A Secretária Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Priscilla Roberta Gaspar de Oliveira, é a primeira surda a ocupar um cargo nesta esfera do governo federal. Ela atua no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do Brasil.
Na função desde janeiro de 2019, ela afirma que seu objetivo é fazer das pessoas com deficiência protagonistas na sociedade.
Surda bilíngue, ela mesma já contou ter vivenciado a sensação de exclusão por causa de suas características. Suas três filhas (Nicolle, Natasha e Nayanna) também são surdas, assim como seus pais e seu marido, Cezar.
E na busca de sua inserção social, ultrapassou barreiras até se graduar em Letras, Libras e Pedagogia e se tornar pós-graduada em Docência Superior e mestre em Educação e Currículo, passando a atuar como professora de Língua Brasileira de Sinais e a lutar pela acessibilidade das pessoas com deficiência.
O destino quis que, neste momento de pandemia, ela se tornasse uma das responsáveis por criar políticas emergenciais que não só busquem a inserção mas protejam a vida dessas pessoas. Com sensibilidade, empatia e carinho.
Priscilla deixa claro que, neste desafio, seu objetivo é diminuir os riscos das pessoas com deficiência. E permitir que elas tenham todas as condições de segurança, conseguindo dar continuidade aos tratamentos, que, para a maioria, não podem ser interrompidos. Veja a entrevista.
R7 – O direito das pessoas com deficiência está sendo mais respeitado no Brasil?
Priscilla Gaspar – Temos realizado ações, aplicando a legislação brasileira e internacional, tendo como base a Lei Brasileira de Inclusão e a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, que consigna o direto à vida, à saúde e à prioridade na assistência à pessoa com deficiência inclusive em situações de emergências e calamidades. Considerando todas as pessoas com deficiências, materiais têm sido produzidos com acessibilidade, e ofícios aos meios de comunicação abertos para que oportunizem acessibilidade nos informes acerca do novo coronavírus (Covid-19).
R7 – Poderia citar um exemplo desta maior abertura?
PG – Tivemos, por exemplo, a imensa alegria de observar que as lives de cantores famosos como Marília Mendonça, Gusttavo Lima, entre outros, estão com acessibilidade, através de intérpretes de libras. Iniciativas como essas são importantes para garantir a equiparação de oportunidades nesses momentos para todas as pessoas com deficiência.
R7 – Quais as principais necessidades da pessoa com deficiência neste momento de globalização?
PG – Informação fidedigna, de fontes oficiais, providas de acessibilidade, com linguagem adequada, com fácil compreensão e aplicação por toda população, independentemente de sua condição socioeconômica ou educacional. Precisamos garantir que todas as pessoas com deficiência tenham condições de se proteger nesse momento de maior tensionamento dos sistemas de saúde de todos os países.
R7 – Quais as maiores dificuldades das pessoas com deficiência neste momento de pandemia no Brasil?
PG – Manter seus tratamentos contínuos, infelizmente na velocidade que as ações ocorreram, alguns interromperam. Contudo a orientação do Ministério da Saúde é de que os tratamentos essenciais devem ter continuidade, a exemplo dos atendimentos por diferentes profissionais de saúde (fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, médicos), preferencialmente mediados por tecnologia (telesaúde) ou, quando indispensável, presencialmente com todas as medidas de segurança adotadas.
R7 – Como a acessibilidade delas fica prejudicada com tal situação? Pode citar um exemplo?
PG – Um dos fatores que prejudicam a acessibilidade durante este período de distanciamento social refere-se aos formatos usuais de informação e de comunicação. As pessoas com deficiência sensorial e pessoas com deficiência intelectual precisam de informação em formatos acessíveis e com linguagem simples. Por exemplo, mensagens enviadas por meio de imagens são inacessíveis às pessoas cegas, da mesmo forma, áudios e vídeos sem legendas e intérpretes de Libras são inacessíveis às pessoas surdas, tal como a falta de uma linguagem mais simples e direta em nossas comunicações para atender também as pessoas com deficiência intelectual e uma grande parcela da população brasileira que não compreende textos muito técnicos. O uso da internet aumentou muito durante esse período. Como está a acessibilidade dos sites brasileiros? Estas são questões que precisam ser pensadas e implementadas por todos, para que tenhamos igualdade de oportunidades para todos, sem distinção.
R7 – Que medidas a secretaria vem tomando para lidar com essa situação?
PG – Já foram e ainda serão adotadas, no sentido de informar e proteger as pessoas com deficiência e com doenças raras a respeito do coronavírus, como vídeo institucional, cartilha, orientações gerais e específicas, perguntas e respostas. Há ainda cartilha com orientações aos profissionais de saúde que atendem pessoas com deficiência durante a emergência; estudo interno para viabilizar meios de suporte, por meio de parcerias, para garantia do abastecimento com gêneros alimentícios, insumos e materiais de uso dos profissionais de saúde e cuidadores; além dos canais de denúncia, Disque 100 e Ligue 180, que abriu canal específico para atender à demanda, que nos próximos dias terá o serviço de videochamada, para atender em Língua Brasileira de Sinais – Libras, as pessoas surdas e as com deficiência auditiva.
R7 – Esta pandemia também tratará algum impacto para as pessoas com deficiência no futuro? Quais?
PG – A atual pandemia que assola inúmeros países com impacto global certamente trará impactos e transformações no modo como vivemos e nos relacionamos, o que será vivido por todos. Esperamos que esse também seja um momento de reflexão para a sociedade perante as pessoas com deficiência. Que tenhamos uma sociedade com empatia para esse público, sempre em busca de um mundo cada vez mais justo e inclusivo.
R7