A trombose é uma doença caracterizada pela formação de coágulos de sangue (trombos) no interior das veias mais calibrosas. Ela merece atenção pela sua incidência, principalmente como complicação no curso de outras doenças. Apesar de poder acometer qualquer vaso sanguíneo, sua apresentação mais comum é a trombose venosa profunda (TVP), que ocorre quando o coágulo de sangue bloqueia uma veia profunda. Se esse coágulo se desprender do local onde surgiu e se movimentar pelo corpo, ele pode afetar o pulmão, assim ocasionando uma embolia pulmonar (EP).
Cardiologista e professor do curso de Medicina da Universidade Salvador (UNIFACS), Marcos Barros, lembra que as causas da trombose variam, sendo as mulheres mais suscetíveis que os homens devido a fatores hormonais e condições específicas que afetam seu sistema circulatório. Segundo dados do Ministério da Saúde, essa diferença é observada especialmente na faixa entre os 20 e os 40 anos de idade, devido à gravidez e ao uso de contraceptivos. O uso de anticoncepcionais, a exemplo de pílulas e outros métodos hormonais que contêm estrogênio, pode tornar o sangue mais propenso a coagular. Já na gravidez e pós-parto, o corpo passa por mudanças hormonais e físicas que aumentam o risco de coágulos sanguíneos.
Os fatores de risco mais comuns são adquiridos e relacionados à imobilização prolongada, uso de anticoncepcionais, cirurgias, hospitalizações e fraturas. “Fatores hereditários também estão envolvidos, como deficiência da proteína C ou mutação no fator V de Leiden. Outros fatores são adquiridos, sejam ambientais, comportamentais ou por doenças, tabagismo, obesidade, viagens longas, imobilização por fraturas ou cirurgias são fatores de risco para trombose venosa na população em geral. Entre as doenças crônicas, cânceres (neoplasias), insuficiência cardíaca, doenças inflamatórias como Lupus, doenças inflamatórias intestinais e insuficiência venosa (varizes) estão entre as mais relacionadas à trombo-embolia venosa”, sinaliza o médico.
Sintomas
O professor da UNIFACS, cujo curso de Medicina é integrante da Inspirali Educação, explica que uma parte dos casos de trombose venosa não apresenta sintomas. Nos casos em que eles ocorrem, é preciso ficar alerta a sinais como dor (geralmente em peso), manchas arroxeadas ou avermelhadas nos locais afetados e edema apenas em um membro.
“O diagnóstico clínico tem baixa precisão. Menos da metade dos pacientes que apresentam tais sintomas tem realmente Trombose Venosa Profunda (TVP) confirmada. Ainda assim, procurar assistência médica com brevidade é a melhor conduta para quem apresenta sintomas de trombose, principalmente se está exposto aos fatores de risco, pois o diagnóstico e tratamento precoces pode prevenir complicações fatais, como a embolia pulmonar”, afirma o especialista.
Prevenção
A prevenção da trombose pode ser feita implementando uma rotina mais saudável. Alguns exemplos práticos são a realização de atividade física regular, a manutenção de alimentação balanceada e do peso adequado, além de boa hidratação. A ingestão de álcool e o uso de cigarro devem ser evitados.
“Em algumas situações de alto risco para trombose, como viagens longas, recuperação cirúrgica ou síndromes trombofílicas (facilidade para trombose), o uso de meias elásticas, fisioterapia específica e até medicações anticoagulantes em doses adequadas orientadas pelo médico podem proteger desses eventos vasculares. Pacientes internados têm protocolos próprios conforme seus diagnósticos e podem usar medicamentos apenas durante sua estada hospitalar”, explica Marcos Barros.
Tratamento
O tratamento da TVP/EP tem sua base em remédios anticoagulantes. Geralmente há indicação de internação por alguns poucos dias e manutenção do medicamento por alguns meses. Em alguns casos, pode-se usar indefinidamente o anticoagulante para evitar recorrências, mas sempre com orientação médica.
Dados
O número de internações diárias para tratamento de trombose venosa na rede pública de saúde saltou de 113 para 165, entre 2022 e 2023, um recorde na série histórica iniciada em 2012. Essa média diária acende um sinal de alerta. Os números foram divulgados no ano passado pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, usando como base os dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde. Estudos indicam que a pandemia de COVID-19 trouxe maior incidência de trombose, o que pode explicar parcialmente esse aumento.