Especialistas do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Paraná e presos da Casa de Custódia de Curitiba (PR) voltaram a negociar, hoje (4) as reivindicações do grupo de detentos que se rebelou na tarde de domingo (1).
Quatro agentes penitenciários continuam em poder dos presos. Em um vídeo gravado pelos detentos e divulgado ontem pelas redes sociais, dois agentes feitos reféns aparecem algemados e cercados por custodiados armados com facões e objetos perfurantes.
Um dos agentes pede que as autoridades apressem as negociações e reclama da iniciativa do governo estadual de cortar o fornecimento de luz, água e comida para os presos em meio às negociações. Com escoriações no rosto, o agente classifica a ação como “idiota” e pede que a situação seja levada a sério.
“Não pensem que porque não tem [presos no] telhado aqui, esse pessoal não é perigoso”, diz o agente feito, sob ameaça, porta-voz das reivindicações dos presos, enquanto, ao seu lado, um segundo agente permanece calado, imóvel, com um facão contra o pescoço.
Rebelião
Segundo o Departamento Penitenciário (Depen) estadual, a rebelião começou quando os agentes penitenciários foram rendidos ao fazer a contagem dos presos da Galeria 1. A Seção de Operações Especiais do sistema prisional estadual conseguiu evitar que o tumulto se espalhasse para as outras duas galerias existentes na Casa de Custódia, mas não conseguiu impedir que cinco agentes terminassem em poder dos detentos. Iniciadas as negociações, um dos agentes foi libertado com ferimentos leves.
A Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária e o Depen vem evitando fornecer muitas informações sobre as negociações. Com isso, o Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen) e representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) tornaram-se a principal fonte de informações para os jornalistas.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da seccional da OAB, Alexandre Salomão, disse à Agência Brasil que a ausência de lideranças entre os presos rebelados tem dificultado a conclusão das negociações. Segundo o Depen, menos de 200 dos 600 detentos abrigados na Casa de Custódia de Curitiba participam da rebelião, restrita à Galeria 1 do estabelecimento penal. A maioria, segundo Salomão, não tem ligação com facções criminosas.
Reivindicações
De acordo com o advogado, as autoridades estaduais já haviam se comprometido a atender às principais reivindicações do grupo amotinado, entre elas a garantia de que presos transferidos para outras unidades carcerárias estaduais, onde integrantes de organizações criminosas são a maioria, sejam alojados em alas seguras.
“O Departamento Penitenciário se propôs a atender quase todas as reivindicações iniciais do grupo, como a realização de um mutirão carcerário que, inclusive, já estava agendado para acontecer. Aí, outros presos aparecem com novas reivindicações e o processo de negociação volta à estaca zero”, afirmou o presidente da Comissão de Direitos Humanos, afirmando que a maioria dos presos rebelados alega não integrar facções criminosas.
Já o vice-presidente do Sindarspen, José Roberto das Neves, disse que a rebelião na Casa de Custódia da capital paranaense reflete a precariedade do sistema prisional. “As condições de nossas prisões são péssimas e episódios como esse tendem a se repetir se o governo não encontrar alternativas à política de superencarceramento”, comentou Neves, acrescentando que todos acreditavam que as negociações chegariam ao fim ainda ontem (3) e os reféns seriam libertados.
“É o que acontece quando as reivindicações são atendidas. Como as informações que o governo estava transmitindo era a de que as reivindicações tinham sido contempladas, esperávamos pela conclusão”, disse Neves. “É preciso garantir que os agentes penitenciários saiam de lá com vida. E é péssimo que uma rebelião se arraste por tanto tempo, pois há risco de um desgaste entre as partes, há o cansaço. Os próprios detentos vêm apelando para que as reivindicações sejam atendidas urgentemente”, concluiu Neves.
Inaugurada em 2002, a Casa de Custódia é classificada pelo Depen como uma unidade de segurança máxima. Com capacidade para abrigar 500 detentos, aloja 600. As autoridades estaduais ainda não informaram se os presos causaram danos estruturais ao estabelecimento, mas o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR afirma que pelo menos as grades de algumas celas da Galeria 1 foram arrancadas.
A Agência Brasil não conseguiu contato com a assessoria de imprensa do Depen.
Agência Brasil