Desde junho, o governo do estado e a prefeitura de São Paulo tiveram três encontros com a F-1 para tentar acertar a permanência do GP Brasil na cidade após 2020. O resultado da última rodada de negociação foi o anúncio de mais uma reunião.
Sem dinheiro para bancar a taxa cobrada pela FOM (Formula One Management), dona do evento, São Paulo não conseguiu garantir a realização do GP na cidade após a edição do próximo ano. “Vamos buscar o apoio do setor privado [para pagar a taxa]”, afirmou o governo do estado, João Doria (PSDB). “Estamos evoluindo na negociação e, se tudo correr bem, quem sabe já em dezembro poderemos anunciar o novo contrato.
Pelo acordo vigente até 2020, a cidade não paga a taxa anual cobrada para receber o evento. O valor varia nos outros grandes prêmios. Em junho, o executivo da FOM, Chase Carey, esteve em São Paulo reunido com Doria, o prefeito Bruno Covas (PSDB) e Tamas Rohonyi, dono da Interpub, empresa que organiza a F-1 em Interlagos. Na ocasião, Carey deixou claro que não abriria mão da taxa.
Membros do governo e da Interpub foram até Londres, em outubro deste ano, apresentar uma proposta para FOM. O valor não chegou aos US$ 25 milhões (R$ 104 milhões), o que é pago, por exemplo pela cidade de Austin para receber o GP dos EUA. A tradicional etapa de Silverstone, por exemplo, recolhe uma taxa anual de R$ 75 milhões (R$ 314 milhões). Mônaco é única etapa que seguirá isenta da cobrança. A taxa de Abu Dhabi, considerada a mais alta do ano, é de R$ 313 milhões (mais de R$ 1,3 bilhões).
A proposta de São Paulo é de um contrato com duração de 10 anos. Não há um padrão para o tempo de vigência do acordo da FOM com as cidades. Monza, na Itália, renovou seu vínculo recentemente por cinco anos, até 2024. Uma empresa estatal que regulamenta o setor automobilístico no país bancou a taxa da corrida. Também neste ano, o México renovou o contrato para receber a F-1 até 2022, com taxa do novo vínculo bancada pela iniciativa privada. São Paulo, segundo João Doria, pretende seguir o modelo mexicano.
O governo do estado e a prefeitura de São Paulo intensificaram as ações de negociação com a F-1 após o Rio de Janeiro anunciar interesse em receber o GP Brasil em 2020. Em maio, o presidente Jair Bolsonaro assinou termo de cooperação para levar a corrida para o Rio. A promessa é que a construção do circuito de Deodoro, na zona oeste, orçada em R$ 697 milhões, seja quitada apenas com recursos privados. No mesmo mês, o empresário JR Pereira, representante do consórcio Motorsport, ganhou licitação para construir o autódromo carioca.
Neste domingo (17), Carey não descartou a possibilidade de o GP migrar para o Rio. “Temos vários parceiros interessados, apreciamos esse interesse. Mas não vamos comentar sobre as discussões, que são privadas”, afirmou. Durante o GP deste final de semana, pilotos e equipes evitaram comentar o risco de São Paulo deixar de receber a F-1. A Folha de S.Paulo abordou dirigentes no paddock durante o evento e enviou perguntas para assessoria das dez equipes. A maioria das escuderias não quis responder. Uma exceção foi o hexacampeão mundial Lewis Hamilton, da Mercedes.
“Eu acho, sinceramente, que tem muito dinheiro envolvido na construção desses circuitos. Já temos um autódromo histórico aqui [em Interlagos], não precisa derrubar árvores, destruir mais território”, afirmou o hexacampeão da F-1. O piloto se refere a um levantamento da Diretoria de Pesquisas Científicas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro que calcula que de 180 mil a 200 mil árvores espalhadas pela floresta de Camboatá poderão ser derrubadas para a construção de um autódromo em Deodoro, no Rio de Janeiroo.
“Amo o Rio, gostaria de passar mais tempo lá, mas não quero correr em um circuito que prejudicou o meio ambiente”, afirmou Hamilton.
Bahia Notícias