Todos os anos, depois do carnaval, aqueles que seguem a religião católica passam 40 dias em reflexão e jejum, relembrando os 40 dias que Jesus Cristo passou no deserto antes de sua morte e ressurreição. A Quaresma, como o período é chamado, também é uma forma de lembrar dos 40 anos durante os quais Moisés guiou seu povo rumo à Terra Prometida. Esse período acaba na Páscoa, com a grande festa que comemora a vitória da vida sobre a morte. Mas, se é uma festa, então por que, na Sexta-Feira Santa, os católicos evitam comer carne vermelha?
De acordo com a doutrina católica, a prática do jejum tem uma série de objetivos para a vida de quem a adota. Na Quarta-Feira de Cinzas, quando a Quaresma começa oficialmente, uma das palavras lidas na missa é justamente “ordenai um jejum” (cf. Jl 1,14). Essa é, por exemplo, uma forma de se solidarizar com a prisão, tortura e crucificação de Cristo. Por isso, muitos católicos costumam fazer algum tipo de jejum até mesmo fora do período da Quaresma, normalmente abdicando de um ou mais tipos de alimento ou passando determinados períodos do dia sem se alimentar.
Nesse sentido, não comer carne vermelha seria uma forma de demonstrar solidariedade e respeito a Jesus. A coordenadora pedagógica para escolas confessionais conveniadas ao Sistema Positivo de Ensino, Lúzia Martins, explica que “a renúncia da carne nos lembra de que é o Espírito que vivifica a carne, não o contrário. A carne, nesse caso, deve estar ou ser submetida ao Espírito, para ser carne de verdade. Caso contrário, se corrompe. Deixar de comer carne é um exercício material, concreto na quaresma para lembrar o homem dessa realidade transcendente na sua relação com o Sagrado”.
Mas, na religião católica, o jejum na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa é mais que apenas uma sugestão. Segundo o Código de Direito Canônico, nesses dias é obrigatório abdicar da carne ou de outro alimento que traga prazer ao fiel. “Cân. 1251: Observe-se a abstinência de carne ou de outro alimento, segundo as prescrições da Conferência dos Bispos, em todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; observem-se a abstinência e o jejum na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.”
No entanto, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) permite que se substitua a abstinência de carne por um ato de piedade, uma obra de caridade ou a substituição da carne por outro alimento. “Em relação à abstenção de alimentos ou troca de algum deles, tudo depende daquilo que a pessoa mais gosta. Se, por exemplo, sou fascinada por chocolate e não consigo ficar sem comer um dia sequer, posso fazer jejum disso, em vez da carne. O mesmo vale para outros doces, café, cigarro, álcool e daí por diante”, afirma Lúzia.