A família da ex-primeira-dama e mulher de Luiz Inácio Lula da Silva, Marisa Letícia Lula da Silva, 66, autorizou o procedimento de doação de órgãos após constatação de morte cerebral. Os médicos verificaram a parada total das funções cerebrais da paciente, um quadro que é irreversível.
O ato da família poderá ajudar quem está na fila de doação de órgãos, esperando por um transplante. No Brasil, existem mais de 40 mil pessoas cadastradas na lista do SUS (Sistema Único de Saúde) para receber órgãos. A princípio, qualquer pessoa que tenha tido a morte encefálica confirmada pode se tornar doadora. Doenças crônicas e infecções podem comprometer a doação.
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A falta de conscientização da população sobre as etapas e a importância da doação, o déficit de preparo de equipes médicas para lidar com a situação e a precariedade da saúde pública são algumas das causas do baixo número de doadores, de acordo com Maria Lúcia Sadala, professora da Faculdade de Medicina da Unesp e pesquisadora do tema. “É uma realidade complexa”, afirma.
Veja quais são as seis etapas da doação
1 – Morte cerebral é diagnosticada
A morte cerebral é causada por traumatismos cranianos ou acidentes vasculares, como o sofrido por Marisa Letícia. Ela é diagnosticada a partir de testes como o eletroencefalograma e a angiografia cerebral. De acordo com Sadala, a família precisa ser esclarecida sobre todos os passos do diagnóstico de morte encefálica assim que é dado início aos protocolos de confirmação. Dois testes são realizados, com intervalo de seis horas entre eles. A falência do cérebro não impede que o coração continue batendo. Por isso, os órgãos são preservados e podem ser doados.
2 – Família autoriza a doação
Apenas a família do paciente que teve morte encefálica pode autorizar a doação de órgãos. Caso haja concordância, um documento autorizando a cirugia é assinado. No Brasil, é baixo o número de famílias que autorizam a doação – cerca de metade das famílias de potenciais doadores, segundo o Ministério da Saúde. Por isso, quem quer ser um doador de órgãos precisa deixar claro esse desejo conversando com a família ainda em vida. A decidão pela doação de órgãos ocorre em um momento de dor, o que exige grande sensibilidade por parte da equipe médica, lembra Sadala.
3 – Histórico clínico do doador é verificado
Antes da doação ocorrer, é necessário conhecer o histórico clínico do doador. Para isso, a família responde a um questionário elaborado pelos médicos. É importante verificar a existência de possíveis doenças que possam ser transmitidas ao receptor. Doenças crônicas, diabetes e infecções podem comprometer os órgãos e inviabilizar o transplante. Os médicos também realizam testes biológicos e físicos que servem para indicar a possível compatibilidade com pacientes que estão na fila do transplante.
4 – Órgãos são retirados; começa corrrida contra o tempo
Passadas todas as etapas anteriores, começa uma corrida contra o tempo para a retirada de órgãos e preservação deles durante o transporte. Os primeiros a serem doados são aqueles que duram menos tempo fora do corpo, como o coração e o pulmão (entre 4h e 6h). As córneas (até 7 dias) e os ossos (até 5 anos) são os que duram mais. Os dados do doador são cruzados com o dos potenciais receptores através de um sistema que integra 27 centros de notificação. O candidato ideal pode ser encontrado em qualquer parte do país. Mas a urgência e tempo de espera contam bastante nessa hora.
5 – Transporte é feito com auxílio voluntário de cias aéreas
O Ministério da Saúde possui um acordo de cooperação com companhias aéreas que possibilita o transporte aéreo de tecidos e órgãos gratuitamente em voos comerciais. De acordo com a pasta, mais de mil órgãos e mais de dois mil tecidos para transplantes são transladados entre diferentes Estados. Os órgãos e tecidos também podem ser transportados por terra. As Centrais Estaduais de Transplantes se responsabilizam pelo transporte nesse caso. Recentemente, o presidente Michel Temer determinou que a FAB (Força Aérea Brasileira) forneça apoio, quando necessário.
6 – Transplante é realizado; receptor passa por recuperação
Assim que o órgão chega ao seu destino, o receptor já aguarda para o transplante. O pós-operatório é semelhante ao de outras cirurgias. O sucesso, contudo, depende das condições do órgão e do estado de saúde do paciente. Para evitar a rejeição do corpo ao novo órgão, é necessário tomar remédios imunossupressores pelo resto da vida. Segundo o Ministério da Saúde, a sobrevida dos pacientes depois de cinco anos da cirurgia é de 60% nos casos de transplante de fígado e pulmão, 70% para cirurgias de coração e 80% para os transplantes de rim. Em geral, as famílias não sabem para quem vai os órgãos de seus parentes.