O empresário Joesley Batista, dono do grupo JBS, foi preso temporariamente pela PF (Polícia Federal) na manhã desta sexta-feira (9), em São Paulo (SP), na operação Capitu, mais um desdobramento da operação Lava Jato.
O vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade, também foi preso por, supostamente, fazer parte do esquema quando era ministro da Agricultura no governo Dilma Rousseff (PT).
O ex-executivo da JBS Ricardo Saud também é alvo da operação, mas a prisão dele não está confirmada.
A PF investiga um esquema de corrupção envolvendo políticos, partidos e o Ministério da Agricultura. Joesley e Andrade seriam parte desse esquema.
Até o momento, a PF cumpriu, em São Paulo, dois mandados de prisão. A PF informou também que duas pessoas, alvos de pedidos de prisão, estão viajando e outras duas não foram localizadas ainda. As informações são da repórter Marcela Varasquim, da RecordTV.
Em nota, a defesa do empresário Joesley Batista afirmou que a prisão “causa estranheza” porque ele é “colaborador da Justiça e tem cumprido à risca essa função”.
O governo de Minas Gerais também foi contatato pelo R7, por e-mail e telefone, mas, até o momento, não foi localizado.
Leia a nota da defesa de Joesley Batista na íntegra:
“Joesley Batista é colaborador da Justiça e tem cumprido à risca essa função. Portanto, causa estranheza o pedido de sua prisão no bojo de um inquérito em que ele já prestou mais de um depoimento na qualidade de colaborador e entregou inúmeros documentos de corroboração. A prisão é temporária e ele vai prestar todos os esclarecimentos necessários.
André Callegari, advogado do Joesley Batista”
Batizada de operação Capitu, a ação acontece em cinco estados brasileiros — Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba e Mato Grosso — e no Distrito Federal. As autoridades cumprem 62 mandados de busca e apreensão e 19 de prisão temporária, totalizando 81.
Andrade chefiou a pasta da Agricultura de 2013 até março de 2014. As investigações apuram suposta fraude envolvendo doações irregulares por uma empresa de processamento de proteína animal para políticos e partidos.
Segundo a Receita Federal, “duas grandes redes varejistas do estado de Minas Gerais, por meio de seus controladores e diretores, participaram diretamente desse esquema”.
A suspeita é de que a empresa utilizou o grande movimento de dinheiro em espécie para dar “ar de licitude” aos valores doados aos parlamentares entre agosto de 2014 e fevereiro de 2015. O inquérito do caso foi instaurado com base em delações prestadas por Lúcio Funaro.
Segundo a PF, “a operação é baseada na delação de Lúcio Funaro, apontado como operador do MDB”. As investigações apontam que havia um esquema de arrecadação de propina dentro do Ministério da Agricultura para beneficiar políticos do MDB, que recebiam dinheiro da JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, em troca de medidas para beneficiar as empresas do grupo.
A operação foi batizada como “Capitu” em alusão a uma suposta traição de Capitu, personagem do livro Dom Casmurro de Machado de Assis.
Funcionamento do esquema
O dinheiro seria repassado pela rede varejista aos parlamentares e partidos por meio de simulação de recebimento de duplicatas pela grande empresa de processamento de proteína animal e pela transferência financeira a seis escritórios de advocacia por serviços, supostamente não realizados, acobertados por contratos simulados e notas fiscais de tais escritórios.
As investigações apontam também um esquema de pagamento de propina a altos dirigentes do Ministério da Agricultura e Pecuária, que receberiam o dinheiro em troca de regras e atos normativos benéficos à grande empresa do ramo. Os valores chegam a mais de R$ 22 milhões.
Segundo a PF, as propinas eram negociadas, geralmente, com um deputado federal e entregues aos agentes políticos e servidores do Ministério da Agricultura por Funaro. Alguns dos temas aprovados com base na propina estariam a regulamentação da exportação de despojos (R$ 2 milhões de propina), a proibição do uso da ivermectina de longa duração (R$ 5 milhões) e a federalização das inspeções de frigoríficos. Neste último caso, um deputado federal teria recebido R$ 50 mil para promover a mudança.
A PF também identificou um susposto financiamento ilegal de campanha de um deputado federal para a Presidência da Câmara dos Deputados em troca de atendimentos aos interesses do grupo no Ministério. O parlamentar teria destinado R$ 15 milhões a outro deputado mineiro.
Escritórios de advocacia emitiam notas fiscais frias. Segundo a PF, “uma das maiores redes de supermercado do país também teria integrado a engrenagem de lavagem de dinheiro oriundo do esquema, repassando aos destinatários finais os valores ilícitos em dinheiro vivo e em contribuições “oficiais” de campanha. O total de doações “oficiais” feitas por empresas vinculadas e administradas por um empresário do ramo de supermercados nas eleições de 2014 totalizou quase oito milhões e meio de reais”.
Os envolvidos podem responder pelos crimes de constituição e participação em organização criminosa, obstrução de justiça, falsificação de documentos, crime contra a ordem tributária, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro. Caso condenados, as penas podem ir de três a 120 anos de prisão.
O suposto esquema envolveu agentes públicos, políticos e partidos políticos, além de uma grande empresa do setor alimentício de processamento de carnes, duas grandes redes de supermercados de Minas Gerais e escritórios de advocacia.
R7