O desabafo de Cleo Pires sobre a relação com o corpo após ter engordado 20 kg tem dado o que falar desde domingo (5), quando ela concedeu uma entrevista ao ‘Fantástico’ e revelou que passou a evitar sair de casa após ganhar peso. “Eu morria de vergonha, medo de sair, aparecer nos lugares. Parecia que eu estava fazendo algum mal”, desabafou a atriz.
Embora submetida ao ‘linchamento’ virtual, a relação corporal pouco saudável vivenciada por Cleo não é exclusividade da famosa. É o que conta a psicóloga clínica e criadora da página ‘Meu Querido Corpo’, Raquel Guimarães. “É muito comum ouvir relatos de mulheres que deixaram de fazer determinadas coisas no auge da insatisfação corporal. Elas evitam de festas a reuniões de trabalho.”
Para Raquel, o caso de Cleo Pires acaba sendo mais difícil por se tratar de uma figura pública, mas também reflete a maneira como as mulheres – celebridades ou anônimas – são tratadas no dia a dia.
“Entende-se que corpo de mulher é domínio público para ser visto e apreciado. Se existe uma indústria que lucra bilhões com insatisfação corporal, também existe uma sociedade que vê o corpo da mulher como algo passível de comentário público, como se não pertencesse à mulher, mas à sociedade.”
Na perspectiva da psicóloga, é inevitável que esse culto excessivo à imagem corporal afete o psicológico das mulheres. “Isso afeta a saúde mental em vários níveis a partir do momento em que o valor delas perante a sociedade está atrelado à maneira como o corpo se parece”.
‘Body shaming’ x gordofobia
Segundo a especialista, a exclusão de quem está acima do peso é apenas um dos comportamentos nocivos que as pessoas podem apresentar em relação ao corpo. “Body shaming (em português, vergonha do corpo) é diferente da gordofobia porque é mais amplo: uma pessoa pode sofrer comentários negativos por conta do tamanho do nariz ou da boca, da altura. Já a gordofobia é a exclusão social da pessoa gorda. A gordofobia também tem ‘body shaming’, mas nem todo ‘body shaming’ é gordofobia”, explica Raquel.
‘O corpo é muito mais do que uma massa de modelar’
A boa notícia é que nenhuma mulher precisa passar pela vida com medo de sair de casa por vergonha do próprio corpo. Raquel explica que, além do tratamento terapêutico, existem outras medidas que podem ser tomadas para diminuir o impacto do olhar público sobre a autoestima. “Se um perfil está fazendo você se sentir mal com seu próprio corpo, será que você deve deixar de seguir essa pessoa?”, questiona a terapeuta.
Para além do consumo responsável de conteúdo nas redes sociais, Raquel reforça que a relação com o corpo pode ser muito mais do que estética. “É um instrumento de explorar o mundo. É a partir do corpo que você vai abraçar, beijar, sentir calor, frio e andar até o topo de uma montanha. Todas essas sensações gostosas você viveu por causa do corpo. A chave é entender que seu corpo é muito mais do que uma massa de modelar.”
R7