O problema é recorrente: a mulher realiza uma cirurgia para a colocação de próteses mamárias, passam-se oito, dez ou mesmo 15 anos e, na hora de substituir os implantes, ela não consegue dizer ao cirurgião a procedência do silicone que usa ou mesmo a data exata em que foi operada. “Hoje em dia, esses dados ficam restritos a uma carteirinha entregue à paciente, mas esse documento frequentemente se perde ou fica ilegível pela ação do tempo”, afirma o cirurgião plástico Alexandre Munhoz, responsável pelo Centro de Referência em Cirurgia Mamária do Hospital Moriah, da capital paulista, e professor livre-docente da USP (Universidade de São Paulo).
Um novo recurso para driblar esse tipo de transtorno chegou recentemente ao Brasil. Trata-se de um implante inteligente com chip, conforme explica o especialista. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou em março uma nova tecnologia para as próteses mamárias.
— É um microchip de 4 mm que fica dentro da prótese e permite a rastreabilidade de várias informações. Ele guarda dados como o número de série do implante, a data da fabricação, lote, tamanho, volume e modelo, além do dia em que foi colocado na paciente. Já é usado em países como Inglaterra, Itália, França, Japão e Austrália. Na América do Sul, é utilizado também na Argentina.
Depois da cirurgia, as informações são acessadas por meio de radiofrequência, com um leitor externo. É só aproximá-lo da mama da paciente e os dados aparecem em uma tela no próprio aparelho. “Com esse avanço, o cirurgião consegue ter um maior controle do caso e se planejar na hora de realizar a operação para renovar a prótese, mesmo 20 anos depois da colocação do primeiro silicone”, diz o médico. Munhoz ainda aponta que, como essa tecnologia ainda é pioneira, é provável que nos próximos anos outros dados sejam incorporados aos microchips.
— Há pesquisas em andamento com chips que fornecem informações como temperatura, pressão interna do implante e alterações químicas referentes ao silicone. Vai ser possível saber, por exemplo, se a prótese está íntegra ou rompida.
A secretária Patrícia Macedo, de 30 anos, é uma das primeiras pacientes que vai fazer uso da tecnologia no Brasil. A cirurgia dela — que pretende implantar 200 ml de silicone em cada uma das mamas — está marcada para o mês de junho. Ao R7, ela conta que, a princípio, se sentiu apreensiva quando foi apresentada à novidade por seu cirurgião.
— Estranhei, porque não conhecia a técnica. Depois fui pesquisar, conversei bastante, tirei todas as minhas dúvidas e fiquei mais tranquila. Só fato de saber que posso visitar um médico diferente daqui um tempo e ter informações sobre a prótese com rapidez já me deixa bem mais tranquila.
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Outra novidade aproveitada por Patrícia foi o scanner de avaliação e projeção das mamas, que permite às pacientes, antes da operação, terem uma ideia de como o corpo vai ficar após a cirurgia. O aparelho, segundo Munhoz, funciona como uma impressora 3D.
— Ele gera uma imagem tridimensional da pessoa. Essa imagem é digitalizada e, no computador, conseguimos fazer uma simulação da prótese e girar a figura da mulher em todas as posições desejadas. Dá pra fazer um melhor planejamento da cirurgia e calcular medidas importantes, como área, volume e posicionamento do implante antes da operação.
Embora ainda não tenha visto os resultados de seu exame de projeção, Patrícia acredita que ter feito a avaliação pode livrá-la de alguns transtornos: “Conheço casos de mulheres que exageraram no tamanho. Tem ainda a história de uma colega minha, que viu o resultado e percebeu que queria ter colocado um pouco mais. Eu não vou passar por isso”, ri.
O cirurgião-plástico ressalta ainda que, além de oferecer maior bem-estar às pacientes, a tecnologia deve contribuir para a melhora das pesquisas médicas.
— Se você refizer a imagem tridimensional da mulher um tempo após a cirurgia, vai conseguir avaliar melhor os resultados no pós-operatório. Em casos mais complexos, como os de reconstrução mamária, vai ser possível analisar o posicionamento das mamas antes da operação, um mês após a colocação da prótese e mesmo dois ou três anos depois disso. A longo prazo, os médicos conseguirão identificar pacientes que vão bem com um tipo de prótese ou outro, ou reagem melhor a um tipo de procedimento ou outro.
R7