O censo ainda confirma alerta dado por muitos especialistas em saúde pública: a dependência química não é a única doença enfrentada pelos usuários. Segundo a pesquisa, uma a cada cinco pessoas da Cracolândia já contraiu sífilis. Tuberculose, hepatite e aids são outras doenças associadas a muitos. Outro dado aponta que 60,6% dos dependentes já trocaram dinheiro por sexo – e, segundo especialistas, a relação sexual é uma das principais maneiras de transmitir as doenças registradas entre os moradores e frequentadores da área. Outros 31% já tentaram se matar.
“Até hoje a gente trata o crack como se ele fosse um problema de polícia. Não, é problema de saúde pública. A sífilis é mais grave que o vírus zika”, afirma o professor da Faculdade de Saúde Pública da USP Gonzalo Vecina. “A mulher que a contrai terá filhos com sífilis congênita, doença que compromete todo o desenvolvimento do bebê. É muito grave isso, pois estamos falando de uma doença que tem diagnóstico e tratamento baratos.”
Para Vecina, os dados revelados não surpreendem. “Os drogaditos, geralmente, têm baixa imunidade e vivem em condições adversas de vida, o que pode levar, sim, a quadros de tuberculose, por exemplo”, diz, referindo-se à taxa de 12,4% levantada pelo censo. De acordo com o professor, a pesquisa é importante porque mostra claramente os outros riscos a que são submetidos os dependentes, e sem que o Estado atente para isso.
Redenção. O secretário municipal da Saúde, Wilson Pollara, afirma que o futuro programa municipal de combate ao crack vai dividir os dependentes da Cracolândia de acordo com suas características físicas e mentais, a fim de personalizar o atendimento médico dedicado a eles. “Vamos ter classificação específica, que vai nos ajudar na condução das políticas. Cada um precisa ser avaliado individualmente.”
uol