O mês de janeiro promete grandes eventos em Salvador e todo território baiano, muitos deles com a participação direta do Governo do Estado, através do incentivo do Programa Fazcultura. Entre as atrações, a Enxaguada do Bonfim, de Carlinhos Brown (12/01), os Ensaios de Verão, de Luiz Caldas (26/01 e 21/02) e Festival no Ar (14/01), todos no Museu Du Ritmo, no Comércio. Destaque também para o PercPan, maior festival de música percussiva no Brasil, que acontece de 18 a 21 de janeiro.
Esse ano a novidade é que o festival não ficará restrito a Salvador, onde começou já há 21 temporadas, e vai se estender ao Recôncavo. As apresentações na capital serão realizadas no Teatro Castro Alves e no Terreiro de Jesus (Centro Histórico) e, em Santo Amaro, terá como palco a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), onde acontecerão uma mesa-redonda e encontros culturais. O evento foi criado pela socióloga Elisabeth Cayres e já passou por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Recife, inclusive com uma edição em paris (França).
O Festival acontece com o patrocínio do Governo do Estado, através do Fazcultura, Secretarias da Fazenda e da Cultura e das empresas Vivo e Petrobras, que utilizam do incentivo fiscal. O PercPan vai reunir grupos com afinidades estilísticas que criam uma coesão sonora e conceitual. O produtor musical Alê Cerqueira diz que o evento mantém o investimento em encontros e debates sobre música percussiva e terá consultoria artística do jornalista e crítico musical Hagamenon Brito.
O secretário da Cultura, Jorge Portugal, destaca a expansão do festival para Santo Amaro, no Recôncavo baiano, berço do samba e dentro da UFRB. “É uma novidade e será emocionante acompanhar os encontros e debates”. O Fazcultura fecha o ano de 2016 utilizando mais de R$ 12 milhões dos R$ 15 milhões disponibilizados pelo Estado para o programa, o maior volume de renúncia fiscal já utilizado em todos os seus 20 anos de história. Ao todo, foram contempladas 48 iniciativas culturais nos mais diversos segmentos, com destaque para Música e Literatura. Com 20 anos de criado, o Programa Estadual de Incentivo ao Patrocínio Cultural é uma das ferramentas mais importantes de fomento à cultura da Bahia e tem papel fundamental no desenvolvimento cultural do Estado.
Primeira noite
RIME – Ritmo e Melodia, a primeira noite de shows, no dia 19/01, exalta a delicadeza rítmica, na contramão do universo percussivo grandiloquente, em que as sutilezas sonoras têm destaque: “Será uma noite com ênfase na música ritmada de natureza mais delicada, melódica e intimista, propondo uma reflexão estética sobre o tema e fazendo um contraponto às características normalmente atribuídas ao universo percussivo”, comenta Alê.
Três grupos internacionais, bastante singulares, compõem a noite de abertura. O primeiro deles é o polonês GlassDuo. Egressos da Orquestra Sinfônica de Gdansk, Anna e Arkadiusz Szafraniec abriram mão de suas posições no conjunto para se tornar o primeiro grupo da Polônia a tocar o instrumento de taças de cristal conhecido como Glass Harp. E é deles o maior Glass Harp do mundo, com cinco oitavas de alcance, cuja afinação profissional permite tocá-lo sem a necessidade de água no interior das taças. Além de se apresentarem em duo, suas performances incluem ainda formações com quartetos de cordas e orquestras, entre outras.
A segunda atração é também marcada pelo pioneirismo. Nascida no Reino Unido, a cantora, compositora e multi-instrumentista Sona Jobarteh descende de uma das cinco mais importantes famílias Griot da Gâmbia, cujos membros são os únicos autorizados a tocar o Kora, harpa africana com 21 cordas. Este é um dos mais importantes instrumentos do grupo étnico Mandingo, que está presente em países da África Ocidental, com uma população de mais de 11 milhões de pessoas espalhadas pela Gâmbia, Senegal, Mali, Guiné e Guiné-Bissau. A tradição hereditária de mais de sete séculos tem sido passada de pai para filho e ganhou uma nova dimensão ao ser quebrada por Sona, primeira mulher a tocar o instrumento. Seu virtuosismo e técnica apurada, aliadas à sua voz marcante e forte presença de palco, rapidamente a levaram ao sucesso internacional, com passagens aclamadas por diversos países do mundo.
Fecha a primeira noite o sexteto Khusugtun da Mongólia, conhecido por aliar o uso de instrumentos tradicionais da cultura nômade ao canto Tuvan Throat Singing, que utiliza técnicas vocais praticamente desconhecidas no Ocidente e foi declarado Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco. O grupo receberá no palco os convidados especiais Luizinho do Jejê, Iuri Passos e Gabi Guedes, percussionistas baianos e ogãs do Candomblé, propondo uma fruição sonora onde a poética dos atabaques brasileiros se encontra com a ancestralidade musical do grupo Khusugtun. “A tradição musical da Mongólia, originária da cultura de seus grupos nômades, tem muitas semelhanças com os ritmos matriciais afro-brasileiros”, observa o curador.
Segunda noite
A segunda noite do PercPan, no dia 20/01, levará ao palco do Teatro Castro Alves as novas gerações da música brasileira oriundas de bem-sucedidos projetos sociais. O primeiro deles é o Trio MultiFaces, formado pelos percussionistas David Martins, Aquim Sacramento e Fábio Santos, derivado do Projeto Neojibá, fenômeno da inclusão social graças ao método desenvolvido pelo Maestro Ricardo Castro, que atinge nada menos que 350 mil crianças em todo o Brasil. O trio é conhecido por misturar a percussão baiana e outras vertentes de matriz brasileira à percussão sinfônica.
Na sequência, o Grupo de Referência de Ourinhos, do interior de São Paulo, reúne a nata da percussão do Projeto Guri, programa do Governo do Estado de São Paulo que atende cerca de 35 mil alunos em vários municípios. Formado por 11 jovens percussionistas, o grupo é dirigido pelo músico e educador Agnaldo Burgo Junior e interpreta peças que transitam entre o universo erudito e popular, explorando a grande diversidade da percussão, com instrumentos como pandeiro, marimbas, vibrafones, xilofones, glockenspiel e congas. O percussionista Ari Colares, gestor artístico do projeto, fará uma participação especial, somando-se ao grupo na execução de composições suas.
Para encerrar, o Coletivo Rumpilezzinho apresenta um repertório composto por músicas da Orkestra Rumpilezz, sob a regência do maestro Letieres Leite, além de standards do grupo norte-americano Weather Report. Letieres é o autor do projeto Rumpilezzinho – Laboratório Musical de Jovens, dedicado há três anos à promoção e qualificação de jovens músicos de Salvador.
Terreiro de Jesus
Do Teatro Castro Alves, o PercPan segue no dia 21/01 para o Terreiro de Jesus, no centro histórico do Pelourinho, onde fecha a programação musical com um show ao ar livre e gratuito. Intitulada CELEBRE, a terceira e última noite abre com o show Roberto Mendes – O samba antes do samba. Natural de Santo Amaro da Purificação, o compositor e violonista é desde a década de 70 um dos mais importantes músicos do Recôncavo Baiano e baluarte da chula, o característico samba da região. No show, Roberto faz uma ponte entre a velha e nova geração – representadas pelo convidado João do Boi, de 72 anos, referência no gênero – e as crianças do Recôncavo Baiano, promessa de continuidade das tradições musicais deste importante celeiro de músicos e compositores do país.
De Pernambuco, mais precisamente de Morro da Conceição, na periferia de Recife, Lucas e a Orquestra dos Prazeres dão um tratamento sinfônico à cultura afro-pernambucana, em arranjos modernos, reunindo diversos naipes de instrumentos percussivos como alfaias, ilús, congas, ajubês e agogôs.
De lá a noite segue para a África, mais precisamente a República Democrática do Congo, com o grupo Staff Benda Bilili, formado por ex-moradores de rua. Em comum a mobilidade reduzida, muitos são cadeirantes, e uma sonoridade contagiante que vem encantando o mundo em um exemplo de superação.
Fazendo jus ao tema de celebração que marca o encerramento do festival, o Bloco Afro Muzenza faz uma participação especial no festival com o samba-reggae que o notabilizou desde seu surgimento, na década de 80. Sucesso no Carnaval, suas músicas já foram gravadas por Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Gal Costa, Gilberto Gil e Margareth Menezes, entre outros.
Caberá ao grupo madrilenho Patax, liderado pelo baterista e percussionista Jorge Pérez, encerrar o 21º PercPan com sua mistura de flamenco, jazz, funk, salsa e world music. Criado em 2008, em pouco tempo o conjunto se destacou no cenário espanhol e mundial, lançando três discos e realizando diversas turnês pelo mundo.
Mateus Aleluia
Em todas as três noites, o Mestre de Cerimônias será o cantor, compositor e instrumentista Seu Mateus Aleluia, em homenagem a este grande nome da história da música baiana. Ele é um dos remanescentes do grupo vocal Os Tincoãs, responsável pelo resgate da ancestralidade musical afro-barroca através de um amplo trabalho de pesquisa que rendeu convites para apresentações em países como Angola, onde Seu Mateus viveu por alguns anos.
Logo em seu primeiro dia, o Percpan promoverá uma mesa-redonda e três encontros culturais na UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, localizada na cidade de Santo Amaro, nos dias 18, 20 e 21, com várias das atrações internacionais: “É mais um esforço de democratizar e descentralizar as ações do Festival através do diálogo com o ambiente acadêmico, estendendo o evento até o Recôncavo Baiano”, resume o curador Alê Siqueira.
Com a proposta de mostrar ao público brasileiro uma combinação do que há de mais relevante no mundo da percussão, o PercPan é hoje referência no gênero. Nos seus 20 anos de existência, o festival promoveu mais de 15 mil horas corridas de música, produzidas por cerca de 800 atrações nacionais e internacionais, como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Hermeto Pascoal, Carlinhos Brown, Naná Vasconcellos, Arnaldo Antunes, Beirut, Sly and Robbie, Rita Marley, Savion Glover e Hypnotic Brass Ensemble. O PercPan é o primeiro festival do mundo dedicado exclusivamente à música percussiva. Em 1998, ganhou as páginas do New York Times, ampliando seu prestígio com edições itinerantes que o levaram a cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Paris.
Vivo Transforma
O PercPan tem o patrocínio da Vivo via plataforma Vivo Transforma, que protagoniza e apoia projetos pautados na formação musical para jovens e na democratização do acesso à música e ao teatro, com ingresso solidário ou de baixo custo. Em 2016, foram destinados mais de 3,8 milhões em projetos voltados à transformação social e à valorização da cultura baiana.
FAZCULTURA – Parceria entre a SecultBA e a Secretaria da Fazenda (Sefaz), o mecanismo integra o Sistema Estadual de Fomento à Cultura, composto também pelo Fundo de Cultura da Bahia (FCBA). O objetivo é promover ações de patrocínio cultural por meio de renúncia fiscal, contribuindo para estimular o desenvolvimento cultural da Bahia, ao tempo em que possibilita às empresas patrocinadoras associar sua imagem diretamente às ações culturais que considerem mais adequadas, levando em consideração que esse tipo de patrocínio conta atualmente com um expressivo apoio da opinião pública.
PROGRAMAÇÃO E SERVIÇO
21º PERCPAN
www.facebook.com/percpan
20 de janeiro (quarta-feira): Mesa-redonda: Acessibilidade musical
Horário: 15h às 17h
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB
Rua do Imperador, 9 – Centro, Santo Amaro
Mediadora: Profª Cátia Cucchi
Convidados: Staff Benda Bilili (RD Congo); Mônica Millet (Bahia); Grupo de Percussão do Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual.
Encontros Culturais
18 de Janeiro, das 14h as 16h: Sona Jobarteh ( Gâmbia/UK)
20 de Janeiro, das 10h as 12h: Khusugtun (Mongolia)
21 de Janeiro, das 10h as 12h: Glass Duo (Polônia)
Programação musical:
SHOWS
– 19 de janeiro (quinta-feira): RIME – Ritmo e Melodia
Horário: a partir das 20h
Teatro Castro Alves
Praça Dois de Julho, s/nº – Campo Grande, Salvador
Tel: 71 3535-0600
Ingressos: R$ 40,00 / R$ 20,00 (meia entrada)
Mestre de Cerimonia: Mateus Aleluia (Bahia, Brasil)
Polônia: Glass Duo
Gâmbia / UK : Sona Jobarteh
Mongólia: Khusugtun – convidados Gabi Guedes, Luizinho do Jêje e Iuri Passos (Bahia, Brasil)
– 20 de janeiro (sexta-feira): INCLUA
Horário: a partir das 20h
Teatro Castro Alves
Praça Dois de Julho, s/nº – Campo Grande, Salvador
Tel: 71 3535-0600
Ingressos: R$ 40,00 / R$ 20,00 (meia entrada)
Mestre de Cerimonia: Mateus Aleluia (Bahia, Brasil)
Salvador, Brasil: Trio MultiFaces – Projeto Neojibá
São Paulo, Brasil: Grupo de Referência de Ourinhos (SP) – Percussão – Projeto Guri – convidados Ari Colares (São Paulo, Brasil)
Bahia, Brasil: Coletivo Rumpilezzinho
– 21de janeiro (sábado): CELEBRE
Horário: a partir das 20h
Largo Terreiro de Jesus – Centro Histórico, Salvador
Mestre de Cerimonia: Mateus Aleluia (Bahia, Brasil)
Bahia, Brasil: Roberto Mendes – O Samba antes do Samba
Pernambuco, Brasil: Lucas & Orquestra dos Prazeres
Republica Democrática do Congo: Staff Benda Bilili
Bahia, Brasil: Muzenza
Espanha: Patax