Um estudo pioneiro que está sendo realizado por pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) sugere que pacientes de covid-19 podem continuar transmitindo a doença por 30 dias em média. A pesquisa contou com a participação de mais de 50 pacientes, sendo que uma delas ficou com a doença transmissível por 152 dias – 5 meses. Trata-se da mais longa permanência do novo coronavírus no corpo já documentada no mundo.
A paciente é uma profissional de saúde que não teve sua identidade divulgada. Ela teve sintomas leves, que cessaram, mas o vírus permaneceu em seu organismo por todo esse período com capacidade de replicação, ou seja, de infectar outras pessoas.
“Esse é um caso extremo, raríssimo. A importância do estudo é que mostra que os profissionais que voltam ao trabalho após o isolamento, principalmente os que trabalham com o público, precisam continuar tomando cuidado”, afirma o médico e pesquisador especialista em genética Amilcar Tanuri. Ele é chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da UFRJ e um dos autores do estudo.
Segundo ele, cerca de 40% dos participantes ainda tinham o vírus na fossa nasal após os 14 dias de quarentena, período até então considerado seguro para evitar o contágio da doença.
O pesquisador explica que apenas ter o vírus não significa que a pessoa continua transmitindo. “Se entendia que eram vírus destruídos ou que não tinham capacidade de replicação, mas colocamos as amostras em cultura de células e 20% teve replicação, ou seja, eram capazes de infectar outra pessoa.”
Segundo Tanuri, o ideal seria que os pacientes só saíssem da quarentena mediante o teste PCR com resultado negativo. Ele explica que, para que a pessoa pare de transmitir a doença, o corpo precisa ter conseguido ter uma resposta imunológica satisfatória contra o vírus, o que pode demorar para acontecer. “Mesmo depois que as pessoas não têm mais sintomas, elas continuam transmitindo.”
O estudo, que reforça a importância dos assintomáticos na pandemia, ainda vai passar por um refinamento de dados, segundo o pesquisador, e deve ser publicado oficialmente em duas semanas.
R7