Dois artigos publicados pela revista Blood Advances na quarta-feira (14) afirmam que o risco de contrair covid-19 é mais baixo para pessoas do grupo sanguíneo O, enquanto aquelas com sangue dos tipos A e AB estariam mais propensas a desenvolver sintomas graves e a apresentar complicações.
Esta não é a primeira vez que pesquisadores relacionam grupos sanguíneos à vulnerabilidade ao contágio pelo novo coronavírus e à evolução da doença, já que um artigo publicado em junho pelo New England Journal of Medicine defendia que o sangue do tipo A estava associado a um risco 50% maior de necessidade de ajuda mecânica para respirar, e que o tipo O conferia um “efeito protetor”.
Uma das pesquisas publicadas na quarta-feira (14) concluiu que pessoas com sangue do tipo O podem ter um risco menor de serem infectadas pelo novo coronavírus, com base em dados do registro de saúde da Dinamarca.
Os cientistas compararam um grupo de 473.654 pessoas que foram submetidas a testes para Covid-19 do tipo PCR em tempo real entre 27 de fevereiro e 30 de julho (7.422 positivos e 466.232 negativos), com outras 2.204.742 que não haviam sido testadas, número que corresponde a aproximadamente 38% da população da Dinamarca.
O estudo também levou em conta dados sobre taxas de internação e morte relacionadas à doença, assim como a influência de fatores como idade, problemas cardiovasculares e profissão em pessoas infectadas.
Entre os pacientes, apenas 38,41% tinham sangue tipo O, enquanto no grupo de controle esta porcentagem era de 41,7%, o que se traduz numa taxa de risco relativa de entre 0,83% e 0,91% de contrair a doença para indivíduos deste grupo sanguíneo.
“Houve uma diferença leve, mas estatisticamente significativa, na distribuição do grupo sanguíneo entre os indivíduos que testaram negativo para (o coronavírus) Sars-CoV-2 e o grupo de referência. Entre aqueles com Sars-CoV-2, foram encontrados consideravelmente menos indivíduos do grupo O, e mais indivíduos A, B e AB. Quando o grupo sanguíneo O foi excluído, nenhuma diferença significativa foi observada entre A, B e AB”, detalha o artigo.
Apesar de identificar o grupo sanguíneo como fator de risco para contrair a infecção, a pesquisa destaca que não encontrou nenhuma relação com a necessidade de internação ou com mortes causadas pela Covid-19.
O outro estudo publicado nesta quarta-feira, realizado no Canadá, afirma, por sua vez, que pessoas com grupos sanguíneos A ou AB estariam propensas a desenvolver sintomas mais graves da doença e teriam maior risco de desenvolver lesões pulmonares e de precisar de respiradores mecânicos, além de permanecerem mais tempo internadas do que aquelas com grupos sanguíneos O ou B.
Isso poderia estar relacionado a um possível efeito “protetor” contra o vírus causado presença de anticorpos anti-A, o que já foi observado no caso do Sars-CoV-1 e que “poderia ter alguma relevância” para as infecções pelo coronavírus.
Para chegar a esses resultados, os pesquisadores analisaram o sangue de 95 pacientes internados em estado grave em um hospital de Vancouver, no Canadá.
Enquanto 61% dos 57 pacientes que tinham sangue O ou B precisaram da ajuda de respiradores, a taxa foi de 84% entre os 38 com tipos A e AB.
Os cientistas também observaram que mais pacientes com grupos sanguíneos A e AB precisaram ser submetidos a hemodiálise devido a insuficiência renal.
Embora os dois estudos incluam evidências de uma associação entre o tipo de sangue e a vulnerabilidade à Covid-19, seus autores defendem que mais pesquisas ainda são necessárias para entender melhor como esse fator afeta os pacientes.
R7