas famílias garantem que as crianças deixaram de usar fraldas durante o dia desde os 12 meses de idade.
Quais são as vantagens e desvantagens?
Os pediatras não costumam recomendar uma idade específica para começar a treinar uma criança a usar a privada. Segundo o serviço de saúde pública britânico, o NHS, a maioria dos pais começa a pensar nisso entre os 18 meses e 2 anos.
“É melhor ir devagar e no ritmo do seu filho”, recomenda o NHS em seu site.
De acordo com as diretrizes gerais dos pediatras, o método sem fralda não afeta negativamente a saúde das crianças.
Mas há especialistas que criticam o método, sob o argumento de que a maturação da bexiga e do cérebro do bebê ocorre tipicamente entre os 24 e 36 meses de vida.
Os defensores da prática dizem que, além da economia de dinheiro e menor impacto ambiental, há a vantagem de se desenvolver uma maior conexão com o bebê e de haver menos risco de irritação de pele ou dermatite.
Mas não há grandes benefícios para a saúde da criança.
A espanhola Patricia Verdú usou o método com sua filha quando a menina tinha 14 meses, porque a bebê começou a rejeitar a fralda. “Via ela com as fraldas de plástico, e me parecia ser algo muito incômodo”, diz Patricia à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
Ela começou a buscar informações na internet sobre o assunto e encontrou o site Go Diaper Free (Livre-se das fraldas, em tradução livre do inglês), da americana Andrea Olson, mãe de três filhos e autora de vários livros sobre a Elimination Communication .
Olson criou sua própria metodologia e treinamentos.
Patricia nunca havia ouvido falar disso até então. Ela diz que o método ainda hoje é muito desconhecido, e pessoas próximas a ela veem tudo isso com certo ceticismo. “Para mim, era uma novidade enorme, mas desde o começo me pareceu muito coerente”, diz ela.
“A verdade é que foi um sucesso. Em questão de dois meses, deixamos de usar fralda durante o dia. Logo começamos também de noite, que é o mais difícil, porque significa que você precisa acordar para fazer isso. Ao redor dos 20 meses, minha filha já não usava fralda de noite. Fiquei muito feliz, porque via que ela estava mais cômoda.”
Patricia fez cursos com Olson e hoje forma outras pessoas para praticarem o método nas Ilhas Canárias. Agora, prestes a dar à luz de novo, ela espera adotar a estratégia desde o princípio com seu segundo filho.
É possível se os pais trabalham?
Olson e outras especialistas desta técnica, como Laurie Boucke e Ingrid Bouer, dizem que, sim, ainda que os dois pais trabalhem, é possível seguir a técnica-la de “forma parcial”, a praticando na primeira hora da manhã, no fim do dia e nos finais de semana.
“Não somos contra a fralda, ela é uma ferramenta”, explica Patricia, acrescentando que pode ser algo prático em uma viagem de carro ou em uma visita à casa de amigos. A ideia é fazer “um uso consciente e pontual da fralda”, sem que a criança dependa exclusivamente dela.
Patricia diz que a ajudou a ter sucesso incorporar o método aos cuidados diários com a filha: assim como ficava atenta para ver se tinha fome ou frio, também prestava atenção para saber se tinha vontade de fazer xixi ou cocô. Ela diz não ser mais difícil, mas admite que às vezes pode ser trabalhoso.
“Há muitas pessoas que aplicam a técnica durante o dia e usam a fralda à noite, porque é mais importante descansar bem em vez de ficar levantando de madrugada para levar a criança à privada”, conta ela.
E, se por um lado torna-se mais fácil limpar a criança e se gasta menos panos úmidos do que quando se usa uma fralda, há sempre o risco de haver acidentes – aliás, acidentes acontecem com ou sem fralda, seja qual for a idade da criança.
Manter os bebês limpos e secos continua a ser um dos grandes desafios dos pais, seja qual for o método que eles sigam.
Terra