Para dar visibilidade ao papel e às contribuições das mulheres nas áreas de pesquisa científica e tecnológica, o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado neste sábado (11), foi instituído, em 2015, pela Assembleia das Nações Unidas. Apesar de o tema estar ganhando cada vez mais visibilidade, ainda há um longo percurso até a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, sobretudo nas áreas da ciência.
Inserida nessa realidade, Ana Katerine Lobato, professora de Mestrado e Doutorado de Engenharia Química na UNIFACS, fala sobre o tema e sua trajetória no mundo acadêmico. “Comecei como voluntária na Iniciação Científica, depois, consegui uma bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e, desde, então venho desenvolvendo pesquisa. Os temas e áreas foram mudando até chegar o momento em que me deparei com a minha área de atuação atual (Bioprocessos)”, relata.
É comum encontrar depoimentos de mulheres que passaram por vários desafios para alcançar a tão sonhada carreira na ciência e com Ana Katerine não foi diferente. “Ser reconhecida enquanto mulher cientista tem sido uma grande batalha. Além disso, ficar longe da minha família e sair da minha cidade para ter oportunidades de trabalho, foram alguns dos maiores desafios que tive que enfrentar enquanto cientista”, revela.
Doutora em Administração Pública, pesquisadora em Cooperação Internacional, professora da UNIFACS e mãe de dois, Maria Elisa Pessina também conta sua experiência. “Não foi algo programado, sempre gostei de questionar, de estudar e de escrever. Mas nunca tinha sido apresentada à Ciência como uma possibilidade de carreira. Pensando bem, acho que poucos são. Nem nas formações pré-vestibular da escola, nem mesmo durante a graduação, nunca havia sido apresentada à pesquisa como uma possibilidade de carreira”, relata. “Quando tive meu primeiro filho, tomei conhecimento de uma seleção para mestrado acadêmico e imaginei estar diante de uma boa possibilidade de conciliar uma carreira interessante e maternidade. Mal sabia que estava diante de uma das carreiras mais desfavoráveis às mães” revela.
Ser mãe e cientista
Com mais mulheres presentes no campo da pesquisa científica, muitas delas precisam conciliar as atividades profissionais com a educação dos filhos. De acordo com uma pesquisa de produtividade acadêmica produzida pelo Parent In Science, em 2020, apenas 4,4% dos docentes que conseguiram trabalhar naquele ano de forma remota eram mulheres brancas com filhos, enquanto as mulheres negras com filhos representavam 3,4%. Quando comparado aos pais, o cenário foi o seguinte: 15,8% dos docentes eram homens brancos com filhos e 12,2% eram homens negros com filhos. Os dados reforçam o desafio de ser mulher na ciência.
Mãe de duas filhas, uma de 19 anos e outra de 5 anos, Ana Katerine Lobato conta sobre sua experiência. “Minha primeira filha chegou no início do meu doutorado, em plena mudança para Inglaterra. Quando a segunda chegou, eu já era professora, com muitos alunos, mas, no fim, deu tudo certo. Às vezes penso que tenho que definir melhor minhas prioridades, mas a minha profissão e minhas filhas são tudo para mim”, conta, ao destacar que, sim, é possível ser mãe na ciência, embora seja preciso ampliar as discussões sobre maternidade no ambiente científico e buscar políticas de apoio e suporte social às famílias inseridas nesse contexto.
Rede de apoio
Na opinião de Maria Elisa Pessina, mãe de um menino de 15 anos e de uma menina de 14 anos, o caminho para chegar em posto de destaque na carreira científica para uma pesquisadora que é mãe é muito mais demorado. “A não ser que conte com uma boa rede de apoio e familiar, geralmente, apenas aquelas que não são mães conseguem chegar ao final do doutorado com um número significativo de publicações, de participações em eventos, inseridos em importantes redes nacionais e internacionais de pesquisa e, assim, ocupar os melhores postos da carreira científica. Esta é uma corrida que, via de regra, deixa as mulheres mães para trás”, argumenta.
A doutora também destaca a falta de acolhimento as mulheres na área científica. “Durante todo meu mestrado e doutorado me recordo de ter tido apenas uma professora mulher e mãe. Nem uma vez sequer, naquele percurso, tivemos uma coordenadora do curso mulher e mãe. Isso significa algo. E acredito que isso implica diretamente no nível de empatia e acolhimento para as dificuldades decorrentes da maternidade que assolam as cientistas em formação que são mães”, desabafa.
Mulheres que inspiram
Ao longo de muitos anos, as mulheres têm sido fundamentais no desenvolvimento de processos e áreas científicas. Dessa forma, muitas delas acabam se tornado fonte de inspiração, não só na vida profissional, mas, também, na trajetória pessoal. “Muitas mulheres me inspiram nessa área, mas, em especial, minhas professoras e orientadoras da Graduação, Fátima Dantas e Margarida dos Anjos, e do mestrado e doutorado, Gorete Ribeiro e Ferda Mavituna, fundamentais para eu me tornar a profissional que sou hoje”, revela Ana Katerine.
Para a pesquisadora, “mulheres cientistas são extremamente corajosas, atuantes e determinantes para o futuro da área”. Por isso, almejar oportunidades e alcançar reconhecimentos é um desejo não só para ela, mas para todas aquelas que se dedicam a exercer essa profissão pelo mundo.
“Não lembro de uma mulher que tenha me inspirado a iniciar a carreira científica, mas, sim, de várias que me inspiraram em diferentes aspectos ao longo do percurso de minha formação como cientista da área de ciências sociais aplicadas que sou hoje. Algumas me inspiraram sobre como buscar uma função social para minhas pesquisas, outras como ser empática, acolhedora e incentivadora com outros pesquisadores”, destaca Maria Elisa Pessina.
De olho em um futuro melhor
Maria Elisa Pessina lembra que, mesmo sendo fundamentais nas várias áreas profissionais, há pouco tempo, uma mestranda ou doutoranda que desse à luz durante o curso não tinha o direito de gozar da licença maternidade, o que reforça uma questão estrutural de falta de apoio. Entretanto, ela afirma perceber que há sinais de mudanças. Recentemente, por exemplo, ocorreu a inserção da licença maternidade no currículo lattes. “Movimentos como o Parent in Science, que acompanho com entusiasmo, vem tentando pautar esta questão. Mas ainda é preciso mais barulho e mobilização. A carreira científica e acadêmica precisa ser vanguarda nesta questão, e não é o que acontece. Enquanto há empresas que já têm creches e berçários no ambiente de trabalho, não vemos ainda coisa semelhante no ambiente científico aqui no Brasil, como nos congressos, por exemplo”, frisa.
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