Em 2008, a Europa entrou numa crise financeira sem precedentes na história após uma recessão econômica global. Vários países da União Europeia enfrentaram um declínio Produto interno bruto (PIB), aumentando o endividamento, enquanto as famílias experimentaram insegurança financeira, perda de emprego, salários reduzidos. A situação agravou-se no início de 2010 e atingiu principalmente países como a Grécia, Irlanda, Portugal e Chipre. Será que isso teve impacto na saúde das pessoas?. Uma recente publicação do British Medical Journal (BMJ) o tema. Os pesquisadores da Escola de Ciências Sociais de Londres e da Universidade de Stanford, Califórnia fizeram uma revisão sistemática de estudos afins que trataram da relação entre crise econômica no período de 2008 a 2015 e desfechos/complicações de saúde, tais como suicídio, saúde mental auto-avaliada e até mortalidade. Foram incluídos 41 estudos que deveriam obrigatoriamente avaliar o dado de saúde considerando o período entre 3 e 10 anos a partir da crise econômica.
Vejamos os principais resultados. Embora houvesse diferenças entre países e grupos, observou-se que os suicídios aumentaram e a saúde mental se deteriorou durante a crise. Muitos destes estudos foram realizados na Espanha e Grécia, países muito afetados economicamente. Por outro lado, a crise não parece ter invertido a tendência de diminuição da mortalidade geral, que vem ocorrendo na Europa há anos. Quanto à associação entre crise e percepção da saúde, se boa ou ruim, os resultados foram contraditórios: alguns estudos sugeriam piora, enquanto outros não mostraram qualquer associação. Como curiosidade, um estudo na Islândia chegou a demonstrar aumento temporário de hipertensão em grávidas. Os autores destacam que a maioria dos estudos publicados sobre o impacto da crise econômica sobre a saúde, na Europa, apresenta limitações metodológicas e, portanto, os resultados precisam ser cautelosamente interpretados. Mas afirmam que, globalmente, a crise financeira na Europa teve efeitos heterogêneos sobre a saúde. Em particular, os homens em idade produtiva parecem ser mais gravemente afetados, considerando o aumento do suicídio e a auto-avaliação da saúde. Em termos de saúde mental, no entanto, as mulheres apresentaram resultados piores do que os homens. Um grupo particularmente atingido pela crise é o dos imigrantes ilegais, em geral desempregados e sem a proteção social do estado.
Um das implicações da publicação é a adoção de políticas públicas de saúde que possam ser empregadas antecipadamente as crises econômicas. Ainda que os países adotem diferentes estratégias, nem sempre unânimes, para enfrentar crises, tais como corte de gastos e austeridade fiscal, o impacto negativo sobre saúde populacional deve ser mitigado. O artigo é sobre crise Europeia, mas tem muito a ver com a realidade nacional. Como todos sabemos e lamentamos, o Brasil está vivendo uma grave crise econômica, com milhões de pessoas desempregadas e muita insegurança quanto à retomada do crescimento. Que tal aproveitarmos as sugestões e lições de quem já passou pelo pior, mas continua brigando para sair da crise?.
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