Os primos Alípio Rogério dos Santos e Ricardo Martins do Nascimento, presos acusados de matar o vendedor ambulante Luiz Carlos Ruas na Estação Pedro II do Metrô, na noite de Natal, saíram da sede da Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), na tarde desta quarta-feira (28), aos gritos de “vagabundos” e “assassinos” da multidão que acompanhava do lado de fora. Segundo a polícia, quase 4 mil pessoas estavam em frente à delegacia, localizada na Estação Palmeiras/Barra Funda. (veja no vídeo acima).
Os dois suspeitos foram reconhecidos por todas as 14 testemunhas e, de acordo com o delegado do caso Rogério Marques, nem eles próprios negam o que fizeram. “Pelo vídeo que analisamos, é clara a intenção de matar a vítima”, acrescentou. Entre as testemunhas presentes estava a travesti Raíssa, que segundo a investigação, foi defendida por Ruas pouco antes de ele ser espancado.
Após prestarem depoimento, Alípio e Ricardo tiveram de sair da delegacia protegidos por uma barreira de policiais do Grupo de Operações Especiais (GOE). Um dos agentes chegou a dar um tiro de alerta para o alto para evitar que as pessoas pulassem a grade e agredissem a dupla. Os agressores irão responder pelo homicídio duplamente qualificado (motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima) e por lesão corporal contra dois homossexuais, que sobreviveram.
Eles ficarão na carceragem do 77º DP, na Santa Cecília, no Centro da cidade, enquanto durar a prisão temporária, que é de 30 dias, prorrogáveis por mais 30. O delegado Marques já adiantou, no entanto, que após instaurar o inquérito vai pedir a prisão preventiva dos suspeitos. Neste caso, eles seriam levados para um Centro de Detenção Provisória (CDP), onde ficariam detidos sem prazo determinado para saírem. “Tem que tirar esses agressores do convívio social”, disse.
Segundo o delegado, os primos alegam que foram urinar em uma praça próximo à estação quando foram abordados por moradores de rua que os roubaram. Alípio e Ricardo disseram à polícia que tentaram reaver os pertences levados e Luís Carlos Ruas intercedeu em favor dos supostos ladrões.
“Eles alegam que esse ambulante, tentando defender os moradores de rua, teria dado uma garrafada no Alípio”, contou Marques. “Antes de fazerem o interrogatório, eles foram orientados pelo advogado, então o advogado com certeza deve ter feito uma história e repassado para eles”, ressaltou ele.
O delegado disse que nenhuma das testemunhas ouvidas relatou ter presenciado algum roubo naquela noite ou a suposta garrafada dada por Ruas. Apenas uma testemunha, entretanto, confirmou ter visto a confusão desde o princípio. Marques afirmou ainda que os suspeitos demonstraram “profundo arrependimento” durante o interrogatório: “Dizem que aconteceu porque estavam alcoolizados”.
Antes de chegarem ao 77º DP, os acusados passaram pelo Instituto Médico Legal (IML) para realizar exame de corpo delito. De acordo com o delegado Marques, Alípio “apresenta bastantes lesões”. O acusado tem ferimentos na cabeça, perna e braços que, conforme relatou à polícia, foram causados pelos moradores de rua no momento do roubo.
A polícia prendeu Alípio no início da tarde desta quarta-feira. Ele foi localizado em um prédio da Cohab em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, após recebimento de uma denúncia anônima por e-mail. O outro suspeito, Ricardo Martins do Nascimento, havia sido preso na noite desta terça-feira (27), em Itupeva, no interior paulista.
De acordo com a ex-mulher de Alípio, que não quis ter o rosto nem o nome divulgado, o antigo companheiro tinha comportamento agressivo. “Ele tinha esses acessos de loucura, às vezes chutava as coisas. Ele batia nas coisas, gritava, xingava, chamava atenção dos vizinhos nessas brigas”, disse.
Revolta
A dona de casa Maria de Fátima Ruas, de 53 anos, irmã do ambulante Luiz Carlos Ruas, disse que o crime foi muito revoltante. Ela e outras pessoas gritaram por “justiça” e chamaram os suspeitos presos de “assassinos” na frente da Delpom. Maria contou que o irmão sempre passava o Natal em sua casa. “Eu fui viajar e chamei ele pra ir junto, mas ele disse que tinha que trabalhar pra pagar as dívidas”, lamentou.
A irmã lembra que quando recebeu a notícia da morte de Ruas pensou que ele havia falecido em decorrência da diabetes que possuía. “Depois que fui saber que era essa monstruosidade”. Ela conta que preferiu não assistir ao vídeo das agressões: “Eu não tenho coragem de ver porque se eu vir vou passar mal e já tenho problema de saúde”.
Maria foi à delegacia logo cedo para tentar falar com Ricardo, o primeiro dos suspeitos presos. “Eu queria olhar na cara dele e perguntar porque ele fez isso com o meu irmão. Queria conversar com ele e perguntar o que passou na cabeça dele, se ele não pensou no pai dele, na mãe dele, nos irmãos e na filhinha que ele tem. Tinha que ter pensado na família dele também, porque isso não é coisa de se fazer. Isso é coisa de um monstro”.
G1