Aumento de crimes raciais, antissemitas ou homofóbicos nos Estados Unidos. Novas manifestações antissemitas na França. A islamofobia na Europa e na América do Norte. A propaganda contra refugiados em vários países europeus.
Esses fenômenos têm se manifestado mais nos últimos tempos, em uma onda de intolerância que muitos especialistas relacionam à crise econômica e social.
Mas há um fator a mais, essencial, que tem impulsionado alguns grupos a novamente adentrarem no pântano da intolerância, que pode ser um caminho sem volta: uma educação desapegada de valores humanos mais profundos.
Infelicidade e falta de educação
O professor israelense Tal Ben-Shahar, da Universidade de Harvard, vem decifrando esse fenômeno e desenvolveu um método denominado “A Ciência da Felicidade.”
Shahar estará em São Paulo na próxima terça-feira (20) para falar sobre o tema na sede da organização beneficente Na’amat Pioneiras.
Segundo ele afirmou ao R7, há uma relação entre o aumento da intolerância — contra os judeus e outros grupos — e o aumento da infelicidade das pessoas. Mas não é só isso que explica o recrudescimento das hostilidades.
“Em geral, as pessoas mais felizes são mais abertas aos outros e menos propensas a serem intolerantes”, diz Shahar.
“Racistas não são felizes. Existem muito poucos racistas felizes ou antissemitas felizes. No entanto, o principal método para lidar com o antissemitismo ou racismo não é aumentar a felicidade, mas através da educação e, se necessário, através da aplicação de padrões morais e éticos de conduta.”
Educação precisa valorizar o outro
Mas mesmo que governantes como Angela Merkel, chanceler da Alemanha, encabecem campanhas em prol dos direitos humanos, a resposta do governo e limitada, segundo Ben-Shahar.
Muitas vezes, como vem ocorrendo em vários países, ele pode até estimular o ódio, utilizando como instrumento a manutenção de um modelo educacional que não valorize o sentimento do outro.
“Os governos, em geral, não reagem ao aumento da intolerância ou infelicidade. A reação tem que ser na forma de educação, em direção à abertura e à felicidade. Por exemplo, as escolas ensinam escrita, leitura e matemática, mas não ensinam sobre relacionamentos, encontrar um senso de propósito na vida e como cultivar emoções prazerosas e lidar com emoções dolorosas.”
O professor ressalta que a intolerância é um fenômeno que sempre existiu e provavelmente não desaparecerá completamente. Mas que hoje e disseminada com maior rapidez em função do surgimento das redes sociais.
“Nem é preciso dizer que houve momentos e lugares onde a intolerância era muito mais difundida e muito mais perigosa. No entanto, hoje, como resultado das mídias sociais, é certamente mais fácil disseminar ideias venenosas, no entanto, é também mais fácil expor os fanáticos e os racistas.”
Ben-Shahar reconhece que a ciência desenvolvida por ele tem uma responsabilidade em lidar com essa situação concretamente. E necessita, neste momento turbulento, ser aplicada na prática às pessoas e ao mesmo tempo influenciar os governos.
“A chave para o êxito é a educação — escolas, universidades e eventos públicos. Os governos também devem medir a felicidade — além de medir o PIB (Produto Interno Bruto), por que não medir também o FIB (Felicidade Interna Bruta)?”
R7