O Ministério da Saúde prevê distribuir mais de um milhão de testes para o novo coronavírus, ao longo desta semana. A testagem, no entanto, será focada, apenas, em profissionais da saúde e da segurança que tenham sintomas de síndrome gripal.
Segundo o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, não existe capacidade para fazer testes em massa na população, pois o mercado não tem como abastecer a demanda mundial. Até o dia 7 de abril, foram realizados 62.985 testes.
Contudo, entre os 15 maiores países do mundo, o Brasil é o que tem a menor testagem, de acordo com Alessandro dos Santos Farias, professor do Instituto de Biologia e Coordenador da Frente de Diagnóstico da Força-Tarefa de enfrentamento ao novo coronavírus da Unicamp.
Os registros oficiais de covid-19 no Brasil representam, apenas, 8% do número real de casos, de acordo com projeção do Nois (Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde), da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro).
A estimativa aponta para mais de 235 mil casos até sexta-feira (10), quantidade 12 vezes maior do que a contabilizada pelo governo federal: 20.727.
De acordo com o especialista, o número de mortos por covid-19 também está subestimado porque muitos pacientes que eram casos suspeitos morreram sem ter o resultado de seus testes.
Ele ressalta que é preciso ter cautela ao usar o termo “teste rápido”, pois a rapidez depende do tamanho da população que vai ser testada e do maquinário disponível para realizar os testes. Apesar disso, reconhece que o resultado precisa ser dado no menor intervalo de tempo possível.
“O resultado precisa ser rápido para que os profissionais possam tomar decisões clínicas. Se eu der o resultado em 15 dias, a pessoa pode estar curada ou morta. Na Unicamp a meta é dar em 48 horas”, observa.
O professor destaca que fazer testes em massa é essencial, não só do ponto de vista epidemiológico – para saber o número e a distribuição dos casos -, mas também para adotar ações de combate ao novo coronavírus.
“Se a gente testa em massa, tem o real valor do crescimento diário de casos. Mas não só isso, a testagem em massa é o fundamento de tudo o que se faz. Ela é essencial para encontrar todas as soluções, menos uma vacina”, enfatiza.
“Não adianta testar só quem chega no hospital porque os assintomáticos são os que serão sintomáticos e, uma parte destes, vai ser internada nas próximas semanas. Não testar leva a fazer todas as coisas em cima da hora”, pondera.
Farias usa a hipótese de aplicação de testes em massa em moradores de um determinado bairro para exemplificar como esse ato seria eficaz na assistência a futuros pacientes em tratamento contra a covid-19.
“Se você sabe que ali tem bastante gente que é assintomática, mas testou positivo, sabe, também, que 20% dessas pessoas vão ter sintomas em até 14 dias, então já desloca, antecipadamente, profissionais e EPI (equipamentos de proteção individual) para aquela UBS”, afirma.
Ele acrescenta que, com essas informações, também é possível manejar leitos de UTI (unidade de terapia intensiva), pois quem não tem o coronavírus, também, não precisará desse tipo de tratamento.
Fazer testes em massas também pode reforçar o isolamento social e saber em que momento seria possível afrouxá-lo. O professor da Unicamp diz que a testagem aproximaria o cenário de disseminação do vírus da realidade das pessoas.
Se elas têm a certeza de que estão contaminadas, o isolamento deixa de ser uma opção adotada por uma questão de consciência social e se torna uma exigência para proteger familiares e pessoas queridas
“O isolamento caiu porque ninguém aguenta [ficar o tempo todo em casa]. Mas se você tem pessoas assintomáticas que recebem o resultado do teste e ele é positivo, a realidade bate na porta”, analisa.
Ele opina que nessas situações as redes sociais seriam uma ferramenta para reforçar a importância do isolamento social. “Um começaria a contar para o outro que testou positivo e alertar para que fiquem em casa”.
O professor acrescenta que outra possibilidade seria administrar a abertura de alguns comércios. “Seria possível manejar isso se testasse todo mundo. Mas é preciso ter certeza de que uma pessoa não pode mais infectar a outra e para isso é preciso saber quem já teve a doença e quem já se curou”, pondera.
Segundo Farias, a testagem em massa é viável no Brasil, mas depende de um planejamento específico do governo federal, inclusive porque muitos insumos usados para fabricar os testes são importados.
“Então mesmo a gente tendo dinheiro, a gente não consegue. Com um plano nacional, seria possível enviar um avião do governo federal para buscar produtos”, exemplifica.
A Unicamp faz testes internos para o novo coronavírus desde o dia primeiro de abril. Alguns insumos são produzidos na própria universidade, que vai começar, nesta semana, a lidar com a demanda de hospitais locais.
O coordenador da frente de diagnóstico acrescenta que para implementar a testagem em massa é necessário aumentar a quantidade de locais aptos a fazer o teste para o coronavírus.
“O PCR [teste de biologia molecular] é uma coisa que a gente faz todo dia aqui em laboratório. Mas nenhum país do tamanho do nosso vai ter um centro capaz de fazer tudo sozinho porque ninguém constrói uma estrutura preparada para uma pandemia”, analisa.
R7