Das cinco chacinas que aconteceram no Estado de São Paulo neste ano, pelo menos três têm suspeita de envolvimento de policiais ou guardas municipais. Ao todo, 19 pessoas morreram nos casos, que aconteceram em Guarulhos, Embu das Artes, São Matheus, Mogi das Cruzes e Itaquaquecetuba. As informações são da ouvidoria da Polícia Militar de São Paulo.
Três desses casos tiveram uma dinâmica muito parecida: suspeitos passaram de carro em frente a bares e atiraram contra frequentadores.
Segundo o ouvidor Julio Cesar Fernandes Neves, as características de execução são claras. Ele diz que o que preocupa a ouvidoria é que esses casos dificilmente chegam a ser solucionados.
— Fica como autoria desconhecida. Por que esses casos nunca são elucidados com clareza? A ouvidoria tem demonstrado a nossa ansiedade de que [os casos] sejam investigados com profundidade.
Os casos
Em janeiro deste ano, quatro jovens com idades entre 19 e 28 anos foram assassinados em um bar de Guarulhos, na Grande São Paulo. Um veículo passou em frente ao local por volta da 0h30 e, de dentro do carro, saíram os disparos. Testemunhas disseram, na época dos crimes, que três homens foram os responsáveis pelas mortes. A Polícia Civil investiga se a chacina está relacionada com a morte de um policial militar em dezembro do ano passado.
Em agosto deste ano, três pessoas morreram em uma chacina em Embu das Artes, na Grande São Paulo. Ocupantes de um carro atiraram contra pessoas que estavam em um bar próximo à favela do Jardim Vista Alegre. Testemunhas disseram, na época, que os três conversavam em uma roda quando três homens começaram a atirar. As vítimas tinham entre 18 e 19 anos.
Em setembro, três suspeitos morreram durante um tiroteio depois de roubar um carro em São Matheus, na zona leste de São Paulo. Policiais da Rota abordaram os suspeitos e foram mortos a tiros por eles. Nenhum policial ficou ferido no tiroteio que aconteceu próximo de onde um cabo da PM foi baleado e morto dias antes. Um dos meninos tinha 19 anos, os outros dois não tiveram suas idades divulgadas.
De acordo com Neves, “com certeza os policiais vão falar que revidaram”, mas que é preciso investigar se realmente houve uma troca de tiros para saber se os policiais agiram em legítima defesa.
— A gente prega que os policiais militares venham a exercer o método Giraldi, que prega o uso progressivo da força. Só poderia atirar se houvesse mesmo um tiroteio.
Segundo ele, “muitas mortes deixarão de ocorrer, inclusive a de policiais” se o método for colocado realmente em prática durante o cotidiano das autoridades policiais.
Em outubro, cinco pessoas desapareceram e depois foram encontradas mortas em uma cova rasa em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Quatro jovens amigos e um motorista seguiam para uma suposta festa quando, segundo o áudio de uma das vítimas, foram abordados pela polícia. Os jovens tinham idades entre 16 e 19 anos e o motorista tinha 30 anos. De acordo com o DHPP, a chacina teria acontecido para vingar a morte de um guarda civil que foi assassinado a tiros em Santo André, em setembro.
O ouvidor da polícia diz que houve uma cobrança para que esse caso seja esclarecido. Segundo ele, a ouvidoria espera que seja feita “uma investigação profunda”.
— A Secretaria [de Segurança Pública] nega a participação de policiais e a gente cobra a transparência. A gente tem que cobrar o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), que fica encarregado da elucidação desse caso.
Em novembro, quatro pessoas morreram e uma ficou ferida após serem baleadas em frente a um bar, em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. Era madrugada e as vítimas estavam em frente ao estabelecimento quando um carro com cerca de três suspeitos parou em frente ao local e os homens atiraram. A motivação do crime permanece desconhecida.
Governo
Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que os “três casos citados pela reportagem são investigados pela Delegacia Seccional de Guarulhos, DHPP e Delegacia de Mogi das Cruzes, respectivamente, e acompanhados pela Corregedoria da Polícia Militar que, até o momento, não confirmou a participação de policiais militares nos casos”.
Ainda em nota, a pasta diz que “os homicídios múltiplos ocorridos em agosto em Embu das Artes e em novembro em Itaquaquecetuba seguem em investigação pelo Setor de Homicídios de Mogi das Cruzes e pela Delegacia de Embu das Artes. Os inquéritos estão em andamento e a polícia trabalha para identificar os suspeitos dos crimes”.
A SSP também ressaltou “que o caso ocorrido em Mogi das Cruzes, em outubro, encontra-se em segredo de justiça, de acordo com o decreto do Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal de Mogi”.
R7