Sete em cada dez brasileiros acreditam em alguma informação falsa sobre vacinação. Isso é o que mostrou o estudo “As fake news estão nos deixando doentes?” realizado em 27 países pela ONG Avaaz em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
A pesquisa revelou ainda que os brasileiros acreditam em notícias falsas mais do que a maioria das pessoas no mundo. Com o objetivo de investigar a associação entre desinformação e queda nas coberturas vacinais, o estudo ouviu 2.002 brasileiros com mais de 16 anos por meio da aplicação de questionários. As entrevistas foram conduzidas por uma equipe de entrevistadores do IBOPE.
De acordo com dados do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (PNI-MS), as coberturas vacinais em crianças menores de 1 ano foram inferiores ao mínimo desejado nos últimos dois anos.
O relatório divulgado pela Avaaz e SBIm ressalta que o período crítico começou em 2017, quando havia o risco de febre amarela e 25% da população, a maioria crianças, não foi vacinada.
“O problema permanece crítico: dados recentes revelam que apenas 88% da população-alvo foi vacinada contra sarampo em todo o país este ano, sendo o percentual mínimo para a eliminação desta doença 95%, enquanto 100 municípios vacinaram menos de 50% da população-alvo contra a poliomielite”, destaca o levantamento.
A pesquisa revela que 57% dos brasileiros que não se vacinaram ou não vacinaram uma criança citam ao menos uma razão que é considerada incorreta pela SBIm ou pela OMS (Organização Mundial da Saúde). “Exemplo: as vacinas têm grande chance de causar efeitos colaterais graves ou que as vacinas não são necessárias”, mostra o relatório.
Cerca de 13% dos entrevistados afirmaram não ter se vacinado ou não ter vacinado uma criança sob seus cuidados, o que totaliza mais de 21 milhões de brasileiros. Os principais motivos foram esquecimento ou falta de planejamento, não achou que a vacina era necessária, falta de informação e medo de efeitos colaterais graves.
Informações vêm dos aplicativos e das redes sociais
As redes sociais e os aplicativos de mensagens estão entre as principais fontes de informação sobre vacinas, de acordo com o estudo. A proporção de pessoas que acreditam em desinformação sobre vacinas é maior entre os que usam redes sociais e WhatsApp como fonte de informação – 73% contra 60% para quem cita outras fontes.
Entre os participantes, os jovens, os homens, pessoas da classe média, pessoas que têm entre o sexto ano (quinta série) e o Ensino Médio completos e pessoas que vivem fora da região Sudeste foram as menos capazes de detectar desinformação sobre vacinas.
Jovens e homens também são os que mais citam as redes sociais e os aplicativos de mensagens instantâneas como fonte de informação sobre vacinas.
O relatório ressalta que a desinformação pode estar sendo usada para obter lucro. “Uma proporção significativa dos conteúdos que analisamos foi publicada ou criada por sites que publicam artigos negativos ou desinformativos sobre vacinas junto com links para curas milagrosas”, diz o levantamento.
O estudo também constatou que grande parte do conteúdo foi produzido originalmente nos Estados Unidos e republicado por contas brasileiras.
Desinformação pode ser corrigida
Como conclusão, os pesquisadores estabelecem algumas recomendações para plataformas de mídias sociais e autoridades brasileiras, frisando que devem trabalhar juntas para “conter a epidemia de desinformação no Brasil”.
Entre essas recomendações, eles destacam que somente as plataformas de mídias sociais sabem quem teve acesso a quais informações imprecisas, portanto apenas elas podem dizer às pessoas que foram vítimas de desinformação antivacina, corrigindo esse erro – essa estratégia é chamada de correcting the record.
“Se cerca de metade da população, ou 48%, está sendo informada sobre a própria saúde e a saúde de entes queridos por meio das redes sociais e dos aplicativos de mensagens, as regras que se aplicam a esses ambientes virtuais influenciam a vida real e a saúde pública e são importantes para o bem-estar comum”, afirmam.
Pensando nisso, orientam o desenvolvimento de campanhas focadas em redes sociais. Além disso, sugerem a criação de uma lei que garanta que usuários de redes sociais recebam correções da desinformação antivacinação a que foram expostos.
“Que mitigue a disseminação de conteúdos verificados como desinformação ao mesmo tempo em que proteja a liberdade de expressão e não criminalize o usuário comum que involuntariamente dissemina um conteúdo falso ou desinformativo ou que foi induzido ao erro”, finaliza.
R7