O mundo todo está empenhado na corrida para encontrar uma vacina que seja segura e eficaz contra a covid-19: 164 iniciativas, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) buscam atingir esse objetivo e, para isso, utilizam como base tecnologias distintas.
Seis estão na terceira e última fase de testes: a vacina de Oxford, a Coronavac, a da Pfizer, a Moderna, a Sinopharm do Instituto Biológico de Pequim e a Sinopharm do Instituto Biológico de Wuhan – as três primeiras serão testadas no Brasil.
O imunizante da Universidade de Oxford foi produzido a partir de uma tecnologia nunca antes usada em larga escala. Em sua composição está um adenovírus, vírus que causa o resfriado comum, enfraquecido e modificado geneticamente. Os pesquisadores acoplaram a ele partes do coronavírus que julgaram ser importantes para ativar o sistema imunológico.
A Coronavac, por sua vez, é feita com o novo coronavírus inativado, isto é, morto a partir de processos físicos e químicos. Assim, o vírus não consegue se replicar, mas faz com que o sistema imunológico reaja e crie os anticorpos necessários.
Já a vacina desenvolvida pela Pfizer , também considerada inovadora, é feita à base de RNA mensageiro. Essa molécula entra na célula fornecendo a ela as informações necessárias para produza uma das proteínas que compõem o novo coronavírus. Essa proteína será reconhecida como um corpo estranho e assim estimulará a resposta imunológica.
O R7 lançou a médicos envolvidos com a covid-19 a seguinte questão: se pudesse escolher, qual vacina contra a covid-19 você tomaria?
Lorena de Castro Diniz, alergista, pediatra e membro do Departamento Científico de Imunização da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia): “Meu voto seria na genética, de RNAm (RNA mensageiro)”, afirma.
De acordo com ela, dentre os métodos desenvolvidos para a fabricação do imunizante, aqueles que utilizam material genético – como é o caso do RNAm que compóe a vacina da Pfizer – são os mais seguros em relação a possíveis efeitos colaterais se comparados aos que usam vírus enfraquecidos, por exemplo.
Marcelo Otsuka, pediatra e infectologista, vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo: “Cada uma tem uma tecnologia diferente, então não é tão simples escolher. Mas as vacinas mais interessantes são aquelas que induzem uma resposta [do sistema imune] melhor. Ela é mais importante do que a humoral [de anticorpos]”, pondera.
O especialista afirma que a escolha de uma vacina por órgãos oficiais deve analisar quatro aspectos: eficácia, possibilidade de ser aplicada em pessoas de todas as faixas etárias, facilidade de administração e viabilidade de manter a vacina conservada nas condições adequadas, para que ela não estrague.
Carlos Fortaleza, infectologista e professor do Departamento de Doenças Tropicais da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP): “Eu tomaria qualquer uma delas. Morro de vontade de ser selecionado [como voluntário] para qualquer uma”, destaca.
“Todas são igualmente promissoras e têm estratégias científicas muito bem embasadas. As vacinas passam por testes muitos sérios para ver se são seguras. Os testes em humanos [das que estão mais avançadas] agora dirão qual a melhor”, completa.
Ele destaca que politizar a busca por uma vacina é descabido e dizer que não tomaria uma delas por vir da China, por exemplo, é preconceito.
Carlos Lazar, professor da disciplina de moléstias infecciosas na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo): “Eu não sei ainda qual eu tomaria porque elas estão no nível 3 de fase de testes”, afirma.
O especialista acrescenta que só após a conclusão dessa etapa será possível saber qual dos imunizantes têm maior eficácia. “Eu tomaria a que seja mais eficiente, mas ninguém me deu essa resposta ainda”, enfatiza.
Na opinião dele, ainda existem mais dúvidas do que respostas sobre as vacinas. “Quanto tempo dura a imunidade? Será igual a vacina da gripe, que tem que tomar todo ano?”, questiona. “Não é porque você tem uma tecnologia mais eficiente ou mais nova que vai significar que a vacina produzida é boa”, pondera.
Lazar também ressalta que, até hoje, nenhuma vacina eficiente foi desenvolvida em um período tão curto. “Mas eu apreciaria se essa vacina viesse precocemente, porque não temos nada [para proteger] em relação à covid-19 a não ser o dostanciamento social e as medidas de prevenção como higiene das mãos e uso de máscara”, conclui.
Luiz Cervone, pediatra, especialista em administração hospitalar e diretor médico do Hospital Vitória, em São Paulo: “Para mim, seria a de Oxford porque ela está na fase 3 de testes clínicos e tem tido uma boa evolução, apesar da análise sobre a produção de anticorpos ser longa”, afirma.
R7