Domingo é o dia da semana em que mais se registram mortes provocadas por acidentes de trânsito no Estado de São Paulo e na capital paulista. Os dados são do Infosiga (Movimento Paulista de Segurança no Trânsito) e levam em conta os últimos três anos.
Em 2015, foram registradas 1.196 mortes aos domingos no Estado. Em 2016, houve queda, mas 1.063 brasileiros morreram em decorrência de acidentes aos domingos. Em 2017, ocorreram outros 1.069 óbitos nas mesmas condições.
Já o trânsito exclusivamente da cidade de São Paulo matou 224 aos domingos em 2015, 176 nos domingos de 2016 e outras 166 pessoas no principal dia de descanso semanal em 2017. O período analisado é de janeiro a novembro de cada ano.
“Notamos que os acidentes fatais se concentram nos fins de semana e comportamentos de risco como beber e dirigir e excesso de velocidade são mais acentuados nesse período, causando um número maior de mortes”, informa a coordenadora do Infosiga, Silvia Lisboa.
O especialista em comportamento de trânsito Eduardo Biavati concorda com Silvia. “Provavelmente porque de manhã é saída de pessoas, geralmente alcoolizadas, de casas noturnas. E no período vespertino que é retorno de reuniões familiares e/ou amigos”, diz.
O professor de psicologia de trânsito da UnB (Universidade de Brasília) Hartmut Gunther acrescenta que há “uma parcela que não utiliza o carro durante a semana e, aos domingos, usam o veículo”.
“Vão a compromissos e estão a mercê de possíveis acidentes”, completa o especialista.
O torneiro mecânico Marcos Gonçalves Oliveira, de 31 anos, se encaixou nas estatísticas do Infosiga. Oliveira trabalhava em uma empresa em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, e, para complementar a renda, também exercia a função de motoboy em uma pizzaria.
No último domingo (17), Oliveira e o primo dele, Francisco Leonardo de Souza, de 29 anos, trabalhavam como entregadores de pizza. “O expediente terminou meia-noite e fomos para a confraternização entre funcionários”, conta. Souza foi embora do local cerca de 4h30 depois. No caminho de volta à casa, se deparou com a moto do primo jogada na rodovia Anchieta. Parou para ver o que tinha acontecido. “Fui conversar com o policial e ele tinha me dito que meu primo morreu no local, nem chegou a ser socorrido”, diz Souza.
De acordo com informações do boletim de ocorrência, Oliveira perdeu o controle e caiu da motocicleta na altura do km 20. Nesse momento, ele ainda foi atropelado por um carro. Não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
Solução
Para diminuir os índices de mortes por acidentes, Biavati usou o exemplo do governo australiano, que adotou uma “medida interessante”. Segundo o especialista, o órgão competente realizou uma pesquisa para saber quais são as horas em que as pessoas mais consomem álcool. A partir daí, reajustaram as esquipes e colocaram reforços nas vias nesses horários.
“A fiscalização ainda é muito fraca para poder cobrir os períodos de maior vulnerabilidade no trânsito”, afirma.
O exemplo das autoridades australianas pode funcionar no Brasil, mas a mudança não é tão simples. “Os órgãos competentes não têm número grande de agentes disponíveis, as polícias não têm a quantidade necessária de viaturas e precisam também de caixa para fazer pagamento”, acrescenta.
O professor confessa que é inadmissível um motorista dirigir alcoolizado, “causar um acidente e, dentro de 24h, já estar em casa livre”. Para ele, a solução é tratar o carro como uma arma em potencial e o motorista como um suspeito.
Gunther diz que, se um condutor matar alguém em um acidente de trânsito, ele deve ir para a prisão. “As punições têm de ser mais drásticas, porque só assim as pessoas vão perceber o quão real é e vão redobrar a atenção”, afirma.
O especialista acredita que os indicadores não colocam em xeque a fiscalização feita pelos órgãos competentes. “Os dados mostram avanços feitos pela Lei Seca, por exemplo. Trouxeram resultados concretos, mas não é suficiente para uma mudança de comportamento”, reconhece. “Não adianta realizar cinco operações por semana. Precisa colocar em prática um número maior de ações para mostrar ao motorista que aquilo é real e ele tem que andar na linha”.
Queda
O Infosiga aponta queda no número de mortes causadas pelo trânsito em geral. Em 2015, no Estado de São Paulo, 5.572 óbitos foram registrados. Em 2016, 5.215 e, no ano seguinte, 5.110. O recuo é percebida nos números para a capital paulista: 1.030 pessoas morreram em 2015. No ano seguinte 864 e, em 2017, 802.
Para o professor Gunther, a queda não é significativa. “Cada morte a menos é, obviamente, um motivo para comemorar. Mas tem um aumento da população, aumento da frota de veículos, aumento do tráfego em rodovias, então essa diminuição não é tão considerável”, afirma.
De acordo com o Detran-SP, a frota de automóveis na capital paulista aumentou de 8.109.351, em 2015, para 8.550.441 em 2017. Em relação aos veículos do Estado, o acréscimo também é visível: de 27.433.548 para 28.949.307 em 2017. Os números são referentes ao mês de setembro de cada ano citado.
Lei Seca
Dirigir com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a seis decigramas é crime, sujeito à detenção, determinou o Supremo Tribunal Federal em 2011. Desde então, o governo sanciona leis cada vez mais rígidas, como na última quarta-feira (20). O presidente Michel Temer (PMDB) aprovou o projeto de lei que torna mais rígida a Lei Seca. A norma deve entrar em vigor em abril do ano que vem.
O aumento do tempo de prisão para motoristas embriagados ou sob o efeito de drogas que cometerem homicídio culposo (sem intenção de matar) é uma das alterações. Segundo o texto, a pena passa para reclusão de cinco a oito anos. A nova lei prevê também que a pena deve ser baseada nas circunstâncias e consequências do crime. Ou seja, o número de mortes e a conduta do motorista serão agravantes na decisão do juiz sobre a pena.
R7