Um dos oitos policiais militares investigados pela morte do engenheiro elétrico Moacyr Trés da Costa Trindade, 61 anos, durante uma abordagem, foi indiciado pela Polícia Militar por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, em inquérito conduzido pela Corregedoria da corporação. A informação foi confirmada pela assessoria da PM nesta terça-feira (20).
O caso aconteceu em junho deste ano. De acordo com as investigações da PM, as balas removidas do corpo da vítima saíram de uma submetralhadora automática que, no dia do crime, era usada pelo policial indiciado. Segundo a PM, o inquérito será remetido ao Ministério Público da Bahia (MP-BA), que também apura o caso, até o final da semana.
Os outros sete policiais envolvidos na ação responderão por infrações administrativas, informou a PM. Todos os oito agentes foram afastados das ruas e cumprem expediente administrativo.
Em contato com o G1, os advogados da família do engenheiro, Aderbal da Cunha e Bruno Rodrigues, informaram que aguardam o parecer do Ministério Público e da Polícia Civil, que também investiga o caso.
Por meio da assessoria, a Polícia Civil informou que o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) está à frente das investigações e que o inquérito ainda não foi concluído.
Caso
O engenheiro elétrico Moacyr Trés da Costa Trindade morreu após ser baleado durante uma ação da Polícia Militar, no bairro do Imbuí, em Salvador. No Instituto Médico Legal (IML), os policiais contaram que a vítima foi baleada após fugir de uma blitz.
Moacyr também era professor e durante 30 anos deu aulas para alunos do Instituto Federal da Bahia (Ifba), na capital baiana. Segundo os familiares, o engenheiro desapareceu no dia 18 de junho, após realizar compras em um mercado, na Avenida ACM. Ele estava a caminho do condomínio onde construía uma casa, na Avenida Paralela.
A família chegou a achar que o engenheiro estaria desaparecido. O corpo de Moacyr foi localizado por amigos e familiares no IML de Salvador uma semana após o sumiço dele.
Segundo o advogado da família, Aderbal Gonçalves, o IML tinha conhecimento da identidade do engenheiro e já tinha encaminhado o documento do caso à Corregedoria da PM, que começou a apurar a situação antes mesmo da família saber da morte do engenheiro.
O carro que Moacyr dirigia foi levado para pátio do Departamento de Polícia Técnica (DPT). O veículo tinha marcas de tiro nas portas e nos pneus. O vidro de uma das janelas foi quebrado e, sobre o banco da frente, havia uma sacola com leite e granola.
Conforme infomações do advogado da família, foram encontradas versões diferentes informadas pelos policiais no IML. Na ocasião, a PM informou, em nota, que os policiais envolvidos na ação disseram que Moacyr estava dirigindo em alta velocidade e por isso foi perseguido. Ele não teria atendido às ordens de parar, o que levou os policiais a atirarem.
Ação por agressão
A família e os advogados do engenheiro elétrico descobriram, ao ingressar com o inventário, que ele movia um processo contra o Estado da Bahia, no qual alegava ter sido agredido por agentes da Polícia Militar, também durante uma suposta abordagem. O caso ocorreu em março de 2015.
Outro advogado é responsável por representar Moacyr no caso referente às agressões no ano de 2015. Ao G1, Guilherme Reis explicou que o Estado é alvo da ação porque é responsável pelos atos de seus servidores.
Na ação movida por Guilherme, consta que Moacyr foi agredido por PMs após ser abordado no trânsito de Salvador. Os policiais estariam em motocicletas. Na ocasião, conforme o advogado, após um desententimento os policiais furaram os pneus do carro do engenheiro e também atiraram no veículo, além de quebrarem um dos vidros do automóvel.
À época do ocorrido, engenheiro foi acusado de desacato pelos PMs. A Polícia Militar abriu o ação na Justiça contra Moacyr. Como não houve provas, o processo foi arquivado pelo Ministério Público. Conforme o advogado, no início de 2016, Moacyr entrou com um pedido de indenização de R$ 350 mil contra o Estado por conta do ocorrido. O processo tramita na 7° Vara da Fazenda Pública, do Trbunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).
Conforme Bruno Rodrigues, advogado que está no caso referente à abordagem que resultou na morte do engenheiro, a ação contra a corporação por conta do desentendimento entre Moacyr e os PMs em 2015, foi uma surpresa tanto para ele, quanto para a família do engenheiro. Moacyr estava separado há cerca de um ano e não morava com o único filho.
O advogado Bruno Rodrigues disse que não acredita que os dois casos de agressão [em 2015 e em 2016] tenham relação.
G1