Uma cena corriqueira na Presidência da maior empresa brasileira reflete o cuidadoso trabalho de Pedro Parente. Com uma apresentação financeira em mãos, ele se enfurece ao perceber que, no gráfico, a linha da dívida não é proporcional às barras que mostram a geração de caixa no período de 2006 a 2015. “Esse é aquele slide fora de escala de novo? Eu fico para morrer com isso”, reage, enquanto aponta para o endividamento (US$ 132 bilhões, no final do ano passado) e a geração de caixa (US$ 21 bilhões, há 10 anos). “Não está seis vezes maior.
O pessoal precisa entender a relevância e o poder da demonstração gráfica de um problema.” Desde que assumiu a presidência da petroleira brasileira, em 1º de junho, Parente tem conseguido, diariamente, mostrar a real situação da companhia e seus enormes desafios. O descontrole financeiro, por exemplo, poderia quebrar a Petrobras se não fosse colocado em sua perspectiva real. “Não dá para conviver com uma dívida desse tamanho”, insiste. Nesse período à frente da empresa, Parente imprimiu um senso de urgência para readequar a Petrobras a uma nova realidade.
Apresentou um novo plano estratégico, que engloba a venda de ativos não essenciais e a recuperação da solidez financeira. Até 2018, a empresa deve apresentar uma alavancagem de 2,5 vezes sua geração de caixa. Entre dezembro do ano passado e setembro de 2016, a dívida líquida da Petrobras caiu 17%, para R$ 325,6 bilhões, e a alavancagem recuou de 5,3 vezes para 4,1 vezes. As vendas têm seguido o cronograma e, até o final de novembro, foram realizadas oito negociações, que geraram US$ 11 bilhões.
Pelo seu trabalho a frente da companhia, Parente foi escolhido pela DINHEIRO como o EMPREENDEDOR DO ANO NA INDÚSTRIA. “A importância do Pedro Parente, hoje, é recuperar a credibilidade da empresa”, diz David Zylbersztajn, sócio da DZ Negócios em Energia e ex-diretor geral da Agência Nacional de Petróleo. “Ele é um executivo bem preparado e, em termos de expectativa, preenche a ansiedade do mercado, que sabe que ele vai cumprir o plano.” O grande teste da gestão de Parente foi colocar em prática a nova política de preços para a gasolina e o óleo diesel nas refinarias.
Mensalmente, a Petrobras prometeu anunciar as mudanças conforme a variação da cotação do petróleo no mercado internacional e o câmbio. Em setembro e outubro, o cenário favoreceu e a companhia pode reduzir o valor dos combustíveis – foi a primeira vez que isso ocorreu desde 2009. Em novembro, o preço do barril aumentou e o dólar se valorizou frente ao real, colocando em dúvida a execução dessa política. Mesmo com Parente garantindo que o movimento aconteceria, o mercado financeiro lembrava das recentes interferências do governo federal para evitar um choque na inflação.
Mas a certeza de que a Petrobras entrou numa nova era aconteceu na segunda-feira 6: o preço do óleo diesel subiu 9,5%, em média, e da gasolina, 8,1%. “Se não fizesse nada ou negasse a política de preços, a empresa entraria no ‘veja bem’ e colocaria em xeque a sua credibilidade”, afirma Alexandre Póvoa, presidente e sócio da Canepa Asset Management. “Com isso, o risco Petrobras cai bastante.” Embora todas as impressões externas importem nesse momento de reconstrução da imagem da empresa, Parente tem reservado boa parte do seu tempo para motivar a equipe.
Desde seu primeiro dia na Petrobras, o executivo procurou reestabelecer a confiança interna com transparência, franqueza, clareza e objetividade. Para se aproximar dos mais de 71 mil funcionários, responde com frequência as dúvidas e questionamentos publicados na intranet. A razão de todo esse trabalho tem sido o seu maior desafio: tirar a Petrobras de uma certa paralisia na tomada de decisão.
Todo o trabalho tem sido feito para mostrar que o risco faz parte de qualquer companhia, desde que sejam respeitadas as regras de governança corporativa. “Há um impulso de delegar para cima. Pelo que a empresa passou, isso se agrava”, diz Parente. “É compreensível o que está acontecendo, mas a empresa precisa funcionar. Por isso, esse temor acima do normal foi maior do que eu imaginava.” Parente aceitou o desafio de comandar a Petrobras como uma missão, talvez a mais difícil de sua carreira.
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