O braço-de-ferro entre empresas e sindicatos nas negociações de reajuste de salário teve uma reviravolta nos últimos anos: o percentual de categorias com aumento acima da inflação diminuiu drasticamente nos últimos cinco anos.
Em 2011, 87% das categorias conseguiram aumento além da inflação. Já em 2016, somente 18% dos trabalhadores conquistaram reajustes além da variação natural dos preços. Isso quer dizer que menos trabalhadores tiveram aumento real.
O patamar de 2016 representa um empate com 2003, pior resultado da série histórica de 21 anos analisada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Já as categorias que chegaram no fim da negociação com um aumento menor que o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), ou seja, perdendo para a inflação, saltaram de 6%, em 2011, para 44% no ano passado.
Os dados do primeiro semestre de 2017, que serão divulgados nos próximos dias, apontam para um crescimento das categorias com reajuste acima da inflação, mas a justificativa não é tão animadora.
“Muitas delas terão um reajuste maior que a inflação, porém sem chegar a um índice satisfatório. Em 2016, a inflação chegou a 10% ou mais, dependendo do mês. Mas em 2017 ela caiu para 5% e 4,5%. As categorias com data-base em setembro, por exemplo, pegaram o INPC acumulado em 1,73%”, disse José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Dieese.
Reforma trabalhista
Para Silvestre, as regras da reforma trabalhista que vão entrar em vigor no mês de novembro devem impactar bastante na dinâmica das negociações salariais.
“A reforma traz dificuldades adicionais às negociações. Embora ainda não estejam em vigor, já há uma pressão das empresas para as negociações terem como referência a nova legislação. A reforma que foi aprovada afeta as relações de trabalho, as negociações coletivas, a forma de contratação, restringe o acesso dos trabalhadores, de forma gratuita, à Justiça do trabalho e afeta também a organização sindical na medida em que acaba com a obrigatoriedade do imposto sindical”, explica.
O economista do Dieese prevê um cenário de enfraquecimento ainda maior do poder de barganha dos trabalhadores nas negociações.
“Quando o sindicato faz uma convenção coletiva, ela é uma espécie de um grande guarda-chuva que abarca toda a categoria. É uma negociação sobre um patamar mínimo de pisos e direitos. Com a nova legislação isso deixa de existir e a negociação pode ser feita com critérios abaixo desses limites mínimos”, disse.
Pior ano e 2018
No pior ano das negociações trabalhistas, em 2003, segundo o Dieese, foram 18,8% dos acordos acima da inflação, 22,8% igual a inflação e 58,4% abaixo do INPC.
“Em 2018, a luta será ainda maior com a nova lei trabalhista. Além de lutarmos por aumento salarial, vamos ter de negociar muito para impedir a retirada de direitos”, afirma o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Juruna.
Acima da média
Este ano, a categoria dos bancários não teve uma campanha nacional unificada de reajuste. O acordo, firmado em 2016, teve validade de dois anos.
Em 2016, a categoria recebeu reajuste de 8% e abono de R$3.500. O vale-refeição e o auxílio creche-babá foram reajustados em 10%, e o vale-alimentação em 15%.
Para 2017, na data-base de 1º de setembro, ficou combinado a correção integral no INPC acumulado e mais um aumento real de 1% em todos os salários e demais verbas.
Nos últimos 14 anos, entre 2004 e 2017, os bancários conseguiram aumento real acumulado de 20,28% nos salários e de 41,6% no piso.
R7