Um estudo realizado pela Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo) constatou que 84% dos pacientes atendidos nas Unidades Básicas de Saúde do Estado de São Paulo estavam com o colesterol elevado, fator de risco para a covid-19.
A pesquisa, que coletou dados de mais de 9 mil pacientes, também mostrou que nenhuma das pessoas participantes tinham os três fatores de risco cardiovascular controlado: colesterol, hipertensão e diabetes. Além disso, dados da Socesp mostram que o colesterol alto atinge 40% da população adulta brasileira.
A cardiologista Viviane Rocha, assessora científica da Socesp e especialista em colesterol, explica que os indivíduos de maior risco para a covid-19 são aqueles que, além de possuírem o colesterol fora das metas ideais, possuem risco cardiovascular alto.
“Quem tem diabetes, hipertensão, fuma, tem doença coronária, já teve evento cardiovascular ou tem colesterol alto com grande frequência também tem maior risco para a covid-19″, afirma.
Ela explica que o Sars-Cov-2 causa uma inflamação no endotélio, parede que reveste os vasos sanguíneos. “É ele que garante todo o equilíbrio de coagulação do sangue, que mantém o sangue fluido.”
A inflamação desse tecido, junto com a inflamação generalizada causada pela covid-19 e a morte de algumas células do endotélio, promove a coagulação excessiva do sangue e aumenta o risco de eventos trombóticos.
A pessoa que possui placas de gordura por conta do colesterol aumentado tem maior chance de ter um evento desse tipo. “Se acontecer na região cardiovascular, pode acarretar um infarto ou uma angina [redução do fluxo sanguíneo para o coração], se for no cérebro, pode acarretar um AVC e, se for nas pernas, vai causar doenças vasculares periféricas.”
Uma outra maneira que o novo coronavírus pode afetar o sistema cardiovascular é por meio de miocardite, inflamação de uma camada da parede do coração. “Se é um indivíduo que já tem o sistema cardiovascular fragilizado, a chance de ter um problema como esses e com desfechos piores é maior.”
A médica explica que já se sabia que uma infecção poderia aumentar o risco cardiovascular do paciente. “A vacina contra influenza, por exemplo, é importante para diminuir a quantidade de infartos.”
O principal remédio indicado para pessoas com colesterol elevado, a estatina, pode auxiliar os pacientes da covid-19, porém, não é uma medicação indicada para todos os casos. Viviane afirma que pacientes que já tomam a medicação podem continuar tomando e até mudar a dose conforme o caso.
“Não existe nenhum trabalho que comprove que a estatina diminui a infecção pelo coronavírus ou sua gravidade. Mas algumas informações nos fazem pensar que talvez ela seja útil. Isso por que ela diminui o risco de doenças cardiovasculares e a covid-19 pode aumentar a chance de infartos correlatos.”
Ela explica que os pacientes de covid-19 que já tomam estatinas não devem parar a medicação sem recomendação médica, pois é uma medicação importante para que o risco cardiovascular seja controlado. “Em casos muito graves, o médico vai avaliar, se houver insuficiência renal ele pode diminuir ou suspender a droga.”
“Iniciar a estatina não é algo que sabemos ainda se é benéfico, mas com certeza é passível de investigação.”
A cardiologista Maria Cristina Izar, diretora de Promoção e Pesquisa da Socesp, explica que as estatinas possuem a ação que protege a parede vascular e modulam a inflamação, o que reduziria o risco de trombose.
Maria acrescenta que “o uso combinado de estatinas e de medicamentos normalmente prescritos para controle da pressão arterial não promove aumento do risco de mortalidade em pacientes com covid-19 e hipertensão, como já comprovado cientificamente”.
De acordo com a especialista, um estudo retrospectivo feito na China, com 13.981 indivíduos infectados pelo novo coronavírus, demonstrou que, na fase hospitalar, a terapêutica com estatinas esteve associada ao menor risco de morte por todas as causas.
R7