Você acredita em tudo o que lê? A maioria da população brasileira acredita em todas as notícias que leem, mesmo que o conteúdo seja de um site desconhecido ou que venha das redes sociais, onde as chamadas “fake news” (“notícias falsas”) ganham cada vez mais espaço.
“Esse resultado é preocupante porque, apesar de não termos dados confiáveis sobre a quantidade de notícias falsas em veiculação, sabemos que tornou-se parte do dia-a-dia do embate político”, escrevem os pesquisadores Marisa von Bülow e Max Stabile, do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília), no estudo “A Cara da Democracia do Brasil”, realizado pelo INCT (Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação).
De acordo com a pesquisa, 23,9% dos entrevistados afirmam que recebem notícias que desconfiam de que sejam falsas, independentemente da fonte da informação.
Se ouvirem no rádio, por exemplo, a desconfiança cai para 18,8%. Se receberem de um amigo ou familiar, a desconfiança continua baixa, de 23%, subindo para 25,2% no caso do noticiário de TV, 30,3% para jornais e revistas, até chegar ao nível de 45,7% de desconfiança no caso de notícias recebidas por redes sociais.
— Apesar do aumento, consideramos o número baixo. É evidência de que o fenômeno das notícias falsas ainda não é percebido como tal por uma parte importante da população, que tenderia a acreditar nessas notícias.
Segundo o levantamento, 68,3% da população não desconfia de nada daquilo que recebe como noticioso.
Marisa e Max dizem que a veiculação de notícias falsas não é um fenômeno novo, mas ganhou destaque em razão da rapidez das redes sociais para propagar essas mentiras.
— Tornou-se fácil criar supostos portais autointitulados de “noticiosos”, cujo conteúdo é rapidamente compartilhado por usuários de mídias sociais. A ampliação do acesso à Internet no Brasil — que hoje supera 60% da população brasileira — também significa ampliação do acesso a notícias falsas.
E nas eleições, você vai acreditar em tudo?
O assunto vem ganhando destaque neste ano por causa das eleições para presidente, governadores, senadores e deputados em outubro no Brasil.
O temor é que se repita por aqui o que aconteceu no Estados Unidos, em 2016, quando as mentiras receberam mais compartilhamentos do que as notícias dos grandes veículos de comunicação. Um exemplo foi a “notícia” — falsa — de que o papa Francisco, chefe da igreja católica, teria declarado apoio ao então candidato Donald Trump, atual presidente do país.
Essa prática já ocorre por aqui, dizem os pesquisadores, muitas vezes com ajudas de robôs, que distorcem o debate por meio da propagação de notícias.
— Casos recentes, como o do assassinato de Marielle Franco, mostram como a disseminação de notícias falsas tornou-se prática comum e como o significado de eventos políticos importantes tem sido disputado em batalhas de narrativas nas quais argumentos são baseados em mentiras intencionalmente fabricadas.
R7