A velocidade média de imunização dos brasileiros precisa quintuplicar para o Ministério da Saúde cumprir a promessa do titular da pasta, Eduardo Pazuello, de que até junho metade da população vacinável terá tomado o imunizante contra a covid-19.
Em sessão no Senado em 11 de fevereiro, o titular da pasta garantiu também a imunização de todos os brasileiros.
Até esta terça-feira de manhã (16), com um fluxo médio de 241.206 aplicações por dia, segundo dados do site Our World In Data, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Oxford, o país precisa atingir 1.162.914 diariamente até 30 de junho para que metade da população tenha tomado as duas doses.
Dos cerca de 212 milhões de brasileiros, apenas 75,8%, ou 161,120 milhões, podem tomar a vacina. O restante tem entre 0 e 17 anos, faixa etária que fica de fora desse primeiro ano da campanha por não haver estudos tanto da CoronaVac quanto do produto desenvolvido pela AstraZeneca para essas idades.
Outro grupo em relação ao qual há dúvidas se deve ou não comparecer aos postos é o das grávidas. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), porém, elas podem se imunizar. Por isso os mais de dois milhões de gestantes brasileiras anuais entraram na contagem.
A necessidade de elevação a 482% da velocidade atual de aplicações considerou que, segundo o Our World in Data, 5,08 milhões de brasileiros já foram vacinados e que 0,21% tomaram as duas doses.
Se Pazuello quis dizer que 50% teriam ao menos uma dose, o que não ficou claro, e fazendo a conta simples (que não é a mais correta*) de quantos ainda precisam se vacinar, o aumento teria de partir dos atuais 241 mil para 563.28 diariamente, 133% a mais de pessoas mesmo em feriados, sábados e domingos pelos próximos 134 dias, até 31 de junho.
* A conta é falha porque só seria possível utilizar toda a estrutura atual dos postos espalhados pelos municípios apenas para a primeira dose se ficasse determinado que ninguém mais teria a segunda aplicação, o que, por inúmeros motivos, seria uma insanidade.
Impossível não é chegar ao ritmo ideal. Se olharmos como está a campanha de imunização no mundo, China e Estados Unidos brigam para ver qual o país que aperta mais seringas em 24 horas no combate à pandemia. Ambos estão com 1,67 milhão de imunizados por dia.
Países menores do que o Brasil também são mais rápidos. O Reino Unido, que começou bem antes de nós e já aplicou quase 16 milhões de doses (25% da população), segue imunizando 433 mil habitantes diariamente.
A história da tão elogiada capilaridade do SUS (Sistema Único de Saúde) mostra que, em vários outros anos, o Brasil superou dois milhões de vacinados por dia. Mas aí entra outro problema atual do país: faltam doses para isso.
“Com vacinas, o SUS teria capacidade de atender à meta. Mas não há doses. Esse é o gargalo que o governo tem que resolver”, afirma Josilmar Cordenonssi, professor de economia e finanças da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Com o mundo todo em busca da imunização, Cordenonssi avalia que o Brasil deveria focar nas soluções – e não apontar obstáculos que não existem. Investir na produção nacional do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo), de modo que o país não dependa exclusivamente da importação desse insumo, seria um dos atalhos para a almejada autossuficiência de vacinas. Com elas, diz o professor, a conta fecha.
De acordo com o DataSus, abastecido com números oficiais do sistema de saúde, a pasta de Pazuello distribuiu até a manhã de terça-feira (16), 11.147.000 doses contra a covid. O resto é promessa. O Instituto Butantan, em São Paulo, e a Fiocruz, no Rio, receberam insumos para a produção de vacinas, mas ainda não entregaram novos lotes à campanha nacional.
Para dar as duas doses à metade da população até junho, serão necessárias mais de 144 milhões de doses, 13 vezes mais do que o volume disponível até agora.
A atual falta de suprimentos também é o entrave levantado por Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, para que o Brasil possa atingir a meta imposta por Pazuello. “O cenário é ainda mais crítico quando se sabe que já há municípios, como o Rio de Janeiro, paralisando a imunização por falta de doses”, diz. “Sem vacinas, o prazo vai ficando mais curto e a velocidade de imunização terá que aumentar ainda mais para alcançarmos metade da população.”
Flávia diz, no entanto, que embora difícil, a meta de Pazuello não é impossível. “Havendo vacinas, ou a certeza da produção de grandes quantidades, é possível organizar melhor a logística. Temos locais e pessoal, e é viável acelerar a imunização com segurança.”
Para isso, diz a especialista, o Brasil precisa investir na compra de outras vacinas e evitar distorções na ponta, reforçando a campanha nacional nos locais mais críticos, como Manaus (AM). “Talvez fosse interessante repensar a estratégia de vacinação e direcionar mais doses para Manaus. Assim, podemos evitar a disseminação da variante local para outras regiões do país e afastar a ameaça de uma nova onda.”
R7