Uma pesquisa publicada nesta terça-feira (6) pelo CPPH (Comitê Paulista de Prevenção de Homicídios na Adolescência — composta por representantes da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo — revelou que oito em cada dez adolescentes em SP flagraram uma cena de violência em escolas.
“A escola deveria ser um espaço de proteção para crianças e adolescentes. Há diversos tipos de violência recorrentes, como casos de bullying e até agressores físicas entre os próprios adolescentes”, afirma Adriana Alvarenga, chefe do escritório do UNICEF em São Paulo. “Em um contexto como o que estamos vivendo, em que as escolas estão reabrindo em função da pandemia do coronavírus, as famílias estão receosas em mandá-los.”
Segundo Adriana, o ambiente escolar é onde são identificados sinais da violência, como arranhões e marcas roxas. “É muito importante que a comunidade escolar trabalhe junto com a escola para que esse tipo de conscientização aconteça”, diz. “Os alunos percebem quando os colegas sofrem violências e podem ajudar.”
A pesquisa demonstra ainda que os adolescentes tem uma série de sugestões para a diminuição da violência nos espaços escolares. “Eles identificam o racismo, falam em desenvolver campanhas contra a discriminação racial, reconhecem a violência contra a mulher”, diz a chefe do escritório do UNICEF.
Para o levantamento sobre violências no cotidiano dos adolescentes, realizado pela Rede Conhecimento Social, entre os meses de janeiro e fevereiro de 2021, foram consultados 747 pessoas de 12 a 19 anos moradoras da capital e Grande São Paulo.
Os números coletados no estudo — que abordou os desejos e medos sobre aspectos como emprego, saúde e moradia, entre outros — revelaram que 61% dos entrevistados admitiram ter flagrado violência na escola mais de uma vez, outros 18% ao menos uma vez e 21% disseram nunca ter sofrido violência no ambiente escolar.
Assim, o ambiente escolar foi considerado o terceiro espaço em que jovens mais presenciaram situações de violência mais de uma vez, atrás da internet/redes sociais, com 85% de casos de violência flagrados ao menos uma vez, além de 7% somente uma vez), e da cidade (75% e 10%)
Quanto mais velhos, mais entrevistados mencionaram ter visto mais de uma situação de violência com adolescentes na escola. É também maior essa parcela entre estudantes da rede pública, jovens LGBTQIA+ e negros (principalmente pretos), indicando a escola como um ambiente em que questões de racismo e LGBTfobia precisam ser temas de debate.
O levantamento mostra também que crianças e adolescentes presenciam cenas de violência em outros espaços. “Há muitos casos dentro da própria casa em uma época em que muitos serviços sociais estão com atendimentos reduzidos”, diz Adriana. “Os jovens ficam ainda mais vulneráveis e, nesse sentido, a escola é um ambiente privilegiado e acolhedor. Nesse cenário, o trabalho dos conselhos tutelares se fortalecessem, mas os casos já chegam para eles em formato de denúncia.”
A violência vivenciada por jovens pode acarretar traumas, quedas no desempenhos escolar e mortes prematuras. O levantamento aponta que quase 20% dos adolescentes perderam conhecidos assassinados. “O homicídio é o resultado de um conjunto de violências sofridas pelos jovens. Ele ocorre quando já estão fora da escola, começam a trabalhar muito cedo e de maneira irregular, sofrem violência comunitária e essas violações podem levar à morte.”
A deputada estadual, Marina Helou (Rede Sustentabilidade), destacou o problema da evasão escolar em tempos de pandemia. “Temos a obrigação de olhar para isso com atenção. Nós negligenciamos nossos jovens e isso tira a oportunidade de desenvolvimento de futuro, eles estão mais vulneráveis nas ruas, nas escolas e no crime organizado”, afirmou.
Para Marina, o legislativo deve oferecer espaço para que os próprios adolescentes falem sobre as violências que sofrem. “É importante trazer os adolescentes para eles nos ajudarem a melhorar esse monitoramento de políticas públicas”, diz. Além disso, ela reforça que para reduzir os homicídios nessa parcela da população é preciso combater as violências anteriores, nas escolas e nos aparelhos públicos.
Ainda de acordo com os dados da pesquisa elaborada pela CPPHA, sete em cada dez moradores da Grande São Paulo jovens pretos e pardos ou que tenham estudado em escola pública não se sentem seguros nas escolas. A CPPH apurou que 3.165 meninos e meninas foram vítimas de morte violenta no estado entre 2016 e 2020, apesar da redução de 32% nos índices durante o período em todo o território paulista.
A pesquisa identificou ainda os principais medos e desejos dos adolescentes. “Eles estão se preparando para entrar ou já ingressaram no mundo do trabalho e têm boas perspectivas para além da preocupação de se manterem financeiramente”, diz Adriana. “É importante que a escola seja atrativa para garantir o direito à educação. Para que não caiam no trabalho infantil, é importante que as empresas ofereçam vagas de aprendizagem.”
R7