O Parque Pedra de Xangô, localizado na poligonal da Área de Proteção Ambiental (APA) Vale da Avenida Assis Valente, em Cajazeiras X, celebra, nesta quinta-feira (4), um ano de abertura à população, após obras realizadas pela Prefeitura de Salvador, e seis anos do tombamento do monumento lítico, como Patrimônio Cultural da cidade. Durante a manhã, nem mesmo a chuva atrapalhou as homenagens, que contou com a presença de representantes da Prefeitura e de entidades de matriz africana no evento “Amalá – Aniversário das matriarcas”.
O projeto urbanístico do Parque Pedra de Xangô, que foi coordenado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), teve efetiva participação da comunidade local, especialmente de representantes do povo de santo, acadêmicos, pesquisadores e ambientalistas. O parque possui vegetação remanescente de Mata Atlântica, reforçando, assim, o caráter sagrado do local e de preservação do meio ambiente, evitando a derrubada de árvores para implantação de loteamentos clandestinos em áreas de proteção.
“O Parque é fundamental para toda a área de Cajazeiras e ainda tem um forte lado religioso, pois é o primeiro parque com o nome de um orixá no Brasil. Vejo, um ano depois, o quanto ele é usado e preservado, e a sua importância para toda a comunidade. E uma das grandes missões da Prefeitura é construir equipamentos que sejam utilizados e cuidados pela população”, declarou a presidente da FMLF, Tânia Scofield.
Membro do comitê gestor do Parque, Pedro Vidaxò ressaltou que o alinhamento entre os povos de santo é essencial para que o equipamento seja cada vez mais confortável e aproveitado pela população. “Acredito que Xangô está feliz e, como membro da administração, sou um elo entre a comunidade e o poder público, para que cada vez mais a gente tenha um parque preparado para receber a todos”.
Tombamento e história – Símbolo sagrado e elemento cultural afro-brasileiro, a Pedra de Xangô foi tombada em maio de 2017 como patrimônio cultural do município. No parecer técnico da Fundação Gregório de Mattos (FGM), responsável pela iniciativa, houve o entendimento de que a formação rochosa de oito metros de altura e, aproximadamente, 30 metros de diâmetro, é considerada um monumento natural, um marco na história de resistência daqueles que sofreram com a escravidão em Salvador, pois, segundo a tradição oral, servia como passagem e esconderijo de quilombolas perseguidos.
O gerente de Equipamentos Culturais da FGM, Vagner Rocha, reforçou que o espaço reconhece a força do povo negro, da diáspora africana em Salvador, na preservação da história e da cultura. “É importante continuar reafirmando as contribuições, a cultura das comunidades de terreiro, que aqui já faziam seus rituais, uma área remanescente de quilombo. Estar aqui hoje, celebrando um ano da entrega e seis anos do tombamento, é acreditar que estamos no caminho certo, que a reparação histórica está acontecendo e que temos muito mais a fazer. Os caminhos estão abertos e temos muito a agradecer a Xangô e ao povo de santo por preservar o patrimônio, que é de toda Salvador”.
A advogada, mestra e doutoranda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Maria Alice Pereira da Silva, é autora do livro “Pedra de Xangô: um lugar sagrado afro-brasileiro” que compôs o dossiê de tombamento da pedra, enquanto laudo etnográfico. “Tanto o tombamento quanto o equipamento de apoio é a concretização das narrativas negras, da ancestralidade, do aquilombamento, das histórias afro-diaspóricas, da preservação do patrimônio cultural afro-brasileiro e religioso. Esse parque é uma experiência exitosa não só para Salvador, mas também para o Brasil”.
Estrutura – O projeto arquitetônico do memorial materializa o conceito que permeou toda a concepção do projeto ao acompanhar a forma das curvas da encosta existente no local. Para a estrutura, foram utilizados materiais ligados à simbologia do ambiente: as paredes, por exemplo, foram construídas em taipa de pilão, tijolo ecológico e pilares metálicos, referências a elementos relacionados à Terra e ao orixá Xangô. Todo o parque e entorno contam com 62 pontos de luz instalados, entre luminárias viárias, decorativas e projetores de LED.
A estrutura abriga uma sala multiuso, área para exposição de trabalhos, administração do parque, sanitários e um espaço destinado à comercialização de comidas e artesanatos. No entorno do memorial, há um anfiteatro a céu aberto, bancos com pergolados, além de rampas de acesso, guarda-corpo e corrimãos para o deslocamento de pessoas com dificuldades de locomoção. O paisagismo também foi valorizado com plantio de gramado e mudas de árvores.
Fotos: Bruno Concha/Secom