Uma projeção feita pelo Ministério da Saúde aponta que no ano de 2022, o número de crianças obesas no Brasil deve ser o dobro do que o registrado em 2013. Se os índices continuarem crescendo na mesma proporção, em 2022 o país terá 46,5% dos meninos entre 5 e 9 anos sofrendo com a obesidade infantil.
Para as meninas, a projeção é menor, mas ainda chama a atenção: 38,2% das garotas entre 5 e 9 anos devem ser obesas em 2022.
Os índices representam mais que o dobro do registrado há cinco anos, quando o número de meninos obesos era de 22,3% e o de meninas, 16,5%.
A meta do Ministério da Saúde é reduzir e voltar ao patamar de 1998, um índice de 16,8% para os meninos e 5% para as meninas. Um desafio que também envolve a família e a escola.
De acordo com a nutricionista Mariana Contiero San Martini, do Departamento de Pediatria da Unicamp, os altos índices de obesidade infantil envolvem uma série de fatores. Um deles é a dificuldade dos pais em conciliar trabalho e educação dos filhos.
“Eles precisam trabalhar fora, não têm tempo para cuidar e, muitas vezes, para se redimir, acabam comprando alimentos ultraprocessados que têm excesso de gordura, sal e açúcar”, explica a nutricionista.
Alimentos ultraprocessados são aqueles que passam por muitas técnicas, ou processos, que aumentam a durabilidade e diminuem o valor nutricional. Eles normalmente são saborosos e conquistam o paladar das crianças, mesmo sendo danosos à saúde – além do excesso de calorias, sal e açúcar, são pobres em vitaminas e sais minerais.
Entre os alimentos ultraprocessados normalmente consumidos por crianças estão os salgadinhos, iogurtes industrializados, biscoitos recheados, sorvetes, refrescos em pó, achocolatados e refrigerantes.
Junto com o consumo deste tipo de alimento, está a falta de atividade física. “As crianças comem estas coisas e depois passam horas sentadas em frente à TV, ao computador ou com o celular, elas não se exercitam com frequência”, alerta Mariana.
Meninas são mais vulneráveis a transtornos alimentares
Embora o número de meninas obesas seja menor do que o número de meninos, a nutricionista alerta que elas são mais vulneráveis aos transtornos alimentares como bulimia e anorexia.
Isso acontece porque as meninas se preocupam mais com imagem corporal, com peso e são mais propensas a pular refeições e deixar de comer alguns alimentos para reduzir medidas. Em alguns casos, os pais nem percebem que algo está errado.
“Como não conseguem acompanhar de perto a educação dos filhos, os pais não conseguem ver como eles estão se alimentando, se estão comendo o suficiente. A filha pode estar provocando vômito depois das refeições e eles nem percebem”, diz.
Para evitar o problema, a sugestão da especialista é o diálogo frequente com os filhos e com as pessoas que convivem com eles.
“Os pais devem estar sempre com contato direto com os profissionais da escola e observar quem são os amigos, onde a criança vai, como se comporta”, explica.
Como evitar a obesidade infantil
Combater a obesidade infantil exige uma mudança total de hábitos que deve começar em casa. A nutricionista explica que é preciso que exista diálogo frequente. “Uma conversa aberta com instruções sobre hábitos alimentares e a qualidade dos alimentos”.
Outra dica é estar na cozinha com mais frequência e trazer os filhos. “As famílias estão apenas comprando produtos prontos, não compartilham receitas, não se permitem cozinhar, nem mesmo as receitas mais simples”, destaca.
A especialista explica que mesmo as crianças menores podem participar do processo, seja lavando alguma hortaliça ou fazendo alguma outra atividade simples, desta forma o ato de cozinhar acaba se transformando em um momento de interação familiar. “O importante é dar preferência para produtos in natura, minimamente processados, para dar à criança a possibilidade de contato com legumes, frutas e alimentos ricas em fibra”, diz.
As atividades físicas também precisam ser rotina. Se os dias estão corridos, os pais precisam aproveitar o fim de semana para praticar exercícios e criar este hábito nas crianças – levar a um parque, andar de bicicleta, fazer caminhadas.
A escola também pode contribuir. Uma das possibilidades é criar uma disciplina sobre nutrição para ensinar os primeiros passos em direção a um a alimentação equilibrada. Os professores podem desenvolver atividades culinárias, de elaboração de hortas, passeios e caminhadas ao ar livre em bosques e parques. As cantinas também devem oferecer um cardápio saudável. “A escola deve estar de acordo com os alimentos oferecidos aos estudantes”, diz Mariana.
Índice de obesidade é menor entre adolescentes
Se na infância o número de obesos é alto, ele diminui consideravelmente na adolescência. A projeção do Ministério da Saúde é que em 2022, 13,8% dos meninos entre 10 e 19 anos sejam obesos. Entre as meninas da mesma faixa etária, o número deve ser de 7,8%.
Neste caso, a meta também é reduzir e igualar aos índices de 1998, quando a taxa de obesidade entre as meninas era de 2,7% e dos meninos de 3%.
A nutricionista Mariana San Martini explica que a diferença entre os índices de crianças e adolescentes acontece por causa da mudança no senso crítico. Na adolescência, surge a preocupação com a aparência por isso, os jovens tendem a se preocupar mais com o que que vão comer.
“Existe um cuidado em ingerir alimentos mais saudáveis e menos calóricos porque eles começam, nessa fase, a se preocupar mais com a aparência, começam a se comparar com os amigos. Os meninos querem ficar mais musculosos, as meninas mais magras”, explica Mariana.
Mesmo assim, a especialista alerta que existe a tendência que parte das crianças e adolescentes obesos se tornem adultos obesos ou com sobrepeso, levando para a idade adulta todas as doenças que o excesso de peso pode acarretar. “Antigamente não se via crianças ou adolescentes com triglicérides ou colesterol aumentados, hoje em dia isso acontece e pode levar a uma série de problemas cardíacos e vasculares”, diz.
A projeção do Ministério da Saúde para os adultos brasileiros é que 24,8% sejam obesos em 2022.
R7