O mês de setembro destaca-se por abordar diversas campanhas relacionadas à saúde, dentre elas está um assunto de grande importância para o público feminino – os tumores ginecológicos. O câncer de ovário é um dos mais desafiadores pela sua natureza e forma silenciosa como se apresenta. É o sétimo tipo de tumor que mais aparece nas mulheres, sobretudo a partir dos 50 anos de idade. Para o ano de 2020, estima-se o aparecimento de 6.650 novos casos no Brasil. Como não apresenta sintomas nos estágios iniciais, o diagnóstico costuma ser tardio – cerca de 75% dos casos têm o diagnóstico quando a doença já está avançada, o que explica o fato do tratamento ser composto, via de regra, por cirurgia e quimioterapia.
De acordo com o cirurgião oncológico André Bouzas, diretor do núcleo de cirurgia oncológica do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR), “diferente do câncer de mama ou do câncer de colo de útero, não existe exame de rastreamento eficaz que consiga identificar o câncer de ovário em um momento inicial. Como em geral os sintomas são inespecíficos, a maioria das pacientes acaba sendo diagnosticada quando a doença já está mais avançada, o que inevitavelmente nos conduz a uma combinação de cirurgia e quimioterapia”, resume.
Ainda segundo o cirurgião, o procedimento básico de diagnóstico do câncer de ovário é a cirurgia com remoção da lesão principal ou algum implante, que pode ser realizada por via laparoscópica. Após o diagnóstico confirmado, para o estadiamento e tratamento completo dessa doença, se faz necessária a remoção dos dois ovários e trompas, útero, gânglios linfáticos e do omento (tecido gorduroso que recobre uma parte do intestino grosso), habitualmente realizada por via aberta, mas nos estágios iniciais pode ser realizada também pela via minimamente invasiva.
“Muitos centros de referência que vinham usando a laparoscopia nesses casos, com o advento da cirurgia robótica, começaram também a realizar a cirurgia por essa via. A cirurgia robótica traz vantagens como menor sangramento, menos dor no pós-operatório e recuperação mais rápida da paciente, além de proporcionar ao médico uma visão tridimensional do campo operatório, o que traz maior precisão dos movimentos e menores taxas de conversão para a via aberta”, detalha o especialista.
Contudo, nos casos de doença mais avançada, pode ser necessária a retirada dos implantes peritoneais e de outros órgãos, como segmentos do intestino. É a chamada citorredução, cujo objetivo é que no final da cirurgia não haja doença visível. E, para combater resquícios “invisíveis” da doença, na maioria dos casos, a paciente também faz quimioterapia.
Sobre a doença – Os ovários são órgãos produtores de hormônios e responsáveis pela ovulação. Após a menopausa, eles costumam atrofiar. Portanto, quando se identifica um nódulo ou uma massa no ovário dessas pacientes, uma investigação se faz necessária, pela suspeita de um câncer de ovário. O que pode detectar essa alteração é o ultrassom abdominal ou pélvico/transvaginal, mas a ressonância magnética é mais específica fornecendo mais detalhes sobre essa alteração. Alguns exames de sangue como o CA 125 podem sugerir a presença de um tumor de ovário maligno. “O diagnóstico só é confirmado com a retirada do tumor ou de uma parte dele e de sua análise pelo médico patologista”, explica André Bouzas.
O especialista acrescenta que o tumor de ovário tem uma característica muito peculiar, que é a disseminação pelo peritônio, película que recobre os órgãos e a parede abdominal internamente. “Durante a cirurgia, esses implantes são também removidos”, detalha. A quimioterapia é indicada na maioria dos casos de câncer de ovário. Pode ser de caráter adjuvante, ou seja, evitando que o tumor volte após uma cirurgia, ou com o intuito de reduzir a doença, quando está em estágios mais avançados, aumentando a chance de uma cirurgia completa.
Vale destacar que cistos simples no ovário não costumam ter nenhuma relação com câncer de ovário. Cistos são pequenas bolsas que contêm líquido, nem sempre causam sintomas e na maioria das vezes fazem parte da ovulação e desaparecem sozinhos. No entanto, quando são grandes ou têm características suspeitas, exigem cirurgia para esclarecer a dúvida.