Casas conectadas, realidade virtual, carros autônomos, robôs. Tudo isso foi visto com alguma pompa na última CES (Consumer Electronics Show), maior feira de tecnologia do mundo, que aconteceu no começo do ano em Las Vegas (EUA). Mas a maioria dos produtos mostrados por lá são protótipos, difíceis de comprar ou caros demais para a realidade brasileira –e para boa parte dos americanos e europeus também.
Além disso, as tecnologias disponíveis nem sempre estão bem acabadas. Por exemplo, ainda estamos esperando uma cozinha quase autônoma, com geladeira e fogão capazes de preparar sozinhos um alimento, ou utensílios inteligentes que cuidem da limpeza completa da roupa e da casa.
Por que estas tecnologias ainda não estão acessíveis?
Executivos ouvidos pelo UOL durante a feira deram diferentes razões para esse atraso. Para Ken Hong, diretor sênior de comunicações globais da LG, há um entrave na hora de transformar uma invenções em um produtos vendido em larga escala.
“Nenhum consumidor sabe o que vem a seguir, esse não é o papel deles. Você [a indústria] tem que criar a demanda. Podemos mostrar que eles querem o iPod, porque o Walkman é muito grande e não tem qualidade sonora. Ou que meu cavalo é muito lento, por isso preciso de um carro. Mas ninguém sabe isso até você mostrar”, explicou.
A criação dessa demanda, por tanto, é uma aposta. “As pessoas precisavam de celulares modulares [referindo-se ao LG G5]? Não sabíamos, mas oferecemos. E as pessoas decidem, com suas carteiras, se isso é algo que querem”, disse.
Reduzir o tempo entre a criação de um produto e sua massificação também é uma tarefa complexa, afirmou Hong: “Quem decide se esse intervalo é aceitável? O mercado muda todo ano, depende do país, da idade dos consumidores… há tantos fatores. Não sabíamos se as pessoas iriam querer a TV 3D, mas a oferecemos por três anos. E enquanto surgem coisas novas, ainda precisamos promover coisas mais antigas.”
Para Rafael Steinhauser, presidente da Qualcomm na América Latina, inventar não é suficiente. É necessário criar um mercado para novos produtos, e isso demanda tempo e cuidado. Como exemplo ele cita a quinta geração da telefonia (5G), que foi inventada há três anos, mas só será comercializada massivamente em 2020, e o carro autônomo, que aos poucos começa a chegar ao mercado:
Leva tempo para virar realidade. Você traz primeiro para os caras com dinheiro e ‘early-adopters’ [apaixonados por novas tecnologias], só depois se torna massivo. Além disso, há questões éticas que regulam nossas invenções antes de irem ao mercado. A realidade virtual, por exemplo, levanta uma série de questões
Mas, calma: se as melhores invenções ainda não chegaram na sua casa, isso não quer dizer que a indústria não está atenta a elas.
“Não temos esses recursos disponíveis [cozinhas e robôs 100% autônomos, por exemplo] agora, mas se é algo que nossos consumidores estão interessados, certamente procuraremos algo nesse sentido. A internet das coisas abre um monte de possibilidades que ainda estamos explorando”, diz Lore Mckenna, gerente de relações públicas de produtos para casa da Bosch.
Mas, enquanto isso não acontece, o UOL listou uma série de invenções que queremos “pra ontem”.
Forno que reconhece comidas e regula o cozimento
O que seria: Sabe quando você passa o produto pelo laser do código de barras e ele te diz o preço? Seria algo assim, mas com o forno e as comidas. Ao passar pela portinha do forno, a comida seria imediatamente identificada, e a inteligência artificial do forno começaria a cozinhá-la, com temperatura e tempo certos, de acordo com as receitas pré-programadas.
O que temos: Por US$ 1.495 você pode comprar o forno June, com câmera HD interna. Com ela, o forno reconhece o que você está cozinhando, sugere a melhor técnica de cozimento e mostra sua comida ficando pronta em tempo real pelo app para celular. O aplicativo ainda traz ajustes de cozimento e alertas personalizados.
Geladeira e fogão autônomos, que “se entendem”
O que seria: A geladeira saberia, por exemplo, quanto de ovo, carne, tomate, manteiga, etc estão na prateleira. Ela se comunicaria com o fogão, que ligaria sozinho e prepararia uma omelete, regulando temperatura e tempo, por exemplo. Caberia à pessoa apenas confirmar o prato desejado (com um apertar de botão ou com a voz).
O que temos: Já existem muitos fornos com receitas pré-programadas e painel digital para moderar detalhes do cozimento, mas nenhum deles têm esse nível de comunicação com a geladeira. E os refrigeradores mais modernos também não são capazes de saber quais alimentos têm dentro –no máximo, tiram fotos e mandam para o aplicativo, como faz este modelo da Samsung.
Geladeira que sabe o que está faltando e faz compras sozinha
O que seria: Supermercado nunca mais. A sua geladeira faz isso por você. Conectada à internet e dotada de sensores ou câmeras (ou ambos), ela saberia que alimentos estão faltando e os compraria para você em um serviço de entrega em casa.
O que temos: Estamos perto. A geladeira Smart Instaview da LG vem com a assistente pessoal Alexa, da Amazon, que reconhece seus comandos de voz e te ajuda em algumas tarefas. Você pode pedir para ela comprar mais comida no site da Amazon Fresh, que entrega em casa. Mas você ainda precisará checar o que está faltando. E custa caro: US$ 3.000 nos EUA.
Máquina que lava, seca, passa e dobra a roupa
O que seria: Nossas máquinas de lavar roupa por décadas fazem isso relativamente bem, mas não completam o serviço. O ideal é que as roupas saiam prontas para ir para o armário –e se não for pedir muito, que arrumem o armário também. Talvez quando inventarem o robô-doméstico perfeito, mas ainda falta muito.
O que temos: Um modelo de luxo chamado Adora SLQ WP, da fabricante suíça V-ZUG, já seca e passa a roupa. Traz uma função de secagem a vapor, com antirrugas, que promete ser tão eficiente que dispensa o ferro de passar. Mas o produto custa 2.950 libras (R$ 11.690). Ah, e não dobra as roupas. Mas já inventaram uma máquina que só dobra a roupa, chamada Foldimate, atualmente em pré-venda por a partir de US$ 700 (R$ 2.250).
Máquina de lavar que dá a previsão do tempo
O que seria: Já que não temos a máquina que faz o serviço completo, que tal uma que pelo menos saiba quando vai chover? Com aplicativos de previsão do tempo, a lavadora nos avisaria da hora certa para começar a lavar a roupa –bem antes ou bem depois da chuva. Isso evitaria que a roupa ficasse molhada no varal.
O que temos: Algo que não é isso, mas tem utilidade similar. O Peggy, um aparelho desenvolvido pela marca de sabão em pó Omo, usa sensores de temperatura, umidade e de luz para medir as variações no clima e possibilidades de chuvas. Está atualmente na fase de protótipo e testes.
Cama que se arruma sozinha
O que seria: Pouca gente gosta de arrumar a cama, certo? Então que tal uma cama que faça isso sozinha?
O que temos: Smartduvet é o nome de uma invenção colocada para financiamento coletivo no site Kickstarter. Ele faz exatamente isso: os lençóis são entrelaçados com algum tipo de arranjo mecânico e assim voltam ao seu devido lugar sozinhos. Os preços vão de US$ 269 (cama de solteiro) a US$ 399 (cama king size). O produto deve sair em maio.
Porta que reconhece nosso rosto
O que seria: Com uma câmera, tecnologia de reconhecimento de rostos e uma porta automática, nunca mais precisaríamos de chaves.
O que temos: Quase isso. Dois modelos de câmeras de segurança da Netatmo, a Welcome e a Presence, já estão à venda nos EUA e contam com reconhecimento de rosto. Mas isso serve hoje basicamente para que o aplicativo avise aos donos da casa quem está por perto. Elas não abrem ou fecham a porta automaticamente. Este poderá ser o próximo passo, se for algo confiável –afinal, quem garante que um estranho com uma foto sua não conseguiria entrar?
Máquina de café super programável
O que seria: Uma cafeteira que faça sozinha nosso café em horários programados do dia. Quem sabe uma que moa os grãos, ferva a água e passa um café de filtro, talvez com leite quente cheio de espuma? Ou uma função que acionasse também a torradeira na hora certinha?
O que temos: Alguns modelos mais modernos da marca Cuisinart, como o DGB 550BK e DGB 900BC, já programam o café pronto, mas no esquema de cafeteira elétrica. Os modelos não estão à venda no Brasil, mas lá fora a mais barata delas custa US$ 70 (R$ 225).
Geladeira que regula a temperatura sozinha
O que seria: Para economizar energia, a geladeira teria algum tipo de sensor que reconheceria o frio externo e por isso geraria menos energia para gelar. Além disso, haveria alguma maneira desse frio natural “entrar” e ajudar a manter a temperatura baixa dentro dela.
O que temos: Até agora, pelo que pesquisamos, ninguém ainda pensou nisso. Fica a dica.
Vasos autoirrigáveis
O que seria: Você é daqueles que sempre esquece de regar as plantas? Ou que viaja e não tem que cuide dos vasos? Falta um sistema que se encarregue disso, mantendo a regularidade e o nível certo de água para cada planta.
O que temos: Um projeto na plataforma de financiamento coletivo Kickstarter lançou o Tableau, que faz isso com uma condição: você ainda vai precisar encher um vaso grande de água regularmente –seria melhor se fosse algo saído direto da torneira.
uol