Iniciado em março, logo nas primeiras semanas da pandemia de coronavírus, o Geocombate Covid-19, estudo realizado por pesquisadores de várias instituições de ensino, além de representantes do governo do estado e da prefeitura de Salvador, tem avaliado as regiões de maior vulnerabilidade a doença na capital baiana.
No último boletim técnico do grupo, 11 bairros foram citados como áreas que demandam maior atenção por parte das autoridades públicas.
Segundo o estudo, que está disponível on-line, Cassange, São Cristóvão, Coutos, Fazenda Coutos, Nova Brasília, Valéria, Paripe, São Tomé de Paripe, Periperi, Nova Constituinte e São Marcos são as regiões mais vulneráveis da cidade. Colaboradora do estudo, a professora Marcella Sgura Viana, que é engenheira ambiental urbana e leciona no Departamento de Engenharia de Transporte e Geodesia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), explicou o método utilizado para classificar os bairros.
Dos 11 bairros citados, São Cristóvão, Paripe e São Marcos passam por medidas restritivas mais rigorosas impostas pela prefeitura, o que inclui a realização de testes rápidos e a proibição do funcionamento de comércio não essencial. Periperi já recebeu a ação da gestão municipal e foi liberada.
A professora afirma que foi formulado um índice que leva em consideração fatores socioeconômicos de cada bairro de Salvador. Para classificar áreas como críticas, o grupo avalia características das habitações, condições de saneamento básico, vulnerabilidade à pobreza e também a existência de pessoas com doenças preexistentes que podem se agravar em caso de contaminação com o coronavírus, como diabetes e hipertensão.
“Essa combinação gerou um índice de vulnerabilidade que varia entre 0 e 1. O 1 é o pior caso de vulnerabilidade. Consideramos a vulnerabilidade mais alta os bairros que apresentam índice maior que 0,7. É importante notar que, apesar dessa vulnerabilidade muito alta dentro de alguns desses bairros, não são os bairros inteiros, mas localidades dentro deles”, explicou Marcella Sgura Viana ao G1.
“A vulnerabilidade local não é um índice que apareceu agora. É uma condição preexistente à pandemia. A gente acredita que essas condições tornam as pessoas vulneráveis à situação de risco, como estamos vivendo nessa pandemia”, completou.
O último boletim da pesquisa também aponta os bairros de Praia Grande, Rio Sena, São João do Cabrito, Alto do Cabrito, Lobato, Boa Vista do Lobato, Boa Vista de São Caetano, Alagados, Mussurunga, Canabrava, Nova Brasília, Águas Claras, Sussuarana, Nova Sussuarana, Novo Horizonte, São Rafael, Sete de Abril, Saramandaia, Bairro da Paz, Gamboa de Baixo, Bate Facho, Palestina, Ilha de Maré, Ilha dos Frades e Ilha de Bom Jesus dos Passos como áreas de risco elevado, mas com índice abaixo de 0,7.
Pituba e Brotas, bairros que concentram o maior número de casos de coronavírus em Salvador, não estão na lista de áreas cujo risco é considerado elevado. A professora Marcella Sgura Viana conta que as características das pessoas que residem nas duas regiões fazem com que a vulnerabilidade seja menor, apesar da existência de exceções.
“A Pituba foi, desde o início, um bairro que começou a ter muitos casos, assim como Brotas. Pituba com a chegada do vírus do exterior e de outros estados, pela característica da população, de classe média ou alta, que tem mais contato com o exterior, se mantém com bastante casos ativos. Mas no nosso índice, esses dois bairros não resultaram como particularmente vulneráveis pelo ponto de vista habitacional, socioeconômico e de saúde”, explica.
“Brotas abrange algumas localidades que apresentam vulnerabilidade um pouco mais alta em respeito a outras áreas. Claro que esses dois bairros precisam de atenção, considerando que os casos ainda são numerosos, mesmo não aparecendo entre os bairros de maior vulnerabilidade”, afirmou.
Para avaliar os índices da população de Salvador, o Geocombate levou em consideração dados fornecidos pelo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), do DataSus e também de instituições como o Ministério Público da Bahia.
Conforme o boletim da Secretaria de Saúde do estado (Sesab), Salvador possui mais de 24 mil casos confirmados de coronavírus, dos quais 9.453 estão ativos. A capital baiana registra 953 mortes em decorrência da doença.
G1