Beber além do que o organismo consegue suportar, além de deixá-lo embriagado, tende a ter efeitos ruins no dia seguinte, incluindo a perda de memória de momentos em que estava alcoolizado.
Antes de entender como isso acontece, é preciso saber que o organismo consegue metabolizar, no máximo, 10 g de álcool por hora. Beber mais do que isso aumenta o risco de ter efeitos negativos, explica a gastroenterologista Elaine Moreira, da Federação Brasileira de Gastroenterologia.
A médica observa que quando bebemos mais que isso o corpo demora de 4 a 12 horas para metabolizar o álcool. É por isso que sentimos os sintomas característicos ainda no dia seguinte.
“Equivale mais ou menos a uma lata cerveja ou uma taça de vinho. Se você bebe mais que isso em menos de uma hora, já é excesso”, afirma Elaine.
O excesso de álcool causa uma intoxicação no organismo, desidratação e hipoglicemia (queda do nível de açúcar no sangue). Além disso, no processo de metabolização é liberada uma substância chamada acetaldeído, que é muito prejudicial para o organismo.
Ainda não se sabe qual a causa de um dos principais sintomas da ressaca, a dor de cabeça. Segundo o neurologista Marcelo Ciciarelli, da Academia Brasileira de Neurologia, existem algumas hipóteses.
A primeira está relacionada à desidratação causada pelo álcool, que funcionaria como um gatilho para pessoas que já têm predisposição para a dor, como as que possuem enxaqueca.
A segunda hipótese é a de que, apesar de a bebida alcoólica deixar a pessoa sonolenta, ela suprime uma das fases do sono, a REM (movimento rápido dos olhos).
“É quando ocorrem os sonhos, e quando nós fixamos as memórias do dia. É por isso que esquecemos as coisas quando bebemos muito”, afirma.
Uma terceira hipótese é a de que o álcool gera um processo inflamatório em todo o corpo. “São liberados mediadores inflamatórios, e os vasos do cérebro ficam mais dilatados. Isso pode causar dor”, afirma.
Outros sintomas comuns são dor de estômago, náusea e vômitos. Segundo Elaine, o enjoo pode ser causado pela hipoglicemia.
“Como as enzimas do fígado estão ocupadas tentando metabolizar o álcool a produção de glicose fica alterada, e a pessoa não tem glicose suficiente. A hipoglicemia dá mal-estar, fraqueza, enjoo e em último caso pode chegar ao coma alcoólico”, explica.
Além disso, o álcool inibe a produção do muco protetor do estômago, deixando a parede do órgão exposta à ação de outras substâncias e do próprio álcool.
A terceira causa dos vômitos é que o acetaldeído deixa a digestão mais lenta e o álcool agride o pâncreas, responsável por produzir enzimas digestivas.
“Como o alimento e o próprio álcool ficam mais tempo no estômago, a chance de vomitar é maior”, afirma Elaine.
Além disso, as bebidas alcoólicas deixam o esfíncter — válvula que separa o esôfago e o estômago — mais relaxado, causando refluxo.
Os dois médicos não indicam a utilização de medicações compostas para ressaca.
“Não tem nenhuma comprovação científica. Vai ter o analgésico que ajuda, mas o melhor é tomar a medicação específica para o sintoma que você apresenta”, afirma Ciciarelli.
Eles alertam, que o uso frequente desse tipo de remédio pode levar ao desenvolvimento de gastrites e problemas renais.
As recomendações são consumo de água durante e após a ingestão de álcool, alimentação saudável e repouso enquanto persistirem os sintomas da ressaca.
A gastroenterologista indica ainda a utilização de chás digestivos. “Apesar de não ter comprovação científica, funciona muito bem na prática, indico para todos meus pacientes… De boldo, erva cidreira, erva doce e hortelã”, sugere.
Elaine explica que para saber a quantidade de água a ser ingerida ao dia ela multiplica 30 ml por quilo do paciente. “Quando for beber, são 40 ml por quilo, sempre intercalando. Uma taça de vinho, um copo de água”, afirma.
Ciciarelli lembra que nas festas de fim de ano é importante manter uma alimentação saudável para evitar a ressaca no dia seguinte. “Tem que tomar cuidado para não exagerar na ceia e comer devagar”, afirma.
R7