Chico Ribeiro Neto*
Sabe quem vinha descendo no elevador ontem? Aquela velha chata do cachorro. Você se lembra? É essa mesmo. É aquela que estava um dia com o cachorro na porta do prédio. O animal fez cocô e ela foi saindo de mansinho, justamente na hora em que passei e reclamei: “A senhora não vai pegar o cocô, não?” “Se você está preocupado, venha pegar você”. Rapaz, aquilo me subiu o sangue de um jeito que a vontade que tive foi de pegar o cocô e esfregar na cara dela, mas o máximo que consegui foi chamá-la de mal educada.
Uma vez, um professor de Curitiba colocou na pracinha onde mora o seguinte cartaz: “Não permita que o seu cão deixe aqui o que você tem na cabeça”. E a praça voltou a ficar limpa.
Querido diário, tenho pensado muito ultimamente em queimar algumas páginas, o que você acha? Não se preocupe, você vai me ajudar a escolher o que deve ficar. Sua participação é indispensável. Afinal, você convive mais com elas do que eu.
Essa semana ri muito ao lembrar da história da planta. Aquela do amigo meu que deu uma muda de maconha a uma tia dizendo que “essa planta cresce fácil, tem que molhar todo dia, mas tem um nome muito feio, que não vou dizer pra senhora”. Aí foi que a velha insistiu e ele revelou: “O nome dessa planta é xibiu de freira”. A planta cresceu viçosa e um dia a tia ligou pra ele: “Aquela planta que você me deu está linda, cresceu muito e já mudei até prum vaso maior”. E a cannabis só crescendo no meio da sala.
Um dia chega lá a filha da vizinha. Começa a conversar e de repente vê a planta: “Que coisa linda, como é o nome dessa planta?” “Foi meu sobrinho que me deu, mas ele tem um nome muito feio que eu prefiro nem falar”. Passam uns dias e a moça volta lá com uma revista na mão. “A senhora não acredita o que eu descobri: essa planta é maconha, olha aqui a foto que achei nessa revista. É igualzinha”. A velha jogou logo tudo no lixo, planta e caqueiro, e esconjurou o sobrinho pro resto da vida.
Querido diário, até hoje não lhe perdoo por uma coisa: você deixou mamãe Cleonice ler que eu tinha sonhos eróticos com a empregada e tomei o maior esporro. Vixe! Ô vontade que tive de tocar fogo em você.
Você lembra que eu falava de uma colega no Colégio Estadual Severino Vieira com quem eu sempre cantava as músicas de Chico Buarque nos intervalos das aulas? Ela tinha uns cabelos compridos e adorava fazer “maria xiquinha”. Muitos anos depois nos encontramos por acaso e foi uma noite maravilhosa.
Você lembra também daquela história da Semana do Idoso? Um colega do jornal, cuja mãe participava de um grupo de idosos, me convidou para ir a uma feira no Campo Grande, parte das comemorações da Semana do Idoso. Fui com o grande e saudoso jornalista Silva Filho. Sentamos numa barraca e começamos a tomar cerveja. Daqui a pouco uma velhinha bateu no meu ombro com três tíquetes de picolé na mão: “Ei, você troca esses tíquetes por um copo de cerveja?”. Dispensamos os tíquetes, ela tomou alguns copos com a gente e uma amiga veio chamá-la. Acho que os tíquetes de picolé voltaram na bolsa.
Querido diário, um pedido final: quando eu morrer, não mostre a ninguém as páginas que estão marcadas com um X. Se bem que eu tenho a impressão de que você vai morrer no mesmo dia em que eu “viajar fora do combinado”, como dizia o saudoso Rolando Boldrin.
Chico Ribeiro Neto é Jornalista