Os cânceres ginecológicos costumam atingir a população feminina com ou sem predisposição genética. Em virtude dessa realidade, o Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) criou o Setembro em Flor – campanha com foco na conscientização sobre os sintomas, formas de prevenção, descoberta precoce e meios de tratamento contra tumores no colo do útero, ovário, endométrio (camada mais interna do útero), vagina e vulva.
Segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), até 2025, mais de 90 mil mulheres serão diagnosticadas com algum subtipo. Cerca de 32,1 mil novos casos anuais já correspondem a neoplasias malignas que afetam principalmente três áreas do sistema reprodutor: ovários, endométrio e colo do útero. Isso representa 13,2% de todas as ocorrências de câncer entre as brasileiras. Na Bahia, para este ano, espera-se 1.160 novos casos da doença no colo do útero. O estado se mantém na primeira colocação do Nordeste em número de episódios do chamado câncer cervical.
Coordenador médico do Hospital Integrado do Câncer (HIC) do Hospital Mater Dei Salvador, Cleydson Santos destaca que mais de 99% das ocorrências que envolvem o colo do útero estão associadas ao papilomavírus humano (HPV), transmitido em relações sexuais sem proteção. “O papilomavírus pode infectar as mucosas oral, genital e anal. Ou seja, todas as regiões que têm contato sexual. Por conta disso, também é o principal fator de risco para o câncer de vagina e vulva”, afirma.
O especialista ainda ressalta que, além do histórico familiar e uso de hormônios sem orientação médica, a obesidade é uma das maiores causas do surgimento da neoplasia no endométrio. Por outro lado, o câncer de ovário não apresenta motivações claras, mas existem algumas mutações genéticas que justificam. Uma delas é nos genes BRCA1 e BRCA2, que aumenta a probabilidade de tumores nas duas glândulas reprodutivas, mamas e em outros locais.
Como identificar?
O coordenador do HIC explica que os sintomas variam de acordo com os subtipos, contudo o sangramento uterino anormal é indício comum no câncer cervical e na camada mais interna do útero. Nas neoplasias da vulva, feridas ou nódulos que não cicatrizam são os sinais de alerta. Já nos ovários, a doença considerada grave e silenciosa normalmente aparece através de sintomas como dor pélvica e aumento do volume do abdômen, devido à produção excessiva de líquido na barriga.
Quanto à realização de exames de rastreamento, o Papanicolau é um dos indicados. “O propósito do conhecido preventivo não é só encontrar lesões em fases iniciais ou avançadas, mas também as pré-malignas, evitando assim a evolução dos quadros. O fato de auxiliar na detecção precoce ainda leva a tratamentos menos invasivos”, frisa Cleydson.
Conforme recomendação médica, pelo menos uma vez ao ano, toda mulher a partir de 25 anos que já começou a vida sexual precisa fazer o Papanicolau. Por esse motivo, o especialista reforça: “é importante vencer os tabus que cercam a ida ao ginecologista. Se não for possível o acompanhamento na adolescência, quando certas características sexuais estão em desenvolvimento, que aconteça logo após o início da prática sexual. Quanto mais cedo o rastreamento através do toque vaginal e avaliações internas, maiores serão as chances de cura do câncer de colo e demais”.
Cuidados que ajudam na prevenção
Independentemente de mutações genéticas, fatores hereditários ou histórico familiar, existem medidas que são aliadas na prevenção dos cânceres ginecológicos.
“No câncer de endométrio, o ideal é cuidar dos atos de vida, como praticar exercícios físicos, priorizar uma alimentação rica em frutas e vitaminas e estar sempre com a rotina ginecológica em dia, especialmente depois da menopausa”, lembra Santos. “Para tumores nos ovários, infelizmente não temos medidas específicas de prevenção, a não ser as habituais que servem para os outros subtipos da doença”, acrescenta.
Em relação ao câncer de colo, o uso de preservativos durante as relações sexuais e vacinação contra o HPV são os grandes meios de controle. Desde 2014, o Programa Nacional de Imunização (PNI) disponibiliza doses para meninas e meninos de 9 a 14 anos, pessoas de até 45 anos que são imunossuprimidas e vítimas de violência sexual. Fora a parte cervical, a vacina ajuda a prevenir neoplasias na vagina, vulva, pênis, ânus e orofaringe.
Formas de tratamento
As abordagens terapêuticas dependem do subtipo, estágio da doença e condição clínica da mulher. Com atuação de uma equipe multidisciplinar, geralmente são traçadas estratégias que incluem quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, cirurgia ou técnicas combinadas. Os testes genéticos também se tornaram ferramentas indispensáveis na definição dos tratamentos.
“O HIC tem à disposição toda a linha de cuidado, desde consultas para o rastreamento até aconselhamento genético aos familiares das pacientes. Alinhado a outros profissionais, as análises do oncogeneticista permitem a elaboração de planos de prevenção personalizados, uma vez que trabalham na identificação de alterações genéticas hereditárias”, finaliza Cleydson Santos.