Educação sexual ainda é tabu na sociedade, mas tratar do assunto com seriedade é fundamental para proteger os jovens de doenças, gravidez precoce e abusos
Falar sobre sexualidade, principalmente com crianças e adolescentes, ainda é considerado um tabu para muitas famílias. Mas existe uma idade ou momento certo para dialogar sobre sexo com este público? Como os pais e responsáveis podem ter uma conversa saudável, sem constranger, envergonhar ou afastar o filho? De acordo com a psicóloga do Sistema Hapvida, Marta Érica Souza, não existe uma fase nem uma fala ideal para iniciar essa conversa. Ela explica que, a partir do momento em que a criança começa a acessar o mundo exterior sozinha, deve ser ensinada sobre as partes do seu corpo que podem ou não ser tocadas por outra pessoa. “Falar sobre sexualidade não significa falar sobre sexo, mas ensinar à criança e ao adolescente que existem limites que precisam ser respeitados. É de extrema importância que as famílias recorram a essa orientação para evitar que esses jovens recebam informações inadequadas ou sejam vítimas de abuso”, afirma.
Ela lembra que, entre os adolescentes, a ausência de informação contribui para a alta taxa de transmissão do HIV e de outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), além da gravidez precoce. “Caso a família não saiba ou não fique à vontade para conduzir o assunto, o melhor a fazer é buscar ajuda de um profissional de saúde, como um psicólogo ou assistente social, por exemplo, que estão preparados para ajudá-los a viver essa etapa de forma mais tranquila”, orienta, reforçando que conversar sobre educação sexual durante a infância não significa estimular o desenvolvimento precoce. “Infelizmente, existe o mito de que falar sobre educação sexual na escola, por exemplo, é ter um professor ensinando como usar preservativo ou explicando como evitar DSTs e gravidez precoce, mas não é essa a abordagem. É importante que as famílias, pais e responsáveis entendam que tal conversa é importante para que esses indivíduos recebam informações sobre o seu corpo”, diz.
E como lidar com a orientação sexual dos filhos? Segundo a especialista, quem é pai ou mãe hoje teve pouco ou quase nenhum acesso à educação sexual e descobriu a sexualidade durante o seu desenvolvimento, com alto índice de adolescentes grávidas e de jovens que contraíram DSTs. Há também aqueles jovens que sofreram abusos, só se deram conta tempos depois, já mais maduros e não puderam conversar abertamente com ninguém. “Existem adolescentes que têm muito medo e vergonha de falar sobre isso com seus pais, por isso é importante encontrar um meio de melhorar essa comunicação, com honestidade e livrando-se de tabus e segredos tão recorrentes na sociedade. O início da vida sexual pode ser com um beijo, uma descoberta, e pode acontecer com uma pessoa do mesmo sexo também, por isso é tão importante buscar o diálogo, amparar, entender, perguntar antes de julgar e acusar a criança ou o adolescente”, sugere, destacando que essa fase é muito importante não somente para o desenvolvimento deles, mas para o convívio em grupo e o respeito às diferenças.
Sexualidade na era digital
Mas há ainda o impacto da tecnologia na descoberta da sexualidade e a angústia e tentativa dos pais em controlar esse excesso de informação. Quando as dúvidas sobre esse assunto não são esclarecidas, essa criança ou adolescente vai buscar respostas na internet, pelo celular, o que antes também acontecia por meio de revistas. “Se esses jovens são bem orientados, vão saber o que é adequado pesquisar em cada idade, mas, se não têm essa abertura com seus pais ou responsáveis, buscarão outros meios de tirar suas dúvidas e isso é que preocupa e pode fugir do controle”, pontua.
Diálogo na prevenção dos abusos
Por último, ela esclarece que pais que conversam sobre sexualidade dentro de casa protegem seus filhos da desinformação e dos abusos. E ainda que estes últimos lamentavelmente aconteçam, podem ser descobertos e denunciados imediatamente sem que haja medo, vergonha ou culpa. “Vivemos em uma sociedade cada vez mais desinformada sobre sexualidade devido ao entendimento equivocado relacionado à educação sexual. Minha recomendação é que a conversa seja levada para dentro de casa, mesmo que os filhos e os pais fiquem envergonhados. É importante que os filhos sejam ouvidos e conheçam seus limites”.